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Investigações da Polícia Federal revelam uma relação direta e sistemática entre Phillip da Silva Gregório, conhecido como Professor, apontado como um dos líderes do Comando Vermelho, e integrantes da Polícia Militar do Rio de Janeiro.
De acordo com relatório obtido pelo g1, o traficante negociava pagamentos de propina com policiais, recebia informações sigilosas da corporação e chegou a atender pedidos de oficiais para devolver bens roubados por integrantes da facção.
As informações fazem parte da Operação Dakovo, que apura a compra de armamento pesado no exterior por facções brasileiras, com destaque para transações no Paraguai, Bolívia e Colômbia. Professor é citado como responsável pela importação de fuzis e pistolas para abastecer o Comando Vermelho no Rio de Janeiro.
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Em uma das conversas, datada de 27 de fevereiro de 2022, um policial identificado apenas como Hulk pressiona o criminoso por um aumento no valor semanal pago como propina para que a PM não realizasse operações em sua área de atuação. O policial reclama do valor de R$ 1.200, chamando-o de “baixo” diante do porte da favela e do volume de vendas. O traficante reage com irritação:
“Tá me ameaçando? Aqui é papo de homem. Valor é R$ 1.200, se quiser aumentar o seu tenho que aumentar de todo mundo. […] Não é nenhum bola rasteira não. Trato geral no respeito e geral respeita minha palavra.”

Contato com coronel e devolução de carro
Em outro episódio, registrado em 23 de março de 2023, o mesmo PM contata Professor a pedido de uma coronel da Polícia Militar para reaver um carro roubado. Segundo a transcrição da chamada, o veículo foi devolvido intacto, com a chave deixada no interior do automóvel, abandonado em um posto desativado no bairro de Inhaúma. O policial menciona que o carro pertenceria a “um político” e que a ordem teria vindo diretamente da oficial:
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“A coronel tá ligada. Ela pediu pra te ligar. […] Já mandou agradecer”, diz Hulk ao traficante.
O diálogo levanta suspeitas sobre interferência direta de oficiais da PM em operações de mediação com facções criminosas, e sugere que o traficante desempenha papel de mediação informal com setores da segurança pública.
Acesso a documentos internos da PM
Outro trecho do relatório mostra que, em maio de 2022, Professor teve acesso a um boletim interno da Polícia Militar, contendo nomes, registros e as novas lotações de policiais nas Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). A imagem da tela do documento — o Boletim Interno nº 88 — foi enviada diretamente ao traficante.
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O vazamento de dados sigilosos e o contato constante com agentes da segurança pública aumentam as suspeitas de infiltração da facção dentro da estrutura policial do estado. Nesta semana, o g1 revelou que um PM avisou o traficante sobre sua transferência de UPP, reforçando a linha de proximidade funcional entre criminosos e agentes fardados.
Professor está foragido desde 2018, após receber autorização judicial para visitar a família e não retornar da saída temporária. Ele havia sido preso em 2015 pela própria Polícia Federal, quando deixou o Complexo do Alemão, reduto da facção no Rio.
A nova leva de evidências deve reforçar as frentes de investigação sobre o aparelhamento da segurança pública por organizações criminosas, tema que voltou ao centro do debate nacional com as recentes ações da PF contra milicianos, traficantes e agentes públicos no Rio e na Baixada Fluminense.