Marina fala em falsidade de Aécio, critica ministro de Energia e ataca PT

Candidata foi entrevistada por duas horas pelo jornal O Globo, onde criticou a postura de seus adversários, que estão tentando "desconstruir" sua imagem

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Dando sequência à série de entrevistas do jornal O Globo com os candidatos à presidência, Marina Silva, do PSB, fala na manhã desta quinta-feira (11). Logo de início, a pessebista criticou o sistema energético brasileiro e afirmou que atual ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, “não entende nada de energia”.

Na primeira pergunta, Marina foi questionada sobre quem seriam, no PT, PSDB, e PMDB, o “bons” ela fala quando diz que irá “governar com os bons”, sendo que eles são oposição dela. “Há um descolamento entre a política e as pessoas. Quando digo que quero governar com os melhores, pensam que falo uma aberração. Parto do princípio de que a pessoa que quer o posto mais elevado do país queira governar com os melhores”, disse a candidata.

“Eu sonho com uma governabilidade que seja programática, e não pragmática”, continuou Marina. “A programática é como acontece na Alemanha. O Partido Verde está no governo porque tem um programa. Eles buscam colocar a sua agenda. No caso do Brasil, você tem um ministro de energia que não sabe falar de energia. Um ministro que é vergonha alheia quando fala de energia”, disse. “Posso dizer simbolicamente que existem pessoas boas em todos os partidos”, completa a candidata.

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Ainda sobre as “boas pessoas”, Marina foi questionada porque defende tanto o José Serra, enquanto critica Geraldo Alckmin, sendo que ambos são do PSDB. “Falo do Serra simbolicamente porque convivi com ele no senado. Ele me ajudou a aprovar proposta da borracha. Ele me apoiou e aprovamos o projeto”, disse a candidata.

“Em relação ao governador Alckmin há uma diferença grande. O PSDB está há 20 ano no governo do São Paulo, estamos vivendo uma das nas piores crises de águas. Falta de cuidado, não um plano de racionalização. Não se pode prejudicar a população no contexto eleitoral. O sistema Cantareira está colapsado. São paulo tem dificuldades de lidar com a alternância de poder”, completou Marina.

Com isso, a pessebista aproveitou para reforçar sua proposta do fim da reeleição. “Não sou contra a reeleição, mas se para isso tem que se maquiar uma crise hídrica, é isso que isso faz. Então, a reeleição passa a ser um atraso”, completou.

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Marina também falou sobre renovação de partidos e o fato de que ela está sempre buscando negociar apoio com os políticos e não com seus partidos. “Fomos para os extremos… os partidos deviam estar a serviço das pessoas. São as pessoas que nos dão a chance de renovar os partidos. Pessoas virtuosas criam partidos virtuosos e instituições virtuosas corrigem pessoas quando elas falham em suas atitudes. Partidos perderam o vínculo com a sociedade”, disse a ex-ministra.

A candidata aproveitou o assunto para citar e “cutucar” o PT sobre as recentes denúncias envolvendo as propinas com a Petrobras. “As pessoas não podem confiar em um partido que coloca por 12 anos uma pessoa para assaltar os cofres da Petrobras. Hoje nós criamos uma anomalia no Brasil, que é a classe política, não existe classe política. Os políticos são colhidos nas diferentes classes: trabalhadores, empresários, juventude e até movimentos religiosos”, afirmou.

“Espero que os partidos compreendam que o mundo está mudando, que existe um novo sujeito político, que quer papel de autor, mobilizador, que deve se refletir nos movimentos. Ao contrário dos meus concorrentes, acho que vai ser muito bom para PT e PSDB, os partidos da polarização”, continuou. “É uma Síndrome de Estocolmo, se apaixonaram por seus sequestradores. Já temos 39 ministérios e só não é criado mais um por constrangimento simbólico”, completou Marina.

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Os jornalistas do O Globo questionaram a candidata sobre o fato de ela defender uma renovação da política e, ao mesmo tempo, afirmar que quatro anos são suficientes para colocar algo desse tipo em prática. “Não. quatro anos é só para o começo. É preciso criar uma nova qualidade para o processo politico. Fico imaginando o dia seguinte da população com a presidente Dilma sendo reeleita. Como acordar com tudo igual no dia seguinte. Sem mudança, fica tudo como está. Vamos ter a clareza de que ninguém vai aderir a ninguém. Quatro anos podem dar crise de abstinência de quem quer muito o poder”, respondeu Marina.

“São quatro anos para mim e cinco para os próximos, porque não dá para mudar as regras do jogo no meio do mandato”, continuou. Sobre o fato de tentar uma possível reeleição, Marina afirmou que “o partido não pode me obrigar a sair candidata”, e que não vai mudar de ideia se for eleita. “Quero que o Brasil tenha uma nova maneira de caminhar. Estamos no fundo do poço. Estamos vivendo um atraso na política. A política econômica está ameaçada, com um crescimento pífio”, completou.

“Existe uma visão no Brasil de que o presidente da República tem que ser gerente. Lula não era gerente, era um homem com visão estratégica, assim como o Fernando Henrique. Em 2010, passou a ser um concurso de gerente, com Dilma e Serra. Aí acontece o que está acontecendo com nosso país”, criticou a candidata.

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Política econômica
A jornalista Miriam Leitão questionou as propostas da candidata em relação à economia. “Não entendo o seu remédio [para a crise]. A senhora fala em aumento de gastos, aumentar o superávit para combater a inflação. E fala em não aumentar impostos. Como fechar a equação?”, perguntou.

“Eu diria aumentar investimentos. Os recursos da educação não são gastos, são investimentos. Existem muitos projetos dentro do governo federal que começam em R$ 6 bilhões, R$ 7 bilhões e terminam em R$ 30 bilhões, isso é incompetência, superfaturamento e corrupção. Se combatermos isso, já dá para investir na educação”, respondeu Marina.

“Nós precisamos de uma coisa também. Recuperar a credibilidade do país. Sem credibilidade não há investimento, não há crescimento. Estamos comprometidos em fazer um conselho de responsabilidade fiscal e estamos comprometidos com um reforma tributária. Fatiada, como queria o Eduardo Campos”, completou.

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“Nos últimos anos estamos vendo falarem que a crise é uma marolinha e agora está sendo engolido por um tsunami. Enquanto os outros [países] enfrentam juntos a recuperação da crise a gente está sendo engolida por ela. Precisamos restabelecer a economia para manter os programas”, continuou a candidata.

Marina ainda aproveitou para, ao falar de mudanças na economia, cutucar as declarações da atual presidente de que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, não continuará no governo se for reeleita. “A presidente Dilma já falou de todos os erros que já foram praticados. A presidente Dilma sabe que a pior notícia para os brasileiros é dizer que vai persistir no mesmo erro e aí demitiu seu ministro de Economia. Mas essa demissão foi feita pelos brasileiros”, disse.

“Ela está dizendo que vai reduzir inflação, mas não diz que o método é crescendo juros. É possível que se faça isso também por outros meios. Quem disse que para diminuir inflação é por meios ortodoxos? Estamos fazendo discussão séria, com profissionais sérios, com pessoas com contribuição no serviço público e iniciativa privada. Podemos fazer as correções, mas preservando os meios. Esse é o nosso compromisso. Hoje estamos dando a boa notícia, de que podemos fazer as duas coisas juntas”, completou Marina tentando se defender de acusações de que as mudanças políticas passariam, inevitavelmente, por uma alta dos juros.

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Religião
O colunista do O Globo, Ancelmo Gois voltou ao assunto de Marina dar maior prioridade às pessoas em vez de lidar com os partidos. “De certa maneira, satanizar partido não é satanizar a democracia?”, perguntou. “Quem disse que eu estou satanizando os partidos? Estou fazendo um esforço político, dizendo isso [sobre a renovação] agora, mesmo falando que os partidos estão vivendo em profunda dificuldade.O partido deve ser um espaço em que as pessoas devem debater os seus interesses”, respondeu a pessebista.

“Eu vou conversar com a instituição, mas espero que ela seja renovada pelas melhores pessoas. Estou fazendo a aeróbica do bem. Não estou fazendo a aeróbica do mal. Eu não fico perdendo tempo falando em Sarney, Renan. Prefiro falar em Jarbas, Simon. Eu não sei mais o que é satanizar. Depois vão falar que é porque sou evangélica que estou falando em satanizar”, completou Marina, que levou o assunto à questão religiosa.

Arthur Xexéo, colunista do jornal, questionou se ela acha que sofre preconceito por sua religião: “Hoje, sua candidatura sofre problemas de crescer por causa disso? a errata que foi feita no seu programa, sobre a questão LGBT, que era moderna, arrojada, tem a ver com a sua religião?”, questionou.

“Sou uma pessoa que sou religiosa desde que pequena. Nasci num berço católico. Em 1996 me converti a fé evangélica. Nunca neguei minha fé. Não acredito que precise negar a sua fé para se ter um estado laico. Imagina se o presidente precisa negar a sua fé, imagina o que o cidadão comum vai pensar, se ela negar a sua fé, como terei a minha garantida?”, disse a candidata.

“Tenho 16 anos de senado, veja se defendi algo religioso? Uma vez neguei um projeto que me gerou problemas que era de se ter bíblias nas bibliotecas. Dei um parecer contrário, dizendo que as igrejas podem doar bíblias, e as bibliotecas podem aceitar, mas isso não pode partir do estado”, continuou. 

Sobre as mudanças no programa de governo, Marina voltou a explicar que a coordenação do partido fez as correções. “Tinham duas coisas erradas: a ampliação da energia nuclear e a questão LGBT. O documento do movimento LGBT saiu na íntegra. Nada saiu na íntegra. Nem se eu mandasse uma proposta de meio ambiente não sairia sem discussão. Houve um erro”, explicou.

“No programa dos meus adversários não tem uma linha. A questão da adoção, inclusive, está lá. A criança é a prioridade. A adoção está garantida desde 2010. Se o casal, qualquer ele que for, será aprovado”, concluiu.

Mensalão e pré-sal
Questionada sobre qual seria sua opinião em relação ao Mensalão, assunto que Marina pouco comenta, a candidata lembrou de sua posição quando o caso apareceu: “Quando veio à tona, eu estava no Ministério do Meio Ambiente. Eu sempre disse que deveria ser investigado. Quem era inocente, ser inocentado e quem era culpado, deveria ser punido. Era isso o que eu dizia. Não gosto da ideia de usar a corrupção para me promover, pelos malfeitos dos outros. Quero sempre apresentar uma proposta melhor do que meus concorrentes para me promover”, disse.

“Meu estado teve dois deputados que foram pegos porque receberam dinheiro para aprovar reeleição. Foi aí que começou esse projeto perverso de aliciamento. O Brasil precisa aprender com tudo isso. Em vez de nos alimentar desses erros, criar mecanismos para eles serem paralisados. Mecanismos que não permitam que vivamos expostos a isso. Naquelas manifestações, não havia nenhum cartaz ‘Fora Dilma’, as pessoas queriam saúde, educação…”, completou.

Marina ainda foi questionada sobre seu posicionamento em relação ao pré-sal, que ainda tem sido muito discutido, principalmente porque a candidata não concordar muito com o uso de combustíveis que prejudiquem o meio ambiente. “Os combustíveis fosseis e o petróleo não tem como, ainda, ser substituído e a humanidade tem que achar meios para substituir. Ao dizer que o Brasil busca outras gerações limpas não significa que vai ser deixado de ser explorado”, disse.

“Vamos sim explorar o pré-sal. O que ameaça ele é a Petrobras, que está quatro vezes mais endividada do que antes. Que as riquezas possam ser alavancadas em algumas coisa. O que houve foi uma cortina de fumaça, talvez já soubesse do escândalo que estaria por vir, para desviar a discussão”, completou.

Energia

No tema da energia, os jornalistas do O Globo perguntaram para a candidata se ela teria vetado obras de grandes hidrelétricas quando estava no governo, se ela dificultava os licenciamentos das usinas. “Nós tínhamos 40 licitações que tinham graves problemas, inclusive com questionamentos do Ministério Público sobre questões ambientais. Só 8 licenciamentos não foram resolvidos quando saí do governo. Demos as licenças mais complexas que poderíamos dar” disse Marina.

“Dilma foi chefe da Casa Civil, Minas e Energia, e esteve nos cargos mais elevados. Como pode alguém dizer que a culpa do apagão é de uma outra pessoa? É subestimar a inteligência das pessoas”, continuou a candidata. “Muitas vezes há seguimentos que não têm como atender os requisitos legais. E culpa o órgão licenciador”, afirmou.

Sobre Belo Monte, Marina disse que “existe um regramento que foi feito pelo atual governo”. “É preciso que o empreendimento possa responder às três condicionantes: social, econômica e ambiental. É perfeitamente possível fazer dessa forma”, completou.

Já sobre a usina nuclear de Angra 3, a candidata disse que “a licença foi tomada em uma avaliação técnica e não política, durante o meu mandato como ministra do meio ambiente. E ela foi dada independente da minha visão politica sobre usinas nucleares”.

O Brasil não precisa desse tipo de energia. Mas não trato do que já está ai, claro. Nós temos quatro Belo Monte em cana. Nós temos a necessidade de produzir essa energia perigosa. Não vamos mexer no que está. Eu fico animada por que eu sei que é possível fazer as coisas de forma correta. O etanol brasileiro é uma conquista e hoje vivemos uma situação lamentável”, completou Marina.

Ataque dos adversários
Marina também foi questionada sobre os ataques feitos por Aécio e Dilma, que têm desconstruído a candidata, dizendo, entre outras coisas, que ela acabaria com o Bolsa Família e que o Itaú iria governar o País. “Ele [Aécio] se perfilou ao PT fazendo a mesma forma de desconstrução. A pior desconstrução é a que parte do elogio falso. A pior forma de desconstrução é falar que ela é boazinha, mas é inexperiente. Porque é um preconceito contra a minha origem”, disse Marina.

A candidata ainda criticou essa forma de, em vez de mostrar o que podem fazer, os adversários preferirem tentar desconstruir o que ela irá realizar. “Querem ganhar as eleições com o cheque em branco, e fazer o que quiserem. Eu sempre tive uma atitude contrária contra esse tipo de coisa. Conheço muita gente séria que está muito incomodada com o que Aécio e a Dilma estão fazendo comigo”, disse.

“Eu não quero ganhar de qualquer jeito. Eu prefiro perder ganhando do que ganhar perdendo. Eu quero ganhar ganhando. Prefiro falar que vou sim conversar com Lula e Fernando Henrique”, continuou. “Não quero fazer uma campanha na mentira, no boato. Toda hora quero debater o Brasil, mas sempre me perguntam sobre o que o Aécio e Dilma falaram”, criticou.

Queda de avião
Por fim, Marina voltou a explicar a falta de informações sobre as denúncias envolvendo a aeronave. “Eduardo precisava de um avião para fazer seus deslocamentos e procurou empresários que tinham um avião e iria pagar conforme a lei. A Justiça está investigando. Aguardamos essas investigações, também queremos as informações”, disse.

“A morte física foi uma fatalidade. A morte simbólica é a pior coisa que existe. Quando Chico Mendes morreu, tentamos não deixar a morte simbólica. Chegaram a dizer que o matamos para ele virar um mártir”, continuou.

“Queremos a verdade que vem das investigações, doa a quem doer. Que o Ministério Público, seja quem for, investigue. Não queremos que ele seja julgado ou morto duas vezes. Devemos ter uma postura de compromisso com a verdade. A nova política é você saber que às vezes tem que pagar um preço muito alto. Não temos como esclarecer aquilo que era responsabilidade dos empresários”, completou Marina.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.