Não há solução fácil: os cenários para (tentar) restabelecer a ordem política no Brasil

"A possibilidade de um reacerto entre PT e PMDB existe, mas não dá sinais de se esboçar. Definitivamente, por enquanto, não há lugar para otimismo acerca da situação política do país", afirma a LCA Consultores

Lara Rizério

Publicidade

SÃO PAULO – “A crise política é grave. Muito grave”. É neste ponto de partida que a LCA Consultores faz a sua análise sobre a atual situação em que se encontra a relação entre o governo brasileiro, sua base aliada (não tão aliada assim) e os partidos de oposição.

E, como ressalta a equipe, ao contrário do que acontece na economia, em que, aos trancos e barrancos e apesar de mais custosos do que previstos inicialmente os ajustes estão acontecendo, o sistema político brasileiro está se desajustando rapidamente. E o

elemento mais característico e mais preocupante desse processo de desajuste é a perda da capacidade do sistema político de encaminhar soluções para os problemas econômicos e políticos que tem de enfrentar, afirma a equipe de análise da consultoria.

Masterclass

O Poder da Renda Fixa Turbo

Aprenda na prática como aumentar o seu patrimônio com rentabilidade, simplicidade e segurança (e ainda ganhe 02 presentes do InfoMoney)

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

E a LCA destaca três grupos que compõem este cenário: o governo, o Congresso e a oposição (que podem se sobrepor). O primeiro grupo, além de impopular e comandado por uma presidente rejeitada por parcela expressiva da classe política, tornou-se, hoje, minoritário no Congresso, perdeu o controle da agenda parlamentar. “Os mecanismos jurídico-institucionais e os relacionados ao exercício do poder (distribuição de cargos e verbas) que tradicionalmente garantiam a predominância do Executivo sobre o Legislativo (ou a cooperação subordinada deste em relação àquele), elemento chave do nosso presidencialismo de coalizão, não estão funcionando”.

Já com relação ao Congresso, a LCA analisa que, além do problema estrutural da fragmentação partidária – fator propício à dispersão da capacidade de decisão e ao ataque às verbas do Tesouro –, é comandado por dois políticos agora oficialmente investigados pelo envolvimento num escândalo de proporções históricas. São eles: Eduardo Cunha, presidente da Câmara e Renan Calheiros, do Senado. “Mas ambos foram recém-eleitos para seus cargos e, tudo indica, continuam a desfrutar do apoio majoritário de seus pares”.

Por fim, a oposição, novamente derrotada pelo PT na eleição presidencial, flerta com o impeachment, apesar de contar com pouco poder de fogo no Congresso e de a tese do encurtamento do mandato da presidente não ter respaldo do conjunto da sociedade (embora esteja ganhando força nos estratos avessos ao PT), ressalta a consultoria.

Continua depois da publicidade

“Estamos, assim, diante de um impasse associado ao fato de que nenhuma das principais forças políticas do país (PT/governo, PSDB/oposição e PMDB) está com capacidade de se sobrepor às demais. E o pior: os canais de diálogo entre elas estão bloqueados. Primeiro, porque a desconfiança é generalizada. Segundo, porque a opinião pública não está disposta a sancionar negociações e pactos, previamente confundidos – não à toa, é preciso reconhecer – com tentativas de levar ao forno a pizza da impunidade e do acobertamento de desvios éticos perpetrados por agentes políticos”, afirma.

E quais seriam as possíveis saídas da crise? “Uma nova rodada de eleições gerais poderia encaminhar soluções para o impasse decisório. Mas, como o regime não é parlamentarista, não é possível antecipar os pleitos programados apenas para 2018. O impeachment tampouco é solução. A situação ainda terá de se agravar muito para que se criem condições propícias ao impeachment. Ademais, a necessidade de recorrer a uma medida tão extremada prova a fragilidade do sistema político. Por fim, retirar o PT do poder por vias não eleitorais exacerbaria o conflito político e criaria chagas futuras de difícil cicatrização, pois o petismo e os movimentos sociais a ele conectados, ao contrário do que ocorreu com Collor e o finado PRN, continuariam a ser forças políticas relevantes mesmo fora do governo federal”, aponta a LCA.

Especulou-se até um acordo entre PT e PSDB costurados por Lula e Fernando Henrique Cardoso o que, a primeira vista fantasioso, poderia ser cogitado em meio à crise vivida, reforça a consultoria. “Motivações para um pacto petista-tucano existem. Lula e FHC podem sim compartilhar preocupações quanto ao agravamento da crise política e seu inevitável transbordamento para o campo econômico. Podem temer também a possibilidade de a turbulência política colocar em risco a sobrevivência de PT e PSDB ou até da própria democracia”. Porém, a hipótese é descartada por conta da resistência das bases sociais petista e tucana e, principalmente, pela falta da moeda de troca.

Continua depois da publicidade

“PSDB, tudo indica, só aceitaria fechar um pacto com os petistas se estes abrissem mão de continuar no poder a partir de 2018. Além de ser um compromisso pouco exequível do ponto de vista prático – como seria possível impedir o PT de participar da próxima eleição presidencial? –, não corresponde à visão majoritária entre os petistas. Para estes, se Lula for candidato e o governo Dilma não for absolutamente desastroso, há boas chances de o PT continuar no poder a partir de 2019. Não é uma avaliação irrealista, é preciso admitir. Portanto, a única mercadoria capaz de convencer o PSDB a se aliar funcionalmente ao governo o PT não quer entregar”.

Assim, resta o caminho mais natural: a recomposição das relações PT/PMDB. As demandas do partido aliado do governo passariam por conceder cargos de maior relevância nos ministérios, além de proteção política aos pemedebistas encalacrados na Lava Jato com vistas a impedir que eles percam os mandatos e os postos de comando que atualmente ocupam no Congresso, sendo este último mais complexo. “A operação é até factível, desde que transcorra submersa, imperceptível à mídia e à opinião pública. Porém, é complexa e extremamente arriscada. Se um acordo desse tipo vazas-se, o custo seria enorme para o governo”.

“Mesmo assim, se ainda restam alguma racionalidade e capacidade de ação ao governo e aos caciques petistas e peemedebistas, a redefinição do pacto político entre os dois partidos é a tábua de salvação mais óbvia à disposição das forças governistas”, avalia a LCA, que destaca que resta saber se nas desavenças entre o governo e o PMDB já não foi ultrapassado o ponto de não retorno, a partir do qual políticos tidos como racionais passam a agir de maneira aloprada, citando o caso do petebista Roberto Jefferson no escândalo do mensalão.

Publicidade

Assim, neste momento, ainda persistem e predominam os sinais de que estamos avançando no terreno da ingovernabilidade, avalia a LCA, com o governo podendo sofrer novas derrotas no Congresso, enquanto petistas e antipetistas se enfrentam com mais intensidade nas redes e nas ruas.

“A possibilidade de um reacerto entre PT e PMDB existe, mas não dá sinais de se esboçar. Definitivamente, por enquanto, não há lugar para otimismo acerca da situação política do país”, conclui.

Newsletter

Infomorning

Receba no seu e-mail logo pela manhã as notícias que vão mexer com os mercados, com os seus investimentos e o seu bolso durante o dia

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.