Mercado deve manter paciência com desencontros no governo Bolsonaro

O benefício da dúvida do mercado também pode ser favorecido pelo fato de os ativos brasileiros estarem atrasados em relação aos estrangeiros   

Bloomberg

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(Bloomberg) — Os ruídos causados pelas divergências entre o presidente Jair Bolsonaro e sua equipe econômica não devem ser vistos como uma surpresa e nem devem se encerrar tão cedo.

Por outro lado, as idas e vindas no governo vêm tendo efeito limitado no mercado e, desde que a agenda econômica seja ao menos parcialmente preservada, dificilmente matarão o otimismo dos investidores.

O dólar caiu quase 1% desde sexta-feira, após as controvérsias que envolveram Bolsonaro e seus ministros sobre a reforma da Previdência e impostos. No mesmo período, o CDS brasileiro caiu de 203 para 186 pontos e o Ibovespa manteve-se perto de nível recorde.

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Os ativos brasileiros foram favorecidos pelo alívio global trazido fala branda do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, no final da semana passada. É improvável, contudo, que o desempenho positivo tivesse resistido em caso de dúvida mais aguda sobre as reformas.

O mercado tem dúvidas sobre a capacidade do governo de aprovar as reformas. Porém, até pelo fato de as propostas do ministro Paulo Guedes serem vistas como muito ambiciosas e profundas, mesmo uma implementação parcial das mudanças poderá ser suficiente para sustentar o otimismo – desde que sem excluir pontos cruciais, como a Previdência.

“Se ele conseguir que 50% do proposto aconteça, já poderá ser uma revolução”, disse à Bloomberg Ana Carla Abrão Costa, sócia da consultoria Oliver Wyman.

O benefício da dúvida do mercado também pode ser favorecido pelo fato de os ativos brasileiros estarem atrasados em relação ao mercado externo.

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O Ibovespa, por exemplo, bateu o recorde em reais, mas segue longe da máxima histórica de 2008 quando corrigido pelo dólar. Quanto ao câmbio, apesar do bom desempenho recente, o real nem sequer está perto de recuperar os melhores níveis de 2018.

O otimismo do mercado com Bolsonaro, que vinha sendo construído desde antes da eleição, quando Paulo Guedes se juntou à campanha, foi acentuado pela chegada ao Congresso de uma forte bancada do PSL, que reduziu o temor de que o novo governo não teria base de apoio. A eleição de governadores afinados com as reformas nos principais Estados foi outro fator favorável ao governo.

Mais recentemente, o acordo para reconduzir Rodrigo Maia à presidência da Câmara pode garantir um posto fundamental para definir a pauta na casa que costuma a ser a mais desafiadora para o governo federal.

Mesmo que o otimismo mostre resiliência, o investidor deverá se acostumar com ruídos. Bolsonaro é um recém-convertido ao liberalismo, com um passado nacionalista e estatista que volta e meia pode reemergir e se chocar com a agenda genuinamente liberal de Guedes.

O ministro, por sua vez, é novato no poder federal e mostrou no discurso de posse uma audácia reformista que dificilmente deixará de gerar atritos em setores de Brasília ou mesmo na iniciativa privada.

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