Muito além dos 7 a 1: o que realmente pode mudar o jogo contra Dilma até outubro

Conforme apontam economistas, mesmo com derrota da seleção brasileira desanimando a população, o grande fator de preocupação para a atual presidente será a economia

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Após a derrota homérica do Brasil por 7 a 1 para a Alemanha, muito vem se questionando se realmente haverá um efeito sobre a candidatura da presidente Dilma Rousseff. Até então, a Copa do Mundo estava sendo um evento bastante positivo para a presidente: a organização ficou acima da expectativa – que era baixa -, e a seleção, mesmo sem uma atuação brilhante, conseguiu chegar à semifinal, o que não acontecia desde o pentacampeonato de 2002.

Porém, as duas derrotas que se seguiram, para a Alemanha e para a Holanda, sendo a primeira a mais “traumatizante” está sendo vista pelo mercado como um grande revés para a atual presidente. Desde o pregão anterior ao pontapé inicial da Copa do Mundo, de 11 de junho (a Copa teve início no dia 12, com o jogo Brasil e Croácia) até o dia da derrota do Brasil para a Alemanha (8 de julho), o Ibovespa havia caído 2,66%, em meio à percepção de que a Copa tinha sido boa para Dilma. O mercado reage com queda à alta de Dilma, uma vez que ela tem um viés mais intervencionista, principalmente para as estatais, o que não agrada os investidores. Porém, desde a goleada sofrida, o índice já subiu quase 4%, revertendo o efeito Copa.

O que muito se questiona é se o efeito realmente irá ocorrer e, se sim, se ele será duradouro. A próxima pesquisa Datafolha, que deve ser divulgada a partir de amanhã, mostrará como anda a popularidade de Dilma e, por isso, é tão amplamente aguardada pelo mercado. Por enquanto, o que se apontou são rumores de que a presidente irá cair nas pesquisas, mas não há nenhum número confirmado.

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Conforme ressalta em artigo a economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, o tema tem muitas nuances. “Ainda assim, à luz do quadro econômico atual e seu impacto sobre a aprovação da presidente, é pouco provável que este evento em si cause um realinhamento mais sensível de expectativas. Diferente dos protestos de junho do ano passado, que foram o gatilho para corrigir o alto índice de aprovação do governo vis-à-vis o baixo desempenho da economia, agora os índices de aprovação já são mais compatíveis com a decepcionante realidade”, ressalta.

Já para o economista da Austin Ratings, Alex Agostini, “ninguém faz uma relação direta entre a derrota do Brasil na Copa e a presidente e, por isso, não há nenhuma comprovação empírica sobre se haverá realmente um efeito. Porém, os brasileiros devem voltar a recuperar o mau humor que havia no cenário antes da Copa, o que pode resgatar as reclamações sobre os altos gastos do evento em detrimento a investimentos em saúde e educação. “O mercado, obviamente, aproveita a oportunidade para relacionar os fatos”, avalia o economista, o que levou à alta forte nas últimas sessões. 

Cenário já precificado
A economista da XP Investimentos ressalta a elaboração de um modelo para estimar a aprovação do presidente levando em consideração o mercado de trabalho, o rendimento real dos indivíduos e também a mudança na confiança dos consumidores. 
 

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“Pelo modelo, o índice de aprovação do governo Dilma antes dos protestos era exagerado. Mesmo posteriormente, passado o susto, os 40% de avaliação positiva do governo no final de 2013 e início deste ano não se sustentariam por conta da piora do quadro econômico. O índice de aprovação acabou convergindo para o patamar sugerido pelo modelo”, aponta Zeina, de 33%. Assim, o quadro de aprovação de Dilma estaria compatível com o atual quadro da economia, não havendo razão para maiores ajustes no curto prazo.

Se houver, destaca a economista, tende a ser passageiro, conjuntural, assim como foi a leve melhora da confiança do consumidor e da aprovação do governo com o início da Copa. E, como faltam mais de dois meses e meio para o primeiro turno da eleição, pode-se diluir ou superar uma eventual contaminação na aprovação da presidente.

É a economia!
Uma das questões que é colocada pelos economistas e analistas políticos é de que, caso o cenário econômico estivesse bom, a confiança na economia seria maior. Porém, conforme aponta Agostini, no cenário atual, os fatores “extracampo”, como a derrota histórica do Brasil, façam com que a relação entre a queda da seleção e uma queda de Dilma seja mais fácil de ser relacionada. 

Por outro lado, o grande determinante, aponta Agostini, ainda será a economia. Enquanto a produção industrial derrapa e o PIB (Produto Interno Bruto) aponta para desaceleração, os brasileiros estão entre um cenário econômico bastante deteriorado, mas que ainda não afetaram diretamente as suas vidas – ou de uma maioria da população. O emprego e o aumento de renda continuam se sustentando, mesmo com uma tendência de deterioração, e será esse o grande determinante para a eleição ou não de Dilma Rousseff.

Zeina reforça o coro e ressalta que os sinais de baixa atividade econômica durante os jogos, ainda a serem comprovados pelos indicadores econômicos, abalam uma já economia frágil, podendo agravar o quadro da já reduzida sensação térmica da economia e de falta de perspectiva de reversão ou de quando será possível afirmar que o pior já passou. 

“O momento do evento esportivo não foi bom para a economia. Não se trata apenas de adiamento de decisões de consumo e produção nas últimas semanas, tal que seja possível uma relevante reativação da economia daqui para frente. Empresas e famílias começaram a enfrentar condições financeiras mais difíceis ao longo do primeiro trimestre, e a baixa atividade econômica na Copa agravou o quadro. Parte do consumo e produção não realizados pode não ter volta”, aponta a economista, que ressalta: o risco econômico não dará trégua. A Copa “cobrará a sua fatura”.

Sinal amarelo será ligado?
Mas será que a baixa atividade e a menor confiança pode atingir o Brasil e levar a um maior pessimismo nacional? Conforme aponta Agostini, “a maior parte dos brasileiros pode até sentir que o risco está aumentando em meio ao noticiário negativo nos jornais sobre o aumento da dívida pública, os maus gastos e a atividade econômica em desaceleração mas, se não ‘pesar’ no bolso dos brasileiros, o sinal amarelo não será ligado”, aponta. Porém, caso o desemprego comece a aumentar e a renda seja corroída pela inflação, o cenário para Dilma pode se inverter.

Zeina ressalta que há uma queda em curso da taxa de ocupação que pode se ampliar com a deterioração da situação financeira das empresas, esta medida pela piora dos indicadores de inadimplência do Banco Central e Serasa. E a piora é calcada nas dificuldades concretas enfrentadas pelos empresários e pela população no cotidiano. Para ela, contudo, não é necessário que haja um aumento da taxa de desemprego para que o quadro eleitoral seja afetado, bastando apenas uma redução da capacidade do consumo das famílias para tanto.

Apesar da queda da aprovação da presidente reduzir a sua competitividade nas eleições, não necessariamente isso implica num aumento da competitividade da oposição. Os próximos desafios dos candidatos da oposição vão além de se tornarem conhecidos pelos eleitores. É necessário conquistar os eleitores no desalento e descrentes das instituições políticas, que inflam as estatísticas de brancos e nulos.

E os eleitores “desalentados” estão mais concentrados nos grandes centros, sendo mais sensíveis ao debate econômico. Assim, dependendo do grau de enfraquecimento da economia, será inevitável discutir o assunto em plena campanha. E, ressalta Zeina, para fazer os necessários ajustes é recomendável discutir com a sociedade antes das eleições, sob pena de falta de legitimidade para implantar a futura agenda. 

Conforme ressaltam muitos jornais pelo mundo, como o Financial Times e o New York Times, os brasileiros devem voltar à realidade após o momento de alegria com a Copa do Mundo. E, dependendo do resultado econômico, os brasileiros podem comemorar ou se frustrar com o seu País, e refletir nas próximas pesquisas. É aguardar pelo que as próximas pesquisas podem indicar e a evolução do quadro ao longo dos meses, assim como os dados de atividade econômica (o PIB do 2º trimestre será divulgado no dia 29 de agosto). Assim, será possível saber se o 7 a 1 ou a economia serão os que mais afetarão os eleitores – ou se haverá uma mistura dos dois. 

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.