Marina admite erro em plano de governo e ressalta que terá apenas um mandato

Candidata foi entrevistada por 1 hora pelo Estadão e falou sobre energia, mudança em plano do governo e também aproveitou para rebater as declarações de Dilma Rousseff

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – A candidata do PSB, Marina Silva, participa nesta terça-feira (2) da série de entrevistas que o jornal O Estado de S. Paulo realiza com os presidenciáveis. Uma das primeiras questões feitas para Marina se refere às alterações feitas no programa de governo dela, principalmente no assunto dos direitos da comunidade LGBT.

Eu gostaria que você comparasse o meu programa em relação a comunidade LGBT com a da Luciana Genro, com a da Dilma, com a do Aécio. A proposta onde a comunidade está mais contemplada em relação aos seus direitos é o nosso programa”, disse a candidata. Sobre as mudanças feitas no plano de governo, Marina confirmou que houve um erro.

“Eu e o Eduardo revisamos o programa página a página. E o que foi para editoração, fruto do debate entre diferente setores, não foi aquilo que havíamos conversado”, explicou Marina. “Houve um erro de processo. O próprio movimento LGBT enviou uma carta dizendo a mesma coisa que a equipe explicou”, concluiu.

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“Uma questão importante é o fato que nosso programa de governo foi feito com a participação de mais de seis mil pessoas. Fizemos vários seminários temáticos e semanais. E a própria coordenação admitiu que houve uma falha no processo e que duas questões foram colocados inadequadamente”, disse a candidata.

Ainda sobre o assunto, Marina tentou minimizar a polêmica que tem sido sobre o fato de ela ter alterado o programa. “Olha, tem muitas questões que as pessoas fazem uma certa mitificação. Nesse caso, não é a primeira vez que um programa de governo apresenta um erro de processo e não exatamente no mérito das questões trabalhadas”, afirmou Marina.

Ela aproveitou o momento para citar erros no plano de Dilma em 2010. Em 2010 a presidente Dilma rubricou folha por folha e depois recolheu o programa inteiro. Ali havia o imposto sobre grandes fortunas, sobre o incentivo à invasão de terras e alguma coisa sobre o aborto. E depois ela explicou que o documento não era exatamente o que ela rubricou folha por folha”, completou.

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Questionada sobre a fala de Dilma, que ontem afirmou que irá criminalizar a homofobia, e se ela distribuiria um “kit gay” nas escolas, Marina desconversou. “A escola tem um papel importante para acabar com qualquer forma de preconceito. Qualquer que seja a pessoa, a escola tem uma função importante em trabalhar com o respeito e com a diversidade. Vivemos uma realidade que o respeito ao outro deve ser exercitado e isto começa na fase em que a criança está formando sua subjetividade”, disse.

Apenas um mandato
Sobre sua filiação ao PSB e sobre as declarações feitas por Marina, que disse que se eleita terá apenas um mandato, a candidata explicou que quando tentou criar o Rede, teve o pedido negado. “Quando eu estava fazendo a Rede e infelizmente foi um projeto interditado, naquela oportunidade eu fui acolhida pelo Eduardo Campos e pelo PSB. E a sugestão de fazer uma parceria administrativa temporária foi do Eduardo, lembrando que na época da ditadura os partidos que não eram legalizados utilizavam desta estratégia”, afirmou. “Sou o primeiro partido clandestino da democracia. E ainda bem que o PSB me acolheu”, concluiu.

“Se eleita presidente, eu serei a Presidente da República das forças políticas que me elegeram e da sociedade brasileira, principalmente. Por isto afirmo que terei apenas um mandato”, disse Marina. “Meu compromisso é de estar junto com o PSB e os demais partidos, homens e mulheres que querem fazer que o Brasil preserve as conquistas”, afirmou.

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Congresso
Marina também foi questionada em como fazer com que suas propostas sejam aceitas no Congresso, mesmo se não for maioria. “Existem aqueles que estão presos as velhas estruturas… Que estão acostumados para conseguir maioria do congresso precisa do pragmatismo, precisa dar uma parte do Estado”, disse a candidata.

“Nós aprovamos as leis mais difíceis no Ministério do Meio Ambiente. Quando eu fui falar com o governo, sabe o que eu ouvi do Ministro Chefe da Casa Civil? ‘Marina, você é Senadora, vá falar com seus pares’ e eu fui. Eu acredito e valorizo o Congresso na capacidade do diálogo. É preciso ter disposição para conversar e convencer”, completou Marina.

A candidata do PSB também criticou a atual política do País, dizendo que os partidos não têm evoluído suas propostas. “As pessoas tem uma certa dificuldade para entender o que está acontecendo com a política no Brasil e no Mundo. Fiquei 30 anos no PT e minha razão da saída do partido foi que eles não tiverem a percepção de atualizar suas bandeiras para uma nova visão de desenvolvimento… A maioria dos partidos tradicionais da esquerda tem dificuldade para ter essa percepção”, disse.

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“Fui para o PV não para ser sua candidata, mas para modernizar o partido. Em 2010 conseguimos essa mudança. E depois que terminamos com 20 milhões de votos o PV não aceitou essa modernização. Seria incoerente falar de democracia em um partido que não elege seus próprios dirigentes”, afirmou.

Ministérios e crescimento econômico
Questionada sobre as mudanças que faria para fazer a economia voltar a crescer, Marina disse que a decisão não é dela, e sim do cidadão. “O cidadão que quer manter a polarização que mantém o Brasil parado, vai ficar para trás. Agora o cidadão que quer um governo que vai trabalhar o crescimento, nosso compromisso com a autonomia do BC, quer ver o País adquirindo confiança para voltar a crescer, vai nos dar essa chance”, disse a candidata.

Sobre os ministérios, Marina não quis dar nenhum nome e deixou claro que não deve fazer isso antes de ser eleita. “Acho muito temerário essa ideia de andar de salto alto de nomear ministros antes de ser eleito. Agora se você sente uma certa insegurança do que você esta fazendo, do que você está dizendo, talvez seja necessário. Primeiro você tem que ser garantido pelo cidadão”, afirma Marina.

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“Em relação ao Ministério do Meio Ambiente, eu serei presidente da República, pode ficar tranquilo que não serei eu”, completou em tom de brincadeira.

Em relação à crise econômica, que Dilma insiste em dizer que é a culpada pela falta de crescimento do Brasil, Marina questionou: “Todos os Países que sofreram com a crise econômica já estão se recuperando e o Brasil, que falava que seria uma marola hoje corre risco de ser engolido por um tsunami”, disse.

“Nós tivemos agora uma pesquisa que foi feita pela CNT que diz que o Brasil reduz pela 10ª vez sua perspectiva de crescimento. Nos queremos que o Brasil cresça e se desenvolva para que possa se ter bens e serviços para as pessoas. Não tem sentido um País como o nosso perder 56 mil vidas por assassinato por exemplo”, completou.

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Polarização política
Marina também aproveitou para voltar a falar sobre a renovação da política e sobre a atual polarização entre PT e PSDB. “A quebra da polarização pressupõe uma nova qualidade no processo de alinhamento político. Por isto eu e o Eduardo não quissemos ficar nesse lugar de oposição por oposição, que só vê defeitos. Assumimos o lugar de quem quer ter posição. O PT e o PSDB foram para um distanciamento tão predatório que está prejudicando o nosso País”, afirmou.

A candidata ainda destacou que aceitaria conversar com outras lideranças políticas. “Conversar com Lula e com FHC é melhor que conversar com Antônio Carlos Magalhães, Renan Calheiros ou José Sarney. Vamos conversar com todos os partidos. A velha República tem que ser aposentada”, disse.

Sobre a citação à Calheiros, Marina foi questionada pelo fato de ele ser presidente do Senado. “O Congresso é autônomo, eu respeito a autonomia do Congresso Nacional. Os parlamentares da base do governo vão votar em um candidato. O Presidente do Congresso é eleito para representar a instituição. Conversaremos com quem for eleito, mas não como se ele fosse subordinado ao executivo”, completou.

Matriz energética e Petrobras
Outro tema abordado foi a questão da matriz energética brasileira, na qual, segundo o plano de governo de Marina, grandes mudanças seriam realizadas, focando muito em energia renovável, em detrimento, principalmente da termoenergia. “A questão da matriz energética brasileira é um desafio. O Brasil para crescer precisa de energia é uma das maiores fontes é hidroelétrica. E não temos nenhum preconceito a hidroelétricas. O que nos procuramos é buscar a viabilidade econômica, social e ambiental para os projetos”, disse.

“Queremos que a matriz energética continue limpa e segura. Hoje perdemos quatro Belo Montes pelo não aproveitamento do bagaço da cana do açúcar”, completou. “Ninguém está propagando que elas (as temoelétricas) sejam desativadas. Não é prioridade uma única fonte de geração. Temos que ter uma matriz energética diversificada”, disse Marina.

Voltando ao discurso apresentado no debate eleitoral de ontem, Marina falou sobre a utilização de recursos do pré-sal. “O pré-sal é uma riqueza que precisa ser explorada com as melhores tecnologias. Cujas riquezas serão usadas em educação. Essas riquezas serão utilizadas na escola de tempo integral. O pré-sal é fundamental. Agora o que é fundamental também é investir em novas fontes de geração de energia”, afirmou.

Já sobre o uso político da Petrobras, Marina foi enfática: “A Petrobras não pode ser utilizada politicamente, inclusive como instrumento de maquiar os desmandes fiscais que o governo tem. A Petrobras tem problemas graves que precisam ser investigados para que a empresa tenha eficiência e consiga atuar no mercado. Ela não pode ser utilizado politicamente”, disse.

“O que está sendo feito com os preços administrados para controlar a inflação tem um custo muito alto para todos os brasileiros. Espero que a presidente Dilma o faça e assuma as responsabilidade que tem. Ela tem que fazer a correção dos erros que cometeu, administrando os preços para controlar a inflação de forma artificial”, completou.

Resposta à Dilma
Como última pergunta, Marina foi questionada sobre as declarações de Dilma Rousseff durante o programa eleitoral desta terça-feira, onde a petista comparou a candidata do PSB à Jânio Quadros e Fernando Collor de Mello. “A sociedade brasileira me conhece, conhece os valores que eu defendo a luta que eu tenho por mais de 30 anos. Comecei como vereadora, deputada, Ministra do Meio Ambiente… Se eu dissesse que uma pessoa que não foi eleita nem vereadora seria eleita presidente do Brasil, aí sim eu diria algo”, finalizou.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.