Lula reforça defesa da América Latina como “zona de paz” e critica interferências

Durante cerimônia no Itamaraty, presidente alertou para riscos de intervenções e reafirmou compromisso com o multilateralismo em meio à tensão entre EUA, Venezuela e Colômbia

Marina Verenicz

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta segunda-feira (20) que preservar a América Latina e o Caribe como regiões livres de conflito é prioridade para o Brasil.

O discurso, feito no Itamaraty durante a cerimônia de entrega de cartas credenciais a novos embaixadores, ocorre em um momento de crescente instabilidade no continente, marcado por choques diplomáticos entre Estados Unidos, Venezuela e Colômbia.

“Intervenções estrangeiras podem causar danos maiores do que aqueles que se pretende evitar”, afirmou Lula, ao defender que a estabilidade regional depende do diálogo e da autonomia dos povos latino-americanos.

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O presidente destacou ainda que a América Latina é um continente sem conflitos étnicos ou religiosos e livre de armas de destruição em massa, argumento que, segundo ele, reforça o dever dos países da região de atuarem em conjunto pela paz.

Para Lula, o caminho para garantir estabilidade regional passa pela reconstrução de um sistema internacional multilateral, capaz de reduzir tensões e ampliar a cooperação entre as nações.

“O que o Brasil quer é fortalecer as relações internacionais com base no respeito, no comércio justo e na convivência pacífica. O mundo não pode ser movido por ódio, negacionismo ou ameaças à democracia e aos direitos humanos”, disse o presidente.

Ofensiva no Caribe

A fala de Lula ocorre dias após o governo de Donald Trump reforçar sua operação militar no mar do Caribe, próximo à costa da Venezuela, sob a justificativa de combater o tráfico internacional de drogas. O presidente Nicolás Maduro acusa os EUA de planejar uma invasão para derrubar o regime chavista.

Em meio à escalada, Trump também voltou a criticar o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, chamando-o de “traficante de drogas ilegal” e anunciando o fim de repasses e subsídios norte-americanos ao país, tradicional aliado dos EUA na América do Sul.

Papel de mediador

Ao enfatizar o discurso pela paz, o governo brasileiro tenta reposicionar o país como mediador político e voz de equilíbrio na América Latina, evitando alinhamentos automáticos e defendendo uma diplomacia de cooperação.

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O Itamaraty monitora de perto a ofensiva militar norte-americana e mantém interlocução aberta com Washington e Caracas para impedir que a crise se transforme em conflito aberto.

Lula também tem usado fóruns como a Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos), o G20 e a Assembleia-Geral da ONU para reforçar a autonomia política da América Latina diante das potências globais.

Segundo o Planalto, a prioridade é garantir que o continente continue a ser tratado “como território de diálogo, e não de guerra”.