“Não há mais como fazer mágica na inflação e política fiscal”, diz Loyola

Para ele, o Brasil passa por momento de baixo crescimento e deterioração de fundamentos essenciais para a redução das vulnerabilidades que acompanharam seu desempenho nas últimas décadas

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – O Brasil não vai se deparar com a mesma maré mansa da economia internacional, com “o vento a favor que tivemos nos últimos anos”, afirmou o ex-presidente do Banco Central e sócio-diretor da Tendências Consultoria, Gustavo Loyola, em palestra sobre a conjuntura econômica brasileira durante o 8º seminário internacional da Acrefi (Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento).

A deterioração do cenário em que se encontram as economias brasileira e mundial mostra cada vez menos espaço para manobras equivocadas. Neste contexto, Loyola destacou que não há mais como fazer muita mágica na inflação e política fiscal, porque todos os truques já teriam sido feitos pelo governo. “É como se o mágico, no começo da apresentação, tirasse aqueles coelhos de pelo branquinho do chapéu, e, de repente, passasse a tirar uns bichos estranhos da cartola”, compara o economista.

Loyola espera por um momento em que Brasil e os emergentes terão que depender mais das próprias pernas nos próximos anos. Com isso, arrancam preocupação os atuais patamares dos principais fundamentos macroeconômicos. Apesar do contexto não ser para desespero, a situação preocupa. “Mesmo que não esperemos uma crise, é pouco provável que tenhamos um período de alta elevada liquidez dos países emergentes, com termos de troca extremamente favoráveis que observamos ao longo dos últimos anos”, afirma o ex-presidente do BC.

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Na visão do economista, o País passa por um momento de baixo crescimento e deterioração de alguns fundamentos essenciais para a redução das vulnerabilidades que acompanharam o desempenho brasileiro nas últimas décadas. Em sua análise, Loyola dividiu os principais temas de acordo com os 3 grandes campos macroeconômicos. São eles:

“Irresponsabilidade fiscal”
Para a compreensão das atuais políticas fiscais sob a ótica do economista, é preciso entrar em três pontos centrais: enfraquecimento do superávit primário, piora dos resultados de estados e municípios – que aproveitaram o afrouxamento de algumas regras do “arcabouço fiscal” – e o que Loyola chamou de “máquina de geração de superávit primário”, em referência às políticas de repasse de verbas do Tesouro para bancos públicos – sobretudo para o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

Para ele, o brasileiro passou a ter que lidar com a perda de transparência nesta área, com o governo abusando de “estratagemas contábeis para apresentar resultados fiscais razoáveis”. “A situação fiscal me parece hoje bastante complexa. Não que o Brasil esteja à beira de uma crise de solvência, mas é um processo de deterioração que colocou em risco a nossa classificação dada pelas agências internacionais”, acusa Loyola.

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Política monetária: “inflação reprimida”
O primeiro ponto que chama atenção do economista na política monetária é a acomodação do BC em relação à meta de inflação, que deixou de ser 4,5% para assumir os toleráveis 6,5% como espécie de “novo target”. “A credibilidade do regime de metas foi afetada por essa acomodação do BC”, diz o ex-presidente da autoridade monetária brasileira, que destaca ainda os riscos de interferência política no BC – segundo ele, mais evidentes com o atual governo.

A politização das decisões do Copom (Comitê de Política Monetária) sobre a taxa básica de juros são destacados pelo economista como dignos de serem observados de perto. “De repente vemos a presidente da república ir à televisão para dizer que os juros baixos eram uma grande conquista do seu governo, com o BC sendo incitado – explicitamente ou não – a buscar um nível de equilíbrio a taxas de juros mais baixas”, afirma.

Por fim, Loyola ainda destaca o fato de a inflação só estar controlada graças à política de manipulação de preços sobre alguns produtos – em especial, os combustíveis -, promovida pelo governo, que teme por uma alta ainda maior no IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), indicador que já provou sua importante em vésperas de eleições.

Intervenção cambial mascara outras carências
Apesar de as operações do BC para conter o efeito do dólar ajudarem na competitividade das empresas brasileiras no mercado internacional, Loyola afirma que o principal ponto neste problema brasileiro seria a falta de políticas que ajudassem no aumento da eficiência das companhias nacionais. Para Loyola, o governo prefere optar pelo caminho mais fácil para lidar apenas com as pontas do iceberg, sem se preocupar com as questões de longo prazo – cerne da maior parte das carências brasileiras.

“É muito mais fácil incentivar o consumo, mandar os bancos públicos expandirem o crédito, reduzir o IPI sobre os carros, fazer ‘Minha Casa Melhor’ do que se ter políticas mais voltadas para questões de médio e longo prazo. O governo percebe que precisa fazer obras de infraestrutura, por exemplo. A questão é que essa percepção não remove certos preconceitos que a gente vê nas políticas públicas de hoje. Preconceitos que levam até a um viés anticapitalista e antimercado”, conclui Gustavo Loyola.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.