Mapa Mundi: o que esperar para o início deste semestre após as emoções já vistas em 2017

O primeiro semestre foi de fortes emoções - e a segunda metade do ano também promete

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Após primeiros seis meses de fortes emoções, o segundo semestre de 2017 chega com um quadro repleto expectativas – e incertezas, principalmente em meio à crise política no Brasil.

Neste cenário, o investidor deve seguir bastante atento ao ambiente geopolítico nacional, mas sem desgrudar os olhos do exterior, que terá sinalizações importantes de política monetária. Com tantas variáveis no radar, o InfoMoney faz o “Mapa Mundi”, que conta com os principais acontecimentos de junho e no que ficar de olho no mês que se inicia.

O “Mapa Mundi” também é uma espécie de guia para os investimentos recomendados na Carteira mensal InfoMoney, cujo portfólio de julho será divulgado na próxima sexta-feira (7) às 14h (horário de Brasília). A carteira será enviada na sexta-feira para os leitores que se inscreverem neste link.  Aos alunos do curso Como Montar uma Carteira de Ações Vencedora, a Carteira já está disponível na comunidade de alunos do Facebook desde o último pregão de junho, dia 30 (não conhece o curso? Clique aqui). Confira o Mapa Mundi abaixo:

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Brasil – as primeiras pedras saem do caminho, mas outras maiores barram a passagem

Os primeiros seis meses de 2017 mostraram como a política do Brasil tem capacidade de surpreender, mesmo quando parecia não haver mais limites para o que pudesse ser revelado. Após mais de três anos de Operação Lava Jato, o ambiente político parecia no limite da deterioração e o instinto de autopreservação dos políticos aumentava à medida que a eleição de 2018 chegava. Com isso, as reformas impopulares, principalmente da Previdência, passavam por um caminho bastante turbulento. A expectativa era de maiores concessões para a reforma da Previdência e o governo encaminhava para aprová-las. Caminhava. O dia 17 de maio chegou e, com ele, a divulgação de uma notícia de que o presidente Michel Temer foi gravado por Joesley Batista, dando aval para que Eduardo Cunha recebesse dinheiro do empresário e, em troca, ficaria em silêncio. A reação foi imediata tanto na “vida real” (o Jornal Nacional daquela noite dedicou-se completamente ao evento) quanto nos mercados financeiros, com os ADRs (American Depositary Receipts) brasileiros derretendo no after hours de Nova York e com o Ibovespa no dia seguinte acionando o “circuit breaker” (quando as negociações são paralisadas por 30 minutos após o índice superar 10% de queda) pela 1ª vez desde 2008. Um adendo ao “circuit breaker”: em 2008, o motivo das paralisações foi exclusivamente internacional, com a crise do subrpime dos EUA chegando ao seu nível mais grave. A última vez que o Ibovespa havia acionado essa “trava de segurança” por razões nacionais foi apenas no século passado, em janeiro de 1999.
 

Assim, se Temer era um antes desse dia, passou a ser outro depois. De reformista a sobrevivente, o peemedebista passou a viver um dia de cada vez na presidência. Por enquanto, ele tem se desviado dos percalços pelo caminho. Mas, à medida que Temer supera um obstáculo, outro o desvia a atenção, a oposição a ele aumenta e o debate sobre as reformas e a retomada do crescimento econômico parecem cada vez serem mais ofuscadas, enquanto a recessão volta a entrar no cenário-base de muitos analistas de mercado. 

O mês de junho foi bastante emblemático neste sentido. Ao mesmo tempo que o 1º de junho marcou a divulgação da primeira leitura positiva do PIB após oito trimestres de retração, economistas cortavam a projeção para a economia de olho na deterioração da confiança com o “Friboigate” e o cenário pior para as reformas.

Os últimos dados de varejo e de emprego divulgados até o final de junho mostravam clara recuperação, mas não empolgavam por um único motivo: eles não incluíam o período pós-divulgação do áudio. A dúvida agora é saber  como serão estes mesmos indicadores após o Friboigate.

Na política, o cenário não é diferente. O TSE (Tribunal Superior Eleitoral), em uma decisão bastante controversa, absolveu o presidente Temer (e, por tabela, a sua antecessora Dilma Rousseff), do crime de abuso de poder político e econômico na campanha vencedora de 2014. Alguns chegaram a dizer, ironicamente, que a chapa foi absolvida por “excesso de provas”, em uma decisão que excluiu as delações da Odebrecht da ação. A ironia, por sinal, estava no fato do processo ter sido instaurado por conta de um pedido do PSDB, um dos partidos da base aliada do governo Temer e que teve um de seus principais quadros, o senador Aécio Neves, também quase ferido de morte pelo escândalo do Friboigate – quando foi  revelado  que ele pede R$ 2 milhões a Joesley. Na gravação, aliás, o tucano derrotado em 2014 afirma que entrou com a ação no Tribunal Eleitoral só para “encher o saco do PT”. Também impactado pelo escândalo, o PSDB decidiu seguir ao lado do governo Temer, mas não sem divisões internas, com os cabeças-pretas defendendo a saída. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, de 85 anos, passou a flertar com o movimento dissidente e pediu que Temer tivesse um “gesto de grandeza” e antecipasse eleições. Algo que, pelo andar da carruagem, Temer nem cogita fazer. 

Vencida a batalha no TSE, o presidente tem que passar pela denúncia do PGR (Procurador Geral da República) Rodrigo Janot na Câmara dos Deputados. Aliás, AS DENÚNCIAS, no plural,
uma vez que a perspectiva é de que o procurador entre com pelo menos mais duas nos próximos meses, o que pode minar (ainda mais) o capital político do peemedebista. A avaliação é de que o presidente possa sofrer mais dificuldades para barrar a denúncia do que inicialmente previsto com possíveis deserções de integrantes do partidos do centrão, do PSDB e até do próprio PMDB. A depender do termômetro na Câmara, o presidente e a sua equipe vão se concentrar mais na sobrevivência política do que nas famigeradas reformas, enquanto muitos integrantes do governo querem adotar os conhecidos “pacotes de bondades” para angariar a popularidade do presidente. Por enquanto, a equipe econômica vem barrando tal intenção – e é dela também que vêm algumas notícias importantes que dão confiança ao mercado e não permitem um ambiente ainda mais deteriorado. A inflação baixa dos últimos meses e a credibilidade do Banco Central têm garantido a perspectiva de que o ciclo de corte da Selic continuará, gerando um alento econômico em meio a um ambiente tão deteriorado. Soma-se a isso a decisão do CMN (Conselho Monetário Nacional) de reduzir o centro da
 meta de inflação de 2019 (para 4,25%) e 2020 (4,0%), apontando para uma maior convergência do País em relação aos outros emergentes. Porém, Banco Central, Ministério da Fazenda e Ministério do Planejamento seguem com os olhos bem abertos para a política. No curtíssimo prazo, contudo, a avaliação é de que a crise atual terá impacto deflacionário, o que viabiliza a continuidade da política monetária do pré-crise. Já no longo prazo, as incertezas só se acumulam. 

Enquanto até o amanhã é incerto, analistas políticos e economistas voltam os seus olhos para o final de 2018. Mais precisamente em outubro, quando se darão as eleições presidenciais, “as mais importantes em muito tempo”. Lula, réu em cinco inquéritos na Operação Lava Jato e com uma possível sentença de Sérgio Moro podendo ser revelada a qualquer momento, mantém a dianteira, sendo seguido por Marina Silva e Jair Bolsonaro. Ninguém se arrisca a cravar um resultado para o pleito do ano que vem, mas a perspectiva de uma eleição amarga e com grandes consequências para a agenda de reformas entra no radar.  Aliás, a participação de Lula é essencial para definir como ela será. Pulverizada ou polarizada? Propositiva ou só de ataques?

Apesar de um ambiente bastante incerto, algumas reformas têm avançado, caso da trabalhista, que deve ir ao Plenário do Senado ainda na primeira quinzena de julho, após o susto na CAS (Comissão de Assuntos Sociais), em que o texto foi rejeitado em uma vitória da oposição e levou à avaliação de um quadro ainda mais deprimente para as reformas. Contudo, o governo conseguiu reverter a sinalização com uma vitória folgada em outra comissão, a CCJ e a perspectiva é de que a reforma seja aprovada em plenário. Para ser aprovada pelo Senado, ela requer maioria simples (ou 41 dos 81 senadores). Porém, se por alguma hipótese, ela não passar, essa será a pá de cal para as reformas no governo Temer.  O Copom, que decidirá a nova taxa Selic em reunião do dia 26 de julho, certamente estará atento a isso. Além da decisão final, o placar será avaliado com atenção. A deterioração da política e os seus impactos econômicos, além do imponderável da Lava Jato, também seguirão no radar. Os protestos, até então tímidos e sinalizando apatia da população, podem ganhar forças. O movimento Vem Pra Rua marcou manifestação contra a corrupção para o próximo 27 de agosto e o Fora Temer está na pauta. A força (ou não) das manifestações populares e novas revelações na política podem virar totalmente o cenário ou confirmar a tendência à letargia até 2018.

 Principais eventos do Brasil em julho:

Reforma trabalhista no Senado – 1ª quinzena de julho

Reunião do Copom – 25 e 26 de julho

Votação na CCJ da Câmara da primeira denúncia de Janot – sem data marcada

Estados Unidos – Fomc dovish ou hawkish?

Os próximos passos da economia americana são fortemente monitorados pelo mercado, que fez uma leitura de um Federal Reserve “dovish” (brando, apontando para altas de juros mais graduais após a alta de 0,25 ponto percentual) na última decisão de junho, mas que sofreu um chacoalhão com os discursos mais duros de dirigentes da autoridade monetária, criando algumas dúvidas sobre o gradualismo da alta dos juros nos EUA. Assim, a ata da última decisão do Fomc e os dados de emprego do país a serem revelados logo no início do mês serão importantes para sinalizar o rumo que o Fed irá tomar. Aliás, a ata será observada com atenção por conta de outra medida da autoridade monetária: a expectativa de que ela aponta como se dará a redução do balanço de ativos da instituição.

Já na política, o noticiário de junho também foi movimentado mais uma vez por conta do presidente Donald Trump. No início do mês, o americano anunciou que os EUA estavam fora do acordo de Paris sobre o clima, o que motivou críticas de diversos líderes globais (ncluindo americanos) por conta do descompasso do país frente à tendência mundial de preservação do meio-ambiente. Porém, Trump segue convicto nos benefícios de sua decisão, dizendo ter muito orgulho de tê-la tomado e apontando que ela protege os trabalhadores e as companhias do país.

O presidente americano, por sinal, teve contratempos e vitórias neste mês. O seu decreto imigratório entrou parcialmente em vigor após muitas decisões judiciais. Com isso, a entrada de viajantes e refugiados de 6 países de maioria muçulmana será barrada., com a exceção de quem comprovar relação com familiar próximo ou entidade nos EUA. Por outro lado, as suas relações com a Rússia seguem no radar. No início do mês, o ex-diretor do FBI James Comey falou ao Senado e acusou Trump de mentir, difamar e dar diretrizes a ele sobre a investigação de interferência russa, mas sem dizer com todas as letras de que o líder americano obstruiu a Justiça (o que poderia desencadear um processo de impeachment). Por enquanto, sem maiores consequências. Mas, se levado em conta o (extremo) caso brasileiro, o imponderável pode acontecer – e afetar todo o cenário.

 

Principais eventos dos EUA em julho:

03 – Mercados dos EUA fecham às 13h, no horário local, devido ao Dia da Independência

04 – Feriado de Dia da Independência dos EUA (mercado fechado nos EUA)
05 – Ata do Fomc

Europa – mais um mês de alívio para os pró-euro
Por mais um mês, a Europa respirou aliviada em meio aos sinais de que o movimento pró-euro volta a ganhar forças depois de meses bastante conturbados. Após derrotar Marine Le Pen em maio, o presidente da França e “novato” politicamente Emmanuel Macron conquistou uma maioria parlamentar importante e histórica, mostrando o cansaço dos cidadãos do país com os partidos políticos tradicionais. Enquanto isso, na Alemanha, a chanceler Angela Merkel ganha forças para o quarto mandato em meio ao aumento da sua popularidade. Com isso, o seu discurso pró-globalização ganha força, o que deve ser sinalizado durante a reunião do G-20 nos próximos dias 7 e 8 de julho.

No começo de junho, quem sofreu o maior revés na região foi a primeira-ministra britânica Theresa May, que viu o número de cadeiras do seu Partido Conservador cair após ela mesma ter convocado eleições antecipadas. Com isso, May teve que fazer uma coalizão com um pequeno partido da Irlanda do Norte para seguir no cargo. A líder que comandaria o Brexit (cuja vitória nas urnas completou um ano no último dia 23) perdeu forças. E o apoio dos britânicos à saída do Reino Unido da União Europeia também.

Com relação à economia, os dados da zona do euro apontaram para a continuidade da recuperação – num ritmo “devagar e sempre”, o que levou o presidente do BCE (Banco Central Europeu) a adotar um tom mais forte sobre a redução da flexibilização monetária – e que impactou os mercados por lá.  Segundo Mario Draghi, a economia do bloco deve se beneficiar da alta do investimento ao passo que os números apontam para recuperação e mostrou confiança sobre a melhora da produtividade. Essa retomada pode levar a um ajuste na política monetária; contudo, o presidente do BCE parece por enquanto apenas pavimentar o caminho para uma eventual redução de estímulos mais à frente, uma vez que a baixa inflação segue preocupando. Com sinais distintos no radar, o mercado ficará atento à reunião de política monetária do BCE – e que pode mostrar qual caminho Draghi quer seguir (e quando).

Principais eventos da Europa em julho:

20 – Reunião do BCE

Ásia – China desacelerando? Sua influência só aumenta

Os dados da China divulgados em junho mais uma vez mostraram dados divergentes para a economia do país. A economia chinesa segue sólida e o país deve atingir sem problemas a meta anual de crescimento de 6,5% neste ano, o futuro segue permeado de incertezas. A política monetária mais restritiva, o mercado de imóveis em desaceleração e a queda dos investimentos reforçam a visão de que ela pode perder força nos próximos meses.  

A economia do gigante pode até dar alguns sinais de que está perdendo ímpeto (como há muito tempo já falam). Porém, ela parece dar cada vez mais sinais de relevância no mundo político e econômico. Enquanto os dirigentes chineses seguem enfatizando o discurso de globalização em contraponto às falas de cunho protecionista de Trump, a decisão do MSCI no dia 20 de junho marcou uma importante mudança para o mercado do país, ao incluir pela primeira vez grandes empresas de lá – representando um voto de confiança nos esforços do país para que o mundo acesse o seu mercado de capitais. De acordo com a gestora britânica Ashmore Group, esta decisão representa um movimento muito além: “esse é um outro passo inexorável para a entrada e eventual domínio da China no sistema financeiro global”.  

Enquanto isso, as rusgas entre China e Estados Unidos seguem no radar por conta da Coreia do Norte. Neste mês, o governo americano anunciou sanções a um banco do gigante asiático e a dois cidadãos por fazer negócios com o regime de Kim Jong Un. Trump pediu ao mundo “resposta decidida ao brutal” regime – dependendo de como Un reagir a essas declarações, a deterioração na relação entre as duas maiores economias do mundo. Enquanto isso, o otimismo cauteloso segue no Japão: pela primeira vez desde dezembro, o país melhorou a avaliação da sua economia e destacou que está no trajeto para uma “recuperação moderada”, com o maior investimento em capital e gastos maiores dos consumidores. Porém, o monitoramento continua – e as expectativas de que algo mude no programa de estímulos à economia do país em decisão do próximo dia 20 parecem baixas.

Principais eventos da Ásia em julho:

20 – Reunião do Bank of Japan

 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.