“Não podemos imaginar que os políticos agora são freiras enclausuradas”, diz FHC

Em entrevista à BBC, ex-presidente diz que os dois mais recentes escândalos de corrupção de grandes proporções em nível federal revelam um esquema organizado que antes não existia

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – A operação Lava Jato revela um estado de corrupção organizada inédita no Brasil, que teria nascido durante o escândalo do mensalão, revelado no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva. A avaliação é do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, entrevistado pelo portal BBC Brasil. Na conversa, o líder tucano diz que os dois mais recentes escândalos de corrupção em nível federal de grandes proporções revelam um esquema organizado “para dar sustentação a partidos políticos nas eleições” e que “usa o dinheiro do governo, aumenta o valor dos contratos, certamente com cumplicidade com pessoas do governo para sustentar o poder”.

“Mas você pode dizer ‘sempre há corrupção’, e é verdade. Como ato individual, como desvio. Mas não é disso que se trata agora: depois do mensalão e do petrolão, é algo diferente. Isso é novo. Não houve no meu governo nem em nenhum governo passado. Se houve alguma corrupção no meu governo eu não sei dizer, pode ter havido. Cabe à Justiça (decidir). Mas não foi organizado. Não teve a minha aprovação. Não foi para sustentar um partido. Agora é diferente. Isso indiscutivelmente nasceu no mensalão”, afirmou o ex-presidente em matéria publicada nesta terça-feira (9).

De todo modo, FHC chamou atenção para o fato de ser inevitável a proximidade de empresas com governantes. “As grandes empresas têm um papel na vida contemporânea. Como as igrejas. Você pode ver no meu diário, toda hora estou almoçando com cardeais, jantando, conversando. Líderes sindicais… Um presidente não pode ser isolado, ele tem que ser um ser que conversa”, argumentou. “Como é que você vai governar sem ter ligação com sindicatos, igrejas, com o esporte, com, enfim, as empresas? O problema não é de ter proximidade ou não, na democracia tem que ter. O problema é de conduta. Vai conversar sobre o quê? Sobre corrupção? Vai receber um dinheiro? Não pode. Ou vai facilitar um negócio? Não pode. Então você tem que separar as coisas. “(Mas) certamente você não pode imaginar que os políticos agora são freiras enclausuradas que não falam com ninguém. Não dá”.

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Na entrevista, o ex-presidente também voltou a defender a diferenciação entre os crimes de caixa dois e corrupção, alegando que o segundo seria de gravidade maior. Fernando Henrique falou ainda sobre a fragmentação de seu partido em torno de muitos candidatos e chamou atenção para uma fragilidade do PT, que, segundo ele, estaria dependente da figura de Lula — o único com expressão nacional na legenda.

Sobre seu correligionário João Doria, o líder tucano elogiou sua estratégia de comunicação — “Ele hoje está na frente de todos que têm comunicação via rede social. Ele sabe que a linguagem é simbólica, não só racional –, mas evitou entrar em muitos detalhes em perguntas referentes à estratégia do prefeito paulistano de receber doações e firmar parcerias com empresários. Neste caso, ele respondeu: “As parcerias público-privadas são hoje admitidas como um caminho, mas acho que não foi por aí que o Doria conseguiu o maior sucesso. Foi porque ele é muito competente em falar com a população”.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.