Não há espaço para uma grande guinada em 2018, diz cientista político

Em entrevista ao programa InfoMoney/Um Brasil, Ricardo Sennes diz ver pouca possibilidade para mudanças no perfil do Congresso e ambiente restritivo para ação do futuro presidente

Marcos Mortari

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 SÃO PAULO – A despeito da corrida eleitoral pela sucessão do presidente Michel Temer marcar um cenário de ampla polarização política e de preocupação com os rumos a serem tomados a partir de 2019, as circunstâncias do próprio ambiente político impedem a consolidação de movimentos mais drásticos. Essa é a leitura do cientista político e economista Ricardo Sennes, sócio-diretor da Prospectiva Consultoria, para quem a análise do Legislativo será decisiva para uma melhor compreensão da dinâmica política do país. O especialista participou do programa InfoMoney/UM BRASIL na manhã desta terça-feira (12), que também contou com a presença do cientista político Humberto Dantas.

“O Congresso no Brasil é muito forte. Se você não tiver um presidente com capacidade de liderança, ele é engolido pelo Congresso”, observou Sennes durante a entrevista. “Acredito que as eleições terão um grande fator de moderação, porque pode até haver uma oscilação maior no pleito presidencial, o risco de um populista de direita ou de esquerda, mas no Congresso sabemos que, apesar de se estimar uma mudança de 55% a 60% dos nomes, o perfil deverá ser muito próximo [do atual]. A elite do Congresso vai estar lá. O Congresso tende a ter uma inércia muito maior do que na presidência. Acho que a o grau de mudança de perfil dos políticos vai ser pequena lá. Ele será pouco favorável a uma enorme guinada política”, complementou. Pela lógica apresentada pelo especialista, sem grandes mudanças no perfil do parlamento, o presidente eleito terá espaço reduzido para promover guinadas à esquerda ou à direita.

Nesse sentido, Sennes chamou atenção para os riscos que a ascensão dos chamados outsiders pode representar à política e ao país. “Por isso que me surpreende muito pessoas lançarem sujeitos como [Luciano] Huck, o próprio [João] Doria, [Jair] Bolsonaro. O partido de Bolsonaro tem 2 deputados e ele não vai fazer coalizão. Como esse sujeito vai montar uma maioria? Ele não lidera nada. Ele é um tigre de mídia social. Esse cara sofre impeachment e um ano”, afirmou. “Os governos que foram mais ou menos bem sucedidos foram aqueles que conseguiram montar essa coalizão: Fernando Henrique, Lula e, agora, Temer. Então, imaginar um que outsider que caiu das nuvens vai ser um salvador da pátria… Esse cara vai enterrar o país. Ele gera uma estagnação, um empate, que no presidencialismo você não consegue sair. A hipótese é impeachment. Para quem acredita que o Brasil precisa de um reformismo moderado, apostar em um outsider é o pior cenário que poderíamos imaginar. Seria um tiro no pé. É inviável”.

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Assista à íntegra da entrevista:

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.