“Não há ninguém que pare Sergio Moro depois de ontem”, diz pesquisadora

Em entrevista ao InfoMoney, a professora de Relações Internacionais da Unifesp Esther Solano comenta o saldo das manifestações pró-impeachment

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Se, por um lado, o governo vê sua situação política cada vez mais fragilizada após as grandes manifestações pró-impeachment do último domingo, há poucas indicações de que a oposição tradicional tenha se beneficiado da mobilização. É praticamente um consenso entre os especialistas que o juiz federal Sergio Moro foi o grande vencedor do episódio, quem tem conquistado um enorme capital político das ruas e apoio nos avanços da Operação Lava Jato para passar a limpo o país. 

Para a professora de Relações Internacionais da Unifesp Esther Solano, pesquisadora que tem acompanhado de perto os protestos no Brasil desde os atos de 2013, o protagonismo do juiz tem crescido exponencialmente. “O protagonismo de Moro cresceu muito, e de forma messiânica. A Lava Jato hoje se personificou em uma disputa entre Moro e Lula, com o primeiro visto como figura messiânica e o segundo, como perseguido político por seus aliados e simpatizantes”, observou em entrevista por telefone. “Não há ninguém que pare Moro depois de ontem”.

Isso coloca o ex-presidente ainda mais no foco e amplia sua vulnerabilidade, apesar do petista seguir como a figura política de maior influência no país — a despeito de seu crescente índice de rejeição. “Lula segue o maior adversário de todos, com o maior capital político. Sua capacidade de mobilização é enorme. Se a Lava Jato não apresentar provas incontestáveis em breve ele terá grande possibilidade de se reerguer”, palpita a pesquisadora em referência à possibilidade de o ex-presidente candidatar-se novamente em 2018.

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A primeira vista, a sinalização de mais força a Moro pode soar como positiva no sentido de um combate mais efusivo à corrupção, a níveis pouco conhecidos na história do país. No entanto, a professora alerta para os efeitos colaterais de tal processo que se desenha: “ele não deixa de ser juiz, a quem recaem dúvidas de parcialidade. Moro está ganhando um capital político muito grande” — e não se sabe em quê isso poderá ser aplicado no futuro –, avaliou Esther. Ela teme que a combinação de governo fraco com descrédito geral da classe política perante a sociedade implique em experiências aventureiras. “Essa frustração com a política nacional deixam a porta aberta para personagens fora do mainstream, que vêm de outros setores, sem bagagem política. Às vezes, eles são perigosos. Fico preocupada com a oposição (Aécio Neves e Geraldo Alckmin) vaiada e [Jair] Bolsonaro, não”, explica.

Tamanha mobilização e o iminente desembarque peemedebista da base aliada levam a situação da presidente Dilma Rousseff a níveis cada vez mais insustentáveis. “O governo deveria reagir faz tempo. Se isso não significar reforma ministerial e boa renovação interna, não a vejo mais dois anos no poder. Por outro lado, tampouco vejo fôlego para Dilma fazer um movimento expressivo”, avaliou Esther. Ela acredita que o possível ingresso de Lula para um ministério seria um grande equívoco. “Se isso tivesse ocorrido antes dos apontamentos da Lava Jato, sim. Agora, depois das manifestações, seria uma ferramenta para ele escapar das investigações. Não seria avaliado como uma ajuda para a solução da crise. Agora não é o momento”, observou.

Outro ponto evidente que precisa ser considerado é que o ex-presidente não pode assumir uma pasta de Dilma e correr o risco de o governo cair. Seria um desastre político por retirar-lhe mais capital político e não protegê-lo do cerco de Moro em um prazo mais longo. No entanto, Esther pondera: “um dos dados mais interessantes de ontem é que a oposição também está enfraquecida. Se em alguma coisa pode salvar esse governo é o enfraquecimento simultâneo da oposição” — cenário que, com a vitória de Moro, não seria de fácil confirmação na prática.

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O número de manifestantes presentes superou as expectativas de muitos pesquisadores que faziam o monitoramento prévio das convocações pelas redes sociais. Segundo a professora Esther Solano, dois fatores podem explicar a subestimação do alcance do último movimento: os recentes acontecimentos envolvendo a figura do ex-presidente Lula (pela Operação Lava Jato, as buscas em sua residência e instituto e a condução coercitiva na última fase, e a acusação e pedido de prisão preventiva pelo caso Bancoop) e o fato de parte do público presente não ser formada por usuários de grande atividade nas redes sociais. Nos cálculos do Datafolha, 500 mil pessoas estiveram na avenida Paulista, ao passo que a Polícia Militar de São Paulo e o Movimento Brasil Livre estimaram o público em 1,4 milhão. Dois dias antes, pesquisadores estimavam que 200 mil presentes.

Para as manifestações petistas marcadas para a próxima sexta-feira (18), espera-se potencial de mobilização muito mais reduzido. Na avaliação da professora, partido e governo não souberam responder ao potencial de canalizar o sentimento antipetista usado pelos movimentos que comandam os atos pró-impeachment. “O PT está fraco, não consegue responder. O que parece é que há apenas o antipetismo, mas não. É um problema maior, que envolve a classe política”, argumentou a professora. Ela teme que, como consequência de todo o processo de crise de representatividade, fenômeno visto mundialmente, o país passe por momentos de maior dificuldade. “Deixamos a porta aberta para possibilidades escuras”.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.