Ministro “se salva”, mas mercado segue na dúvida: Levy permanecerá? Por quanto tempo?

O mercado ficou bastante abalado na sexta-feira com os rumores de que Levy sairia do governo, o que foi negado; porém, mercado aponta que será muito difícil ele permanecer além de 2016

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Pouco mais de quinze minutos do término do último pregão da semana passada, o mercado foi surpreendido com uma notícia que gerou uma grande corrida e turbulência. De acordo com a coluna do Radar Online, da Veja, publicada às 16h57 (horário de Brasília) daquele final de tarde da sexta-feira (16), o ministro da Fazenda Joaquim Levy teria redigido carta de demissão e se reuniria com a presidente Dilma Rousseff para formalizar a sua saída do cargo.

O Ibovespa, que apontava para uma sessão de ganhos, diminuiu fortemente as altas e fechou com valorização de 0,16% naquele dia. O Ibovespa Futuro, após o fechamento regular do pregão, passou de alta de 1% para queda de 0,76%, enquanto o dólar futuro disparou, assim como os principais contratos de juros futuros. Vale ressaltar que aquele dia já era de tensão frente ao “risco-Levy”, em meio à pressão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que ele saísse do governo, afirmando que o economista teria “prazo de validade”. 

O ministério da Fazenda, algum tempo depois, desmentiu os rumores e disse que Levy continuaria no cargo, trabalhando pelo futuro do País. Contudo, durante o final de semana, os rumores continuaram, assim como as indisposições tanto do partido quanto do governo sendo demonstradas contra ele. O que circulou durante o final de semana foi que, realmente, Levy tinha uma carta de demissão pronta como parte de uma operação para o ministro ganhar um aval, em meio à pressão de Lula. E o ministro, segundo O Estado de S. Paulo, disse a interlocutores que pretenderia deixar o cargo no fim do ano caso o “fogo amigo” contra ele continuasse no governo e no PT. “Levy está muito irritado com as críticas que vem sofrendo por parte do ex-presidente e do partido e, em conversas reservadas, avalia que enfrenta uma espécie de ‘ataque especulativo’, o que prejudica até mesmo a aprovação do ajuste fiscal pelo Congresso”, afirmou o jornal.

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Por outro lado, a presidente Dilma saiu em defesa do ministro: no domingo, logo após a divulgação de uma entrevista do presidente do PT, Rui Falcão, para a Folha de S. Paulo. Nela, Falcão afirmou que se, não quisesse mudar política econômica, era melhor Levy sair do governo. Na Suécia, Dilma rebateu:  “O ministro Levy fica”. E completou ao dizer que a “opinião do presidente do PT não é do governo”, em uma resposta ao presidente do partido. No dia seguinte, a presidente, preocupada com o “forte ataque especulativo” do PT, mandou que auxiliares de confiança dissessem no Instituto Lula, visto como foco das desavenças, para parar com a carga contra a política econômica. 

Levy fica. Mas…
No meio de um cenário de tanta animosidade e com a presidente Dilma saindo em defesa do ministro – por ver mais instabilidade política caso houvesse uma mudança – quais são as perspectivas para Levy no cargo? Boa parte dos análises acaba reforçando a análise de Lula: o ministro pode estar próximo de sair do governo. 

De acordo com Márcio Salvato, coordenador do curso de economia do Ibmec/MG, o ministro da Fazenda realmente tem um prazo de validade que deve expirar em breve: “acredito que até antes mesmo de terminar o ano ele saia do governo”, afirmou, em meio às dificuldades para a aprovação de um ajuste fiscal e a pressão de setores do PT e de Lula. 

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A consultoria de risco política Eurasia possui uma opinião parecida, não vendo Levy permanecer na Fazenda além do início de 2016. “O desconforto de Levy é ‘palpável'”, destacam os analistas da consultoria em relatório. Eles apontam que a posição enfraquecida de Levy deriva em primeiro lugar e principalmente do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do PT.

Os analistas ressaltam que Dilma, evidentemente, convenceu Levy a ficar, e é improvável que ela ceda às pressões de Lula e do PT para abandonar o ajuste fiscal. A presidente, afirmam, reconhece ainda que uma saída de Levy neste momento agravaria o pânico nos mercados financeiros. Isso, por sua vez, deterioraria sua posição política no Congresso.

Porém, afirma a Eurasia, a saída de Levy até o início de 2016 está ficando mais provável, “e com isso, vemos agora aumento das pressões em um cenário onde Dilma não termina seu mandato (atualmente em 40% de probabilidade)”. Eles destacam que a pressão de Lula e do PT por uma flexibilidade fiscal sugere que os próximos meses serão caracterizados pelo agravamento da crise, com Lula indo para a esquerda e também distanciando o Congresso do ajuste fiscal.

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Em meio a esse cenário e com o ataque do PT e de Lula ao ministro, Salvato avalia que o cenário, provavelmente, é de que Levy deixaria o cargo por não ver o andamento do ajuste fiscal. “O ministro já mostra sinais de exaustão, de cansaço”, afirma. Salvato lembra que Levy não conseguiu fazer o que se propôs, já que pensou que conseguiria realizar o ajuste fiscal de uma forma mais rápida. Contudo, o ajuste foi levando mais tempo para ser realizado e, com isso, ficou mais difícil, agravado ainda pelo cenário de deterioração econômica que comprometeu as receitas, seguida pelas amenizações das medidas de ajuste fiscal. 

E o fato de Dilma ter se mostrado mais contundente na defesa de Levy? Como ressalta o professor, quanto mais se defende alguém dentro do governo, maior é a indicação de que, realmente, há problemas em relação a ele. 

A solução Meirelles
Sem um nome como o de Levy, avalia Salvato, haveria ainda mais dificuldades para a realização do ajuste, o que poderia agravar ainda mais a nossa situação econômica e fiscal, que já está bastante complicada. Caso Levy dê adeus mesmo ao governo, muito se fala sobre a solução Henrique Meirelles. 

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Meirelles, ex-presidente do Banco Central durante o governo Lula, seria considerado um bom nome para substituir o “chicaguista” Levy; aliás, é ele que Lula quer ver na Fazenda. Porém, além da presidente mostrar resistência ao nome de Meirelles, pouco se fala sobre se ele gostaria mesmo de ocupar o cargo, faltando “combinar com os russos”. Ainda mais que a intenção do ex-presidente com a mudança ministerial seria algo chamado “guinada econômica”, com aumento de crédito e expansão fiscal, o que poderia complicar ainda mais o cenário econômico nacional.

Conforme destaca a Bloomberg, a eventual substituição, um rumor que tem surgido sempre que se fala em mudança na Fazenda, desde os tempos de Guido Mantega, é vista com ceticismo pelo mercado. Meirelles exigiria uma autonomia muito maior do que que Levy tem hoje no governo. Quando comandou o BC, foi criticado pelos petistas por ser ortodoxo demais na política monetária, a mesma crítica sofrida por Levy hoje em relação à política fiscal.

Salvato afirma que, se o “improvável” acontecer (Meirelles na Fazenda) isso poderia ser algo positivo pois traria “sangue novo” no mercado. Mas, no limite, seria “trocar seis por meia dúzia”. Essa opinião também é compartilhada pelo economista-chefe da Austin Rating Consultoria, Alex Agostini.

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Agostini destaca que Meirelles tem uma carreira política e, por isso, teria mais trânsito no Congresso, o que poderia ajudar na aprovação do ajuste. Porém, a mudança não depende dele: “o grande problema é a questão política mesmo”, avalia. E um dos pontos cruciais para a resolução política passa pela resolução da questão sobre o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que busca salvar seu mandato em meio às acusações de que tenha recebido dinheiro de propina. 

O ajuste fiscal segue sofrendo obstáculos no Congresso, mas a solução não passa tanto por quem é ou será o ministro da Fazenda. Porém, há algo que possa sensibilizar os políticos com relação à agenda do governo? Conforme afirma Salvato, há uma solução, mas que será dura para todos os lados: a situação piorar ainda mais, tornando crucial a aprovação de medidas de ajuste. 

Em um ambiente de crise política e econômica, cada dia há uma nova surpresa para o governo. Assim, provavelmente, o rumor do último final de semana sobre a saída do ministro não é o primeiro e nem será o último a rondar o governo. 

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O ritmo impresso ao ajuste fiscal e a pressão do PT, e principalmente de Lula, devem seguir dando o tom sobre se o ministro ficará ou sairá do governo. Mas, por enquanto, o que foi indicado é de que somente o ruído sobre a saída de Levy abala e muito o mercado.

Jefferson Rugik, diretor-presidente da Correparti Corretora, resumiu para a Bloomberg o que seria o pensamento do mercado sobre a importância de Levy, mesmo enfraquecido, permanecer no governo. “O Levy, pelo menos, tenta. Se colocarem um outro, esqueça o ajuste fiscal. Será bem pior para o Brasil.”

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.