Mercado se anima com “arriscada aposta” no impeachment, mas euforia pode durar pouco

Conforme ressalta a LCA Consultores, impeachment enfrenta importantes desafios, enquanto a economia segue enfrentando dificuldades; para economistas, as chances são maiores do real se depreciar nos próximos meses

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Na quinta-feira (3), no dia seguinte ao anúncio do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) pela admissibilidade do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff, o mercado já deu indicações bem fortes sobre o que achava do impeachment dela. O Ibovespa subiu 3,3%, enquanto o dólar acelerou queda.

E hoje, o benchmark da Bolsa sobe forte, com ganhos de quase 2%, com o mercado olhando para a dura derrota que a presidente teve ontem na Câmara dos Deputados. Em meio a uma sessão tumultuada, a chapa alternativa para a Comissão do Impeachment, com membros da oposição, ganhou por 272 votos a 199. E nem mesmo, a liminar do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Luiz Edson Fachin, suspendendo a instalação da Comissão, deteve o movimento altista da Bolsa nesta sessão. 

Em relatório chamado “A arriscada aposta no impeachment de Dilma”, a LCA Consultores destacou o movimento da última semana, ressaltando a “euforia” do mercado sobre o processo de impeachment. Os economistas ressaltam que, enquanto o dólar voltou a se fortalecer frente às moedas dos emergentes em meio à sinalização de que o Federal Reserve deve subir os juros este mês e em meio à queda do petróleo, o real registrou valorização. Apenas na semana passada, o dólar passou de R$ 3,82 para R$ 3,74, uma queda de cerca de 2,3% da moeda americana.

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A consultoria ressalta que a admissibilidade do pedido de impeachment contra Dilma fez “nascer” a esperança de uma troca rápida de governo. “Os investidores avaliam que um novo governo, com respaldo das principais forças do Congresso terá capital político suficiente para adotar as medidas fiscais necessárias”, ressaltam os economistas.

Entretanto, alerta a LCA, o impeachment enfrenta importantes desafios. Juridicamente, o governo e o PT já sinalizaram que irão recorrer ao Supremo contra essa decisão de Cunha, o que pode sustar esse processo. 

Recentemente, lembra, os ministros Teori Zavascki e Rosa Weber impediram a aplicação das regras estabelecidas por Cunha para o deferimento de um pedido de impeachment através de recurso ao plenário da Câmara Federal, se o Presidente da Casa rejeitasse o pedido.

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“Politicamente, a aprovação do impeachment de Dilma não é fácil, principalmente porque o governo conseguiu, após a recente reforma ministerial, formar uma maioria que impede a oposição de reunir os votos necessários para o impedimento (342 votos). Estimamos que Dilma tem pouco mais de 200 deputados fiéis na Câmara Federal”, afirma a consultoria.

Porém, ela ressalta que a situação pode se alterar até fevereiro ou março quando, provavelmente, se o processo não for previamente interrompido, o impeachment chegará à etapa final na Câmara dos Deputados.

Dois fatores podem alterar esse quadro, podendo ser negativos para Dilma e pender para uma mobilização maior para o impeachment. “O primeiro é a piora da recessão econômica, que pode aquecer a temperatura social do país e mobilizar a população em protestos de massa a favor do impeachment. Outro fator é de ordem política. O risco para o governo é a Lava Jato produzir evidências contra a presidente Dilma e, assim, ampliar o apoio da sociedade à cassação da presidente. Sem o apoio da sociedade, o impeachment não prospera”, afirma a consultoria.

Enquanto isso, a economia real…
Segundo a consultoria, a continuidade da recessão econômica, a piora nas contas fiscais e a incapacidade política do governo implementar medidas que estabilizem a dívida pública farão com que a percepção de Risco Brasil piore.

Desta forma, são elevadas as chances de o Brasil voltar a perder o seu grau de investimento em 2016 por outra agência de rating. “Desta forma, entendemos que são maiores as chances do real se depreciar nos próximos meses”, afirma a LCA, o que pode dar uma freada nos ânimos do mercado. Para os economistas, o valor da taxa de câmbio compatível com os fundamentos de curto prazo é de cerca de trinta centavos acima do valor atual. “Ou seja, a taxa de câmbio deveria estar em torno de R$ 4,10″, afirma a consultoria. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.