Medidas impopulares, crise e eleições: o dilema tucano em apoiar um governo Temer

Do governo com FHC à oposição a Lula, o PSDB desaprendeu a fazer o papel do meio na política?

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – O afastamento da presidente Dilma Rousseff por decisão de maioria simples do plenário do Senado já é dado como fato consumado em Brasília. Com isso, o mundo político começa a especular sobre o governo interino de Michel Temer que se desenha enquanto a titular da chapa seria investigada e julgada pelos senadores. Atores importantes para a efetivação do processo de impeachment da petista, membros do PSDB agora se debruçam sobre um nebuloso cenário antes de firmarem posição, mas encontram-se em um dilema: se, por um lado, a articulação pela queda de Dilma coloca o partido em posição teórica de compromisso com o governo que assume, aliar-se à nova gestão marcada por incertezas pode ser igualmente arriscado para o futuro da sigla.

[Nos últimos anos,] O PSDB já viveu a fase da oposição e fez governo. Nunca fez meio. Agora, estamos no meio”, disse um deputado tucano após reunião de bancada. Apoiar um governo cujos resultados são imprevisíveis em um momento delicado para a economia brasileira e de acirramento de disputas na cena política não é tarefa confortável mesmo para parlamentares que apoiaram o impeachment de Dilma na Câmara e devem votar favoravelmente no Senado. As tais medidas impopulares que devem constar na agenda de Michel Temer para a reconquista da confiança dos agentes econômicos representam remédio ainda mais amargo em um ano de eleições municipais.

“Isso cria uma dúvida sobre qual seria o comportamento devido [para o PSDB]. Por mais que alguns falarem que o partido articulou o impeachment a favor de Temer, não. Atuamos pelo crime de responsabilidade”, disse o deputado Nilson Leitão (PSDB-MT) em conversa com o InfoMoney. O parlamentar lembra que a máxima que diz que ‘a primeira impressão é a que fica’ terá ainda mais validade em um eventual governo peemedebista: “A única impressão é a que fica”. Segundo o tucano, não há margem para erros, o que faz com que “exista uma temeridade da forma como [o PSDB] vai participar”.

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“Todos os presentes, em posição quase harmoniosa, fecharam que a bancada vai ser base para aprovar as propostas necessárias para sair da crise. No que diz respeito a cargos, caso ele escolha alguém do PSDB, deve se dar de forma institucional”, explicou Leitão. Desta forma, a sigla busca prevenir cisões ainda maiores durante o governo que entra, evitando assim que cargos sejam distribuídos a diferentes grupos da bancada tucana. Nas palavras do deputado, a intenção é que o PSDB não seja para o governo Temer o que o PMDB foi para o PT. De todo modo, ele reitera que o partido não está a procura de cargos. “Se Temer achar que o apoio no Congresso é suficiente, tudo bem”.

O senador José Serra (PSDB-SP) é um dos nomes que aparecem com mais força para o ministério do peemedebista. Ele é cotado para as pastas da Saúde ou Educação, sendo que o Planejamento também já foi alvo de especulação. Outra que entrou na lista de ministeriáveis de Temer foi a deputada Mara Gabrilli (PSDB-SP), cotada para a pasta de Direitos Humanos. As maiores resistências à eventual participação do PSDB em um governo peemedebistas são atribuídas ao grupo mais próximo ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Antes mais resistente, o presidente do partido, senador Aécio Neves (PSDB-MG), deu declaração de que o partido não deverá se opor a eventuais participações de membros em um futuro governo Temer. A nova posição se deu após o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso defender a postura.

Independentemente dos cargos, a posição da bancada tucana tenderá ao apoio ao governo Temer. “O que vai valer é a semana que vem, na Executiva Nacional. Quem ele quiser convidar do partido fica liberado. Não faríamos uma participação efetiva do governo. Não é um governo de coalizão. Só participaríamos da coalizão no parlamento, não no governo”, disse o experiente deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR), filiado ao PMDB na década de 80.

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Além das exigências de relação institucional, foi ventilada na imprensa a possível existência de outros itens na lista de desejo dos tucanos. Em troca de apoio ao atual governo, eles exigiriam a não disputa por reeleição em 2018 e o afastamento da disputa pelas prefeituras de São Paulo, Fortaleza e Manaus. Nenhum dos deputados ouvidos pela reportagem confirmaram a informação. “Se alguém pediu isso, é uma besteira grande. Cada um que se vire em seu estado”, afirmou Hauly. “Se Michel quer fazer governo de coalizão, ele não pode usar a máquina do governo, direcionar todo poder de fogo para seu partido de forma direta, como o PT fez”, argumentou Leitão.

A bancada tucana apresentará em breve ao vice uma lista de propostas para a superação da crise. Entre os destaques aparecem pacto federativo, reformas no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e em regras para empréstimos nacionais e internacionais. Para Hauly, estão na lista de questões urgentes para o país reformas tributária e política. “É preciso aproveitar esse começo de possível governo e fazer as reformas nos primeiros 12 meses”.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.