Merrill Lynch antecipa 2010, projetando eleição sem surpresas para investidores

Analistas não veem candidatura "populista" viável e engrossam o coro por reformas e investimentos em infraestrutura

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SÃO PAULO – Se a lei eleitoral brasileira veda a antecipação da campanha eleitoral, nada impediu os analistas do Bank of America Merrill Lynch a apresentar suas expectativas em torno do próximo pleito presidencial em 2010 com certo tom otimista.

Enquanto os países vizinhos na América do Sul convivem com a desconfiança dos investidores globais por conta de políticos considerados “populistas”, os analistas entendem que a corrida presidencial do próximo ano não trará “alternativas populistas viáveis”, aproximando o País da manutenção de políticas macroeconômicas pró-mercado.

No relatório produzido pela instituição fica nítida a interpretação dos analistas de que a elevada popularidade do presidente Luis Inácio Lula da Silva deve-se, em muito, à manutenção das metas de inflação, do câmbio flutuante e da disciplina fiscal.

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“As eleições de 2010 devem validar nossa visão de que o Brasil permanece como um interessante caso de convergência aos padrões internacionais”, afirmaram os analistas, referindo-se ao desconto de 16% do mercado brasileiro de ações, à ainda elevada taxa básica de juro e o ritmo relativamente mais lento de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) em relação a seus pares.

Motor interno

O principal componente do PIB destacado pelos analistas é o consumo privado, cuja expansão deverá ser o grande motor da economia brasileira, levando as vendas no varejo a um crescimento de 8% ao ano até 2014.

As causas deste processo são, fundamentalmente, a elevação da renda e o acesso ao crédito, facilitados pela elevação do emprego formal, mas também pela manutenção de baixas taxas de inflação e uma forte política de distribuição de renda pelo poder público.

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Ao mesmo tempo, os analistas esperam que o debate eleitoral incorpore a qualidade dos gastos públicos. “O próximo presidente do Brasil deveria focar a qualidade dos gastos, para assegurar ganhos futuros de produtividade ao País”, afirmaram.

Sua ideia é ampliar os esforços do Governo em áreas como infraestrutura e educação, que aumentariam o potencial de crescimento brasileiro. Embora destaquem o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), cujos investimentos previstos chegam a R$ 646 bilhões, os analistas do BoA Merrill Lynch apontam os elevados gastos de custeio – cerca de 67% das despesas – como o principal problema.

Possibilidade

Outro modo de impulsionar a produtividade do País, segundo o banco, seria o de viabilizar as reformas constitucionais em debate. Mas a equipe de análise não se ilude. “Existem poucos indícios de que a agenda do congresso aponta para uma elevação do crescimento sustentado do PIB”, reconhece.

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No entanto, caso o cenário otimista se confirmasse, levando a uma expansão mais pronunciada do produto, os analistas entendem que os investidores seriam encorajados a adotar o Brasil como referência, em vez de países como China e Índia.