Mesada por 13 anos para irmão, ajuda ao filho, US$ 40 mi e novo PowerPoint: o que a Odebrecht falou contra Lula

Na última terça-feira, o relator da Lava Jato Edson Fachin encaminhou para a primeira instância seis pedidos de abertura de inquérito contra o petista, que se defende

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Esta semana marcou as revelações em série da “delação do fim do mundo”, com os depoimentos dos 77 executivos da empreiteira tendo o sigilo levantado, incluindo os de Marcelo e Emilio Odebrecht.  

Um dos mais implicados em meio a tantos depoimentos é o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na última terça-feira (11), o relator da Lava Jato Edson Fachin encaminhou para a primeira instância seis pedidos de abertura de inquérito contra ele. E muitas acusações foram feitas: dentre elas, pagamento da Odebrecht para obras no sítio em Atibaia (SP), uma mesada para o irmão do petista, entre outras acusações. Veja abaixo alguns dos depoimentos que implicam Lula – e a defesa do ex-presidente sobre as delações:

Sítio de Atibaia

Emílio Odebrecht afirmou em depoimento no acordo de delação premiada que tratou com Lula a obra no sítio em Atibaia, no interior de São Paulo, usado pelo petista. Segundo o patriarca, a obra era considerada uma “surpresa”, mas afirmou ter falado do assunto com Lula em 30 de dezembro de 2010. “Eu estive com ele lá em Brasília e aí eu disse: ‘Olhe, chefe, o sr. vai ter uma surpresa e nós vamos garantir o prazo naquele programa lá do sítio’. Ele não fez nenhum comentário, mas não botou nenhuma surpresa”, disse Emilio. Segundo o delator, a ex-primeira-dama Marisa Letícia pediu pessoalmente a funcionários da Odebrecht, no fim de 2010, que fizessem a obra, que custou cerca de R$ 700 mil para a construtora. Quem tratou do assunto foi o ex-diretor da empreiteira Alexandrino Alencar.

O advogado de Lula, Cristiano Zanin Martins, afirmou que as delações comprovam “a inocência de Lula”, e que o petista “não praticou nenhum crime”. “É nítido que a força-tarefa só obteve dos delatores acusações frívolas, pela ausência total de qualquer materialidade. O que há são falas, suposições e ilações –e nenhuma prova. As fantasiosas condutas a ele atribuídas não configuram crime”, disse ele. 

Irmão de Lula teria recebido mesada por 13 anos

Alexandrino Alencar detalhou em depoimento como funcionava o pagamento de mesada a Frei Chico, irmão do ex-presidente Lula. Em depoimento ao Ministério Público Federal, ele contou que o sindicalista prestou consultoria para articulação da Odebrecht com o setor sindical antes da eleição de Lula. Depois da posse, ele passou a receber por mês “graciosamente” o que ganhava pelo antigo trabalho e os pagamentos foram feitos ao longo dos 13 anos de governo do PT. Na planilha da Odebrecht, Frei Chico tinha o codinome de “Metralha”.

De acordo com Alexandrino, ele mesmo fazia pagamentos mensais em encontros no restaurante “Galetos” do Shopping Eldorado, em São Paulo. O acerto era de que Frei Chico recebesse R$ 3 mil por mês. Porém, como a entrega do dinheiro — em espécie — era feita trimestralmente, entregava pacotes de R$ 9 mil. Segundo ele, Frei Chico pediu um reajuste e o valor subiu para R$ 5 mil mensais. O contato com o irmão de Lula teria começado nos anos 1990; Alencar afirmou que, como a empresa tinha problemas na área sindical por conta das privatizações, achou oportuno ter pessoas ajudando na interlocução com os sindicatos.

Carta ao Povo Brasileiro

Em documentos que apresentou ao MP, Emilio afirmou por escrito que a “Carta ao Povo Brasileiro” teve participação da Odebrecht. “Essa carta tem muita contribuição nossa”, escreveu. O documento, divulgado por Lula durante a campanha presidencial de 2002, fez com que o petista conquistasse a confiança do mercado e foi essencial para sua vitória. “Havia uma grande desconfiança acerca de como seria um eventual governo do PT”, escreveu o patriarca da família Odebrecht.

Ajuda a filho de Lula 

Emílio Odebrecht ainda afirmou em seu depoimento que ajudou Luís Cláudio Lula da Silva como se ele fosse um filho seu. De acordo com ele, a Odebrecht bancou cerca de R$ 700 mil anuais de despesas de marketing de uma empresa de Luís Cláudio, que é filho de Lula. Como contrapartida, foi solicitada uma ajuda de Lula para melhorar a relação entre a ex-presidente Dilma Rousseff e Marcelo Odebrecht. “Procurei dar como se fosse meu filho em um processo de formação e de empreendedorismo, para que pudesse montar aquilo que desejasse e que tivesse sucesso”, disse o empreiteiro. Segundo o empreiteiro, a ajuda foi acertada em uma conversa em Angola.

Goela grande

Em anexo que ofereceu por escrito para firmar sua delação premiada, Emilio Odebrecht, relatou ter dito a Lula que o “pessoal dele estava com a ‘goela muito grande'”. “Estavam passando de ‘jacaré para crocodilo'”, apontou. Odebrecht relata como funcionavam as negociações sobre doações de campanha ao ex-presidente e ao PT, mas não detalha quando o episódio teria acontecido. “O pedido de ajuda era de fato feito por ele, diretamente a mim, mas combinávamos sempre de designar um representante de cada lado para negociar os valores e combinar os detalhes”, escreveu.

Em nota, o Instituto Lula informou que o ex-presidente nunca pediu valor indevido à Odebrecht nem “a qualquer outra pessoa”. “Lula não tem nenhuma relação com qualquer planilha na qual outros possam se referir a ele como ‘Amigo'”, diz.

Medidas Provisórias

Em depoimento prestado no dia 13 de dezembro na Procuradoria-Geral da República, Emílio afirmou que procurou o ex-presidente Lula, em 2010, para pedir que ele atuasse junto ao governo na aprovação das Medidas Provisórias 470/09 e 472/09.  De acordo com o patriarca da empreiteira, seu filho, Marcelo Odebrecht, teria solicitado que o pai conversasse com Lula por conta de problemas enfrentados com o então ministro de Fazenda, Guido Mantega.  Emílio contou que essa conversa foi a única interferência dele junto a Lula no assunto das MPs. Após a conversa, contou o delator, seu filho teria dito que Mantega “deu sequência” ao assunto. 

Power Point reeditado

Alexandrino Alencar apresentou em um dos anexos de sua delação um powerpoint sobre suas relações com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o suposto tráfico de influência do petista em benefício da companhia.  No texto, Alencar mostra que entre suas atribuições estava a de “cultivar e fortalecer” os vínculos da Odebrecht com Lula.  Ele ainda relata que entre suas atribuições estava a de “cultivar e fortalecer” os vínculos da Odebrecht com o petista. 

US$ 40 milhões por Angola

Em depoimento prestado ao juiz federal Sergio Moro,  Marcelo Odebrecht afirmou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu US$ 40 milhões à empreiteira em troca da aprovação de um financiamento para obras de interesse da companhia em Angola.

Ele contou que, entre 2009 e 2010, foi procurado por Paulo Bernardo, então ministro do Planejamento, que em nome do petista disse que o governo poderia aprovar o financiamento de US$ 1 bilhão desde que a Odebrecht pagasse os US$ 40 milhões. 

A defesa de Lula

Em meio a tantos depoimentos, Lula classificou como “absurdas” e “inverossímeis” as acusações feitas pelos delação da Odebrecht e deixou claro que está no páreo para as eleições de 2018 em entrevista concedida na manhã desta quinta-feira à Rádio Metrópole de Salvador. “Não sei o que vai acontecer comigo, mas estou na disputa e vou provar que este País pode voltar a ser feliz”, disse o petista durante a entrevista, que foi divulgada no perfil de Lula no Facebook. Ele acrescentou que vai brigar para voltar, para fazer muito mais, porque ele já fez o País “ser quase a quinta economia do mundo”.

Questionado sobre como recebeu as delações da Odebrecht, cujos vídeos e transcrições tornaram-se públicos na quarta-feira, Lula disse que está tranquilo com a situação e que vê o dia 3 de maio, quando prestará depoimento ao juiz responsável pela Operação Lava Jato, Sérgio Moro, como uma “oportunidade” para ouvir as acusações das quais é vítima e para responder com “muita tranquilidade”. “Eu estou muito tranquilo porque desafio qualquer empresário a dizer que o Lula pediu R$ 10 a ele. Se alguém pediu em nome, essa pessoa tem que ser presa, porque eu nunca autorizei ninguém a pedir uma coisa dessas”, acrescentou. 

 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.