Maiores riscos ao bull case brasileiro são políticos ou externos

Em evento em São Paulo, sócios da Claritas e da GTI delineiam cenário para o País e apontam principais focos de preocupação

Julia Ramos M. Leite

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SÃO PAULO – Após a crise financeira, o Brasil emergiu como uma das principais oportunidades de investimento. A resiliência do consumo doméstico segurou o País enquanto a economia mundial recuava e fez com que a recuperação chegasse por aqui, enquanto os principais mercados desenvolvidos ainda patinam.

Mas esse bull case começou a ser questionado recentemente, especialmente com a aceleração da inflação. Mas o otimismo com o cenário brasileiro ainda se sustenta? Segundo Matheus Cavallari, sócio da Claritas Investimentos, sim.

Perspectiva otimista
Em palestra no 4º Congresso de Value Investing Brasil, realizado nesta terça-feira (14) em São Paulo, Cavallari traçou uma perspectiva otimista para o País. Segundo ele, a estrutura demográfica deve sustentar uma perspectiva favorável de crescimento pelos próximos 20 anos.

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Mas é preciso aumentar os investimentos e melhorar a produtividade do País, porque além do mercado de trabalho, o consumo também deve seguir em alta. E apesar da classe C ser a bola da vez, Cavallari lembra que as classes A e B têm mantido sua taxa de expansão.

Riscos que vêm de fora
O otimismo, contudo, não significa que não há riscos. Para o sócio da Claritas, os principais problemas do Brasil não estão aqui, mas sim no cenário externo. O primeiro deles é o que tem mais evidência no cenário macro em 2011: a crise fiscal da Zona do Euro.

“É uma decisão política de curto prazo, e deve trazer custos para a Zona do Euro, mas deve ser resolvido”, disse Cavallari. Para ele, a extensão dos empréstimos deve ser voluntária e não deve ser um trigger para os CDSs (Credit Default Swaps), o que diminui o risco de contágio.

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Outro ponto são os EUA, em especial a retirada de estímulos que vem sustentando a economia. “Se os juros subirem nos EUA, é ruim para o Brasil”, explicou Cavallari, lembrando que o diferencial de juro passará a não ser tão favorável assim para o País, assim como para os demais emergentes. Entretanto, segundo ele, esse risco diminuiu no curto prazo, com a recuperação lenta da maior economia do mundo na primeira metade do ano.

Política
Já André Gordon, sócio da GTI Administração de Recursos, focou sua apresentação nos problemas nacionais na questão política – apesar de manter uma visão relativamente otimista para o País.

Segundo Gordon, no Brasil há uma “a ditadura democrática”. “Não é porque sabemos o resultado da eleição duas horas após o fim da votação que somos uma democracia consolidada”, afirmou.

A última eleição evidenciou questões como acesso limitado às informações, uso do populismo e da máquina pública em campanha. A falta de uma oposição clara, de acordo com Gordon, também é problemática – a base governista detém hoje mais de 63% de participação no Senado, Câmara dos Deputados e no STF (Supremo Tribunal Federal).

Gordon também criticou o aparelhamento do Estado através do BNDES, dos fundos de pensão de estatais e das próprias estatais, e o esvaziamento e politização das agências regulatórias.

Acelerar ou frear?
Além disso, tanto Gordon quanto Cavallari criticaram a desconexão entre a política fiscal e a política monetária, com a “Fazenda e BNDES com pé no acelerador, e o BC com pé no freio”.

Em outras palavras, o governo acelera a demanda com a política fiscal, políticas assistencialistas, superávit primário abaixo da meta, salário mínimo indexado à inflação, e o Banco Central tenta segurar a atividade com ações macroprudenciais e altas taxas de juro.

Entretanto, o sócio da Claritas se disse um pouco mais otimista com o ministro Guido Mantega. Segundo ele, o governo parece ter entendido que é preciso pelo menos não atrapalhar o BC com uma política fiscal menos expansionista. “Não quero elogiar muito, porque o ministro é o mesmo, mas acho que há uma consciência de que, pelo menos, se deve atrapalhar menos o BC”, afirmou.

Mas Bull case deve prevalecer
Apesar dos riscos políticos e externos, que se juntam também a questões já mais “tradicionais” – como a autonomia do BC, a desindustrialização, a necessidade de maiores investimentos, os gargalos de infraestrutura, ambos têm uma visão otimista para o cenário brasileiro.

“É preciso pensar no longo prazo e deixar de lado os ruídos de curto prazo. Uma coisa é você ficar discutindo quanto o Copom deveria ter elevado a Selic – mas isso no longo e médio prazo é irrelevante, porque isso se ajusta depois”, disse Cavallari

Já Gordon lembrou que os riscos podem existir por aqui, mas lá fora o cenário não é muito melhor – e, com isso, o País fica comparativamente atrativos. “Os concorrentes não estão melhores que nós, mas há riscos sim”, concluiu o sócio da GTI.

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