Meta confirma uso de e-mail de Mauro Cid em conta do Instagram que discutia delação

Dados enviados ao STF mostram que perfil foi criado com e-mail e data de nascimento do tenente-coronel; Cid havia negado uso da conta

Marina Verenicz

Mauro Cid durante os interrogatórios dos réus da Ação Penal (AP) 2668

Foto: Ton Molina/STF
Mauro Cid durante os interrogatórios dos réus da Ação Penal (AP) 2668 Foto: Ton Molina/STF

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O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), tornou público nesta segunda-feira (23.) um documento enviado pela Meta, controladora do Instagram, que liga diretamente o tenente-coronel Mauro Cid a uma conta suspeita de ter sido usada para discutir sua delação premiada.

A comprovação reforça suspeitas de tentativa de obstrução de Justiça no entorno do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro.

Segundo o relatório, o perfil investigado foi registrado com um e-mail vinculado ao nome de Mauro Cid e um número de celular de Gabriela Cid, sua esposa. Além disso, a data de nascimento cadastrada na conta – 17 de maio de 1979 – é a mesma do tenente-coronel. O e-mail em questão foi criado em 2005, segundo dados fornecidos pelo Google, também anexados ao processo.

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A conta em questão, de nome “GabrielaR702”, teria sido usada para conversar com integrantes da equipe jurídica de Jair Bolsonaro e com o advogado Eduardo Kuntz, que defende o coronel Marcelo Câmara. O conteúdo das mensagens, revelado pela revista Veja, indicaria que Mauro Cid discutiu detalhes sobre sua colaboração premiada com terceiros fora dos canais oficiais.

Cid negou vínculo com o perfil em depoimento ao STF

Durante interrogatório no Supremo, Cid foi questionado pelo advogado Celso Vilardi, que representa Bolsonaro, se havia usado o Instagram para tratar de sua delação. O militar negou, assim como disse desconhecer se o perfil em nome de “Gabriela” era de sua esposa.

A negativa entra em rota de colisão com as informações técnicas entregues pela Meta e pela Google, o que pode comprometer a credibilidade do tenente-coronel como colaborador judicial. Cid fechou acordo de delação premiada com a Polícia Federal em 2023, no âmbito das investigações sobre a tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022.

Moraes vê tentativa de obstrução e manda prender coronel ligado a Bolsonaro

A revelação do conteúdo das mensagens motivou novas medidas do STF. Na quarta-feira (18), Moraes determinou a prisão preventiva do coronel Marcelo Câmara, aliado próximo de Bolsonaro e réu no núcleo militar da trama golpista. O ministro também ordenou que Câmara e seu advogado, Eduardo Kuntz, passem a ser investigados por possível tentativa de obstrução de Justiça.

Kuntz reconheceu ao Supremo que manteve conversas com o perfil “GabrielaR702” e anexou mensagens trocadas com Mauro Cid e o advogado Paulo Amador Cunha Bueno, também da equipe jurídica de Bolsonaro. As mensagens, agora respaldadas por evidências da Meta, indicam articulações para coordenar versões entre investigados e monitorar o conteúdo da colaboração premiada.