Mercado aplaude medidas de Levy, mas elas são o que parecem? Economista segue cético

Em seu blog, o especialista em contas públicas Mansueto Almeida ressalta que o que se vê é muito otimismo com aumentos de carga tributária e preços administrados, corte anunciado ou não do investimento público - mas não há plano de voo consistente

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Enquanto o mercado se animou com as medidas de ajuste fiscal anunciadas por Joaquim Levy na última segunda-feira (19), há também quem se mostre bastante cético sobre quais serão os impactos destes para a política econômica.

Em seu blog, o especialista em contas públicas Mansueto Almeida, destacou ter se surpreendido com as análises positivas que têm recebido sobre as medidas do governo que apontariam para uma mudança real da política econômica, sugerindo que há um esforço perto de 1% do PIB (Produto Interno Bruto) e que haveria um esforço de mais 0,5% do PIB por vir.

“Tudo muito bonito, mas é preciso algumas considerações”, ressalta Almeida, destacando oito pontos. Segundo ele, ao contrário daquilo que os jornais destacam hoje, a economia de quase 1% do PIB ainda está longe de ser realidade. “O número de R$ 18 bilhões de economia este ano com mudanças no sistema de pensões, seguro desemprego e abono salarial ainda é incerto, porque as medidas serão alteradas no congresso e até pelo próprio governo. E o abono salarial a ser pago este ano ainda estará sujeito as regras de 2014″, afirmou.

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Além disso, o contingenciamento de R$ 22 bilhões de despesas de custeio não passa de restrição a emissão de empenho do orçamento. Isso não seria uma economia de R$ 22 bilhões e, reduções de custeio rápidos, quando acontecem, são revertidos depois, afirmou. 

Outro ponto é que, apesar da elevação recente da TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo), de 5,0% para 5,5%, a despesa com juros e subsídios será maior, dada a recente elevação da Selic.

De acordo com Mansueto, “a diferença entre Selic e TJLP que até outubro do ano passado era de 6 pontos de percentagem é agora de 6,25 pontos”. “Todas as vezes que aumenta a TJLP aumenta a custo de equalização dos empréstimos do PSI (Programa de Sustentação dos Investimentos)”, dado que os empréstimos do PSI  – linha de crédito do BNDES – foram concedidos a taxas fixas, de 3%, 5%, por exemplo. Muitos destes empréstimos são de prazos longos, de 5 a 10 anos, dificultando a normalização da situação fiscal, ainda que medidas como essa sejam adotadas daqui em diante.

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Entre outros pontos, uma medida não anunciada formalmente poderá “ajudar” na redução da despesa primária como porcentagem do PIB. É a inflação além do teto da meta de 6,5% ao ano. “Com o forte reajuste de preços administrados e com aumento de impostos, o risco de termos uma inflação de 7% em 2015 aumentou. A justificativa oficial será ‘um realinhamento de preços’, mas a justificativa real é a correção da política econômica equivocada do primeiro governo Dilma”, afirmou o economista.

Em meio a esses e outros pontos, Mansueto ressalta que o que se vê, por enquanto, é muito otimismo com base em um aumento de carga tributária, forte aumento dos preços administrados, corte anunciado ou não do investimento público. Enquanto isso, falta um plano de voo mais consistente.

Em resumo, estou surpreso com as medidas anunciadas pela nova equipe econômica e mostra um esforço grande da nova equipe para consertar a herança maldita na área macroeconômica. Mas não vejo ainda como alcançar um primário de 1,2% do PIB nem tão pouco como voltaremos a crescer perto de 3% ao ano, já que não há ainda clareza de reformas microeconômicas”, afirmou. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.