Na mira do governo, Itaú, Rede d’Or e Bradesco lideram emissões de CRIs em 2023, mostra levantamento

Juntos, bancos somam R$ 4,3 bilhões em emissões de CRIs no período; trading do BTG responde por 1/3 do volume de CRAs

Marcos Mortari

Notas e moedas de reais (iStock / Getty Images Plus)

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Grandes bancos privados, redes de serviços médicos e até locadoras de veículos se destacaram no volume financeiro movimentado em emissões de Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) em 2023 – produto financeiro que acaba de passar por mudança regulatória por decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN).

É o que mostra levantamento feito pela Uqbar, plataforma de informações do mercado financeiro, a pedido do InfoMoney. De acordo com o estudo (uma prévia do anuário que será lançado em março), somente Itaú Unibanco e Bradesco responderam por R$ 4,3 bilhões movimentados em emissões de CRIs no ano passado – pouco menos de 10% do volume financeiro total do produto no período, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

A plataforma ressalva que nem sempre é possível identificar todos os devedores dos papéis emitidos, seja pela pulverização deles (caso de CRI que financiam a aquisição de casas por pessoas físicas), seja pela não divulgação da informação por parte da securitizadora. Mas o levantamento também capturou um volume elevado de emissões de dois grandes grupos do setor de saúde em 2023: a Rede d’Or (R$ 2,26 bilhões) e a Oncoclínicas (R$ 1 bilhão).

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A segunda, inclusive, é responsável por precedente importante no mercado, com a emissão dos chamados “CRIs de aluguel”, que abriu caminho para o uso de recursos para o pagamento de locações passadas e futuras de imóveis vinculados às atividades principais das companhias. De acordo com o estudo da Uqbar, a Rede d’Or movimentou sozinha R$ 6,80 bilhões com a emissão deste produto financeiro nos últimos três anos.

A Rede d’Or procurou o InfoMoney após a publicação da reportagem e afirmou, por meio de nota, que, em 2018, data de sua primeira emissão de CRI, construiu mais de 300 mil metros quadrados e disponibilizou aproximadamente 2 mil novos leitos hospitalares – o que faz com que ela se veja “entre as grandes incorporadoras imobiliárias do país”.

“Esses projetos ampliaram a capacidade de atender a população e fomentaram a indústria da construção civil gerando milhares de empregos. A destinação dos recursos advindos das emissões de CRIs observou o marco legal, a legislação vigente e obedeceu estritamente uma lista pré-definida de investimentos imobiliários (investimentos lastro), sendo a comprovação da adequada utilização desses recursos auditada pela Enest Young”, diz a companhia na nota.

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Na lista apresentada pela Uqbar, também chamam atenção empresas como o Assaí Atacadista, que movimentou R$ 1,14 bilhão em 2023, das locadoras Movida e Localiza, que emitiram R$ 720,13 milhões e R$ 490 milhões, respectivamente, e da rede de farmácias Raia Drogasil, que girou R$ 700 milhões em CRIs no ano passado. Integram o grupo, ainda, as educacionais Yduqs e Cogna, com emissões de R$ 594,63 milhões e R$ 427,60 milhões nesta ordem.

Veja a lista dos 20 principais emissores de CRIs em 2023 (e quanto eles movimentaram nos três anos anteriores), segundo a Uqbar:

Nome do Devedor*2020202120222023
Itaú Unibanco   R$ 2.500.000.000
Rede D’Or   R$ 2.500.000.000   R$ 2.040.501.000   R$ 2.260.835.000
Banco Bradesco   R$ 1.800.000.000
SENDAS DISTRIBUIDORA S/A   R$ 1.784.851.088   R$ 1.233.103.152   R$ 1.135.603.000
GOLD SIRIUS FUNDO DE INVESTIMENTO IMOBILIARIO   R$ 1.110.000.000
ONCOCLINICAS DO BRASIL SERVICOS MEDICOS S.A.      R$ 500.000.000   R$ 1.000.000.000
Movida      R$ 720.125.000
RAIA DROGASIL S/A      R$ 800.000.000      R$ 700.000.000
Votorantim      R$ 400.000.000      R$ 622.896.000
Aliansce      R$ 415.000.000      R$ 612.102.000
YDUQS Participações      R$ 594.633.000
MRV ENGENHARIA E PARTICIPACOES SA        R$ 39.321.000      R$ 800.489.041   R$ 1.490.000.000      R$ 559.588.000
Cashme      R$ 503.347.000
Localiza      R$ 300.000.000      R$ 490.000.000
TERRAVISTA BOUTIQUE EMPREENDIMENTO IMOBILIARIO SPE S.A.      R$ 450.000.000
WAM HOTEIS E RESORTS S/A      R$ 430.117.000
COGNA EDUCACAO S.A      R$ 500.000.000      R$ 427.599.000
JSL      R$ 381.186.000
GPA      R$ 376.616.000
Fonte: Uqbar
* Nem todos os devedores dos CRIs emitidos nos períodos foram identificados. Eles somaram R$ 11,18 bilhões em 2020, R$ 18,94 bilhões em 2021, R$ 20,79 bilhões em 2022, e R$ 25,80 bilhões em 2023.

Já do lado dos Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs), a Engelhart, trading de commodities fundada pelo BTG Pactual, lidera as emissões com folga. Só no ano passado, ela movimentou R$ 15 bilhões – mais de um terço do volume total desta classe de ativos. Na sequência, vêm os frigoríficos Minerva (R$ 2 bilhões), JBS (R$ 1,74 bilhão) e Marfrig (R$ 1,13 bilhão).

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Veja a lista dos 20 principais emissores de CRAs em 2023 (e quanto eles movimentaram nos três anos anteriores), segundo a Uqbar:

Nome do Devedor*2020202120222023
Engelhart CTP         R$ 2.000.000.000       R$ 15.000.300.000
Minerva       R$ 1.000.000.000         R$ 1.600.000.000         R$ 1.500.000.000         R$ 2.000.000.000
JBS       R$ 1.876.344.000         R$ 2.798.844.000         R$ 2.763.976.000         R$ 1.741.121.000
Dexco         R$ 1.500.000.000
Vamos Locação          R$ 900.000.000            R$ 600.000.000         R$ 1.204.395.000
Marfrig         R$ 1.200.000.000         R$ 2.500.000.000         R$ 1.125.000.000
IPIRANGA PRODUTOS DE PETROLEO S.A.            R$ 960.000.000         R$ 1.000.000.000         R$ 1.018.000.000
Raízen       R$ 1.280.482.000            R$ 480.000.000         R$ 2.418.414.000         R$ 1.000.000.000
ATACADAO S.A.         R$ 1.500.000.000            R$ 930.000.000
FS FLORESTAL S.A            R$ 850.000.000
Banco ABC Brasil            R$ 653.000.000
CAMIL ALIMENTOS S.A.            R$ 625.000.000
Klabin          R$ 966.291.000         R$ 2.500.000.000            R$ 600.000.000
FS AGRISOLUTIONS INDUSTRIA DE BIOCOMBUSTIVEIS LTDA            R$ 300.000.000         R$ 1.904.788.040            R$ 400.000.000
USINA CERRADÃO S.A            R$ 241.500.000            R$ 300.000.000
YARA BRASIL FERTILIZANTES S.A            R$ 573.003.000            R$ 253.338.000
COOPERATIVA AGRICOLA DE UNAI LTDA            R$ 208.900.000
ZANCHETTA ALIMENTOS LTDA          R$ 200.000.000            R$ 200.000.000
VIDEPLAST INDUSTRIA DE EMBALAGENS LTDA            R$ 200.000.000
ENERGETICA SANTA HELENA S/A            R$ 165.000.000
Madero            R$ 500.000.000            R$ 150.000.000
Fonte: Uqbar
* Nem todos os devedores dos CRAs emitidos nos períodos foram identificados. Eles somaram R$ 5,79 bilhões em 2020, R$ 10,91 bilhões em 2021, R$ 12,53 bilhões em 2022, e R$ 11,83 bilhões em 2023.

Fechando brechas

Na última quinta-feira (1), o CMN decidiu, em reunião extraordinária, promover uma série de ajustes nas normas que regem a emissão, pelo setor privado, de títulos incentivados emitidos com lastro em operações do agronegócio e do setor imobiliário.

No caso dos CRIs e CRAs, a resolução nº 5.118 proibiu emissões com lastro em títulos de dívida (por exemplo, debêntures) por companhias abertas não relacionadas aos setores do agronegócio ou imobiliário. O conselho também vedou a emissão dos certificados com lastro em direitos creditórios originados de operações entre partes relacionadas ou de operações financeiras cujos recursos sejam utilizados para reembolso de despesas.

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A decisão foi antecipada por reportagem do InfoMoney, que há duas semanas revelou o desconforto de integrantes do Ministério da Fazenda com o que entendem como distorções no uso de produtos de investimentos isentos por parte das empresas – avaliação compartilhada por parcela do mercado.

O movimento do CMN tem por objetivo aumentar a eficiência do benefício tributário concedido aos produtos, assegurando que os instrumentos sejam de fato utilizados para o fomento do agronegócio (no caso dos CRAs) e do setor imobiliário (no caso dos CRIs). Também foram alvo de mudanças as Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs), Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) e Letras Imobiliárias Garantidas (LIGs).

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.