Mais próxima do fim, novela de aprovação do pacote tem novo episódio agendado

Plano anti-crise volta à Casa dos Representantes na sexta-feira nos EUA; alterações e momentum favorecem, mas nada é certo

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SÃO PAULO – Os senadores norte-americanos fizeram a sua parte: com um placar de 74 votos a favor e apenas 25 contra, no que depender do Senado, US$ 700 bilhões serão disponibilizados em breve para a aquisição dos ativos podres das grandes instituições financeiras de Wall Street.

Alívio, mas nem tanto. A julgar pelo desempenho negativo das bolsas nesta quinta-feira (2), a notícia não provoca a euforia esperada por muitos. Embora os decepcionantes números trazidos pela agenda econômica tenham parcela preponderante no mau humor dos investidores, há de se atentar que a novela da aprovação do pacote ainda não terminou.

Seu novo episódio está agendado para a próxima sexta-feira, quando o plano deve ser submetido a novo crivo por parte da Casa dos Representantes – órgão análogo à Câmara dos Deputados brasileira -, onde foi rejeitado no começo da semana, levando a uma derrocada recorde na renda variável internacional em mais um dia para ficar na história do sistema financeiro.

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Agregando votos

Ainda que o núcleo do pacote siga inalterado – os US$ 700 bilhões para compra dos ativos “podres” – diversas alterações foram realizadas em seu conteúdo de forma a agregar mais votos por parte da bancada republicana na Casa dos Representantes, principal responsável pelo fracasso do projeto por lá.

As garantias dadas aos depósitos bancários pelo FDIC (Federal Deposit Insurance Corp.) foram elevadas de US$ 100 mil para até US$ 250 mil, cortes temporários em impostos sobre energia foram prorrogados e o voto de confiança para que a SEC (Securities Exchange Comission) suspenda a prática contábil de marcação a mercado foi reiterado.

As novas medidas incluídas no pacote anti-crise visam afastar a idéia de que o resgate seja às grandes corporações de Wall Street, mas sim à economia norte-americana como um todo, incluindo seus cidadãos comuns. Isto porque o “não” obtido pela maioria dos parlamentares na última segunda-feira teria sido ocasionado, entre outros fatores, principalmente pela falta de aceitação da população dos EUA como um todo, já penalizada por altos impostos e taxas de inflação e desemprego crescentes.

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E ao que parece, o intento vem sendo bem-sucedido. “A extensão dos cortes tributários e as mudanças nas atribuições do FDIC me levaram a reconsiderar minha posição”, afirmou o republicano Jim Ramstad, do estado de Minnesota. No mesmo sentido, John Boehner, representante republicano de Ohio, também deu sinais de ter invertido seu voto favoravelmente ao pacote. “Acreditamos que as medidas tenham mais chance de serem aprovadas agora”, afirmou Kevin Smith, porta-voz de Boehner.

Momentum e pressão pública

Além das alterações concretas aplicadas, analistas acreditam que o momento em si seja mais favorável à aprovação do pacote nesta sexta-feira do que na última segunda-feira. A começar que as tensões inflamadas entre republicanos e democratas, às vésperas das eleições presidenciais, de certa forma se amenizaram nos últimos dias, com os respectivos candidatos John McCain e Barack Obama mostrando esforços e crenças mútuas na necessidade urgente de aprovação do plano.

Outro elemento acusado por muitos de ter dificultado a votação do pacote anti-crise na segunda-feira foi o discurso proferido por Nanci Pelosi, líder democrata do órgão. Recheada de referências partidárias, a fala teria inflamado forte ressentimento entre os republicanos. “No ano novo, com um novo Congresso e um novo presidente, nós nos libertaremos deste passado falido e direcionaremos a América em uma nova direção, para um futuro melhor”, disse a congressista em uma de suas passagens.

Ademais, o placar extremamente dilatado entre os senadores faz com que toda a responsabilidade recaia agora sobre as mãos dos representantes. As pressões fizeram-se acrescidas e devem fazer com que ao menos alguns mudem seus votos. Mas em contrapartida, o pressuposto avesso de que nenhum parlamentar irá mudar de idéia negativamente não é necessariamente válido e mina muitas das projeções otimistas.

Otimismo minado

Ao mesmo tempo em que as alterações realizadas concernentes à esfera tributária devem servir como um atrativo à parcela republicana da Casa dos Representantes, congressistas democratas já torceram o nariz para a possibilidade de uma elevação adicional no já alarmante déficit fiscal norte-americano. “Certamente há aqueles contrários em deteriorar ainda mais a situação fiscal do nosso país enquanto que, ironicamente, tentamos salvar a economia”, afirmou Steny Hoyer, representante democrata do estado de Maryland.

Por fim, os clamores feitos recentemente por George W. Bush quanto à aprovação do pacote, na verdade, podem estar mais atrapalhando do que ajudando. Com a figura do presidente para lá de desgastada, muitos congressistas não são exatamente favoráveis à idéia de conceder ao governo Bush US$ 700 bilhões para intervir no mercado – muitos deles, de sua própria bancada republicana, na tentativa de proteger a imagem de John McCain.

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