“Mais Brasil, menos Brasília”: sobre o que é o slogan que já se tornou o mais disputado da eleição

Reivindicado por Eduardo Jorge e usado na campanha de Bolsonaro, mote evidencia uma das pautas econômicas que mais deve ganhar destaque durante as eleições de 2018

Lara Rizério

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SÃO PAULO – “Mais Brasil, menos Brasília”. O mote da campanha do candidato à presidência pelo PSL, Jair Bolsonaro, virou alvo de polêmica nos últimos dias por não ser exatamente uma novidade, uma vez que já foi utilizado em muitos discursos de políticos e, principalmente, pelos assessores econômicos deles. 

A expressão veio novamente à tona após Eduardo Jorge, candidato a vice-presidente na chapa de Marina Silva (Rede), criticar Bolsonaro ao dizer que foi copiado. Isso porque a expressão constava do programa de Eduardo em 2014 e está no plano que ele montou com Marina neste ano.

Porém, durante sabatina realizada pela GloboNews na noite da última quinta-feira (23), o assessor econômico e conhecido como “posto Ipiranga” de Bolsonaro, Paulo Guedes apontou que não foi ele que cunhou essa expressão, que deveria inclusive ser repetida por outros economistas que passassem pela programa.

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“O [Eduardo] Giannetti [assessor econômico de Marina] vem aqui amanhã e vai falar ‘Mais Brasil, menos Brasília’, todo mundo acha que fui eu que inventei, mas não fui eu não, nem foi o Eduardo Jorge, que reivindicou [o lema]”, afirmou Guedes. Ele destacou que as “origens” se remetem ao jornalista Evandro Carlos de Andrade, que já falou sobre o assunto nos anos 1980.

Mas, afinal, o que significa esse tão falado “Mais Brasil, menos Brasília”? Como o próprio Paulo Guedes pincelou no programa, significa um apelo pela descentralização de recursos na mão do governo federal e mais autonomia para os estados e municípios. Essa pauta ganha especial apelo durante momentos de crise econômica, quando a disputa por recursos oriundos dos impostos fica ainda maior. 

Tal mudança passa pela rediscussão do Pacto Federativo, que é a maneira como os recursos são distribuídos entre as esferas administrativas.

As críticas versam sobre o modelo tributário atual, que concentra enorme parte do arrecadado em impostos para a União, fomentando uma situação de dependência dos Estados em relação ao poder central. Esse tema inclusive já suscitou grandes discussões no Congresso Nacional e entre economistas. 

Um dos grandes nomes da economia que já falou sobre esse assunto foi justamente Eduardo Giannetti, citado por Guedes durante a sabatina da GloboNews. Em entrevista à UM Brasil repercutida pelo InfoMoney em abril, o economista enfatizou que, embora a Constituição Federal de 1988 tenha instituído a descentralização, Estados e municípios ficaram dependentes da liberação de verba que passa por Brasília. “Essa dependência do governo central não é saudável para as finanças públicas”, disse ele. 

Ele ainda ressaltou na entrevista que 80% ou mais dos municípios brasileiros praticamente nada arrecadam e sobrevivem de “mesada” infraconstitucional. “Isso é uma receita para má utilização do dinheiro público, porque o cidadão não sabe o quanto está pagando, para onde está indo e como está voltando”, apontou na entrevista. 

Nessa mesma linha, em 2014, o então candidato à presidência Eduardo Jorge destacou a necessidade de melhor distribuição de recursos de forma progressiva até haver mais equilíbrio entre União, estados e municípios e, para isso, apontou, era preciso ter cortes, especialmente em Brasília. “Não é o Estado mínimo, é o Estado necessário. Se eu quero crescer [o recurso] no município, vou ter que diminuir em Brasília, senão vou ter que aumentar o imposto que sai do seu bolso. Isso é matemático”, afirmou na eleição passada o político que hoje reivindica o “lema” de sua campanha anterior. 

Voltando para 2018, Bolsonaro usará o “Mais Brasil, menos Brasília” em um de suas chamadas dos seus parcos oito segundos de propaganda eleitoral e ainda complementando: “é preciso dividir o poder com o resto do país”. Ele vai destacar também que o repasse de dinheiro para as prefeituras evita corrupção e gera eficiência na governança. Já em seu programa de governo, o mote é destacado na página 9, mas sem maiores detalhes sobre como seria essa redistribuição dos recursos caso ele fosse eleito. 

Já Marina Silva destaca o lema na página 41 do seu programa, em que também teceu críticas ao sistema atual: “o Brasil tem um federalismo truncado, em que os estados e municípios não dispõem dos recursos financeiros, técnicos e gerenciais para realizar seu papel e responsabilidades a eles atribuídas pela Constituição Federal. Iremos implementar definitivamente o verdadeiro pacto federativo, que inspirou a Constituição. Para isso, a reforma tributária é condição necessária ao fortalecimento da capacidade financeira e de gestão dos municípios”. 

De qualquer forma, com maior ou menor detalhamento, a disputa por esse “slogan” evidencia que esse será um dos temas relevantes para a eleição de 2018. E mais sobre esse tema pode ser discutido nesta sexta-feira a partir das 22h30, quando Eduardo Giannetti falará sobre o programa econômico de Marina na GloboNews. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.