Lula quer discutir “com mais seriedade” papel da Petrobras no desenvolvimento do país a partir de abril

Presidente classificou a distribuição de R$ 215,7 bilhões em dividendos como "uma loucura" e cobrou mais investimentos em pesquisa pela estatal

Marcos Mortari

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, na quinta-feira (2), que quer discutir com maior atenção o papel da Petrobras no desenvolvimento econômico do País. Em entrevista ao jornalista Reinaldo Azevedo, do canal BandNews, o mandatário disse esperar que o debate possa ser iniciado no próximo mês, quando ele acredita que o novo governo terá consolidado o controle na estatal.

“O governo, que é acionista majoritário, tem que ter poder de tomar decisão”, afirmou.

“Fizeram uma mudança nas empresas estatais que, para indicar um diretor, leva tempo e, para indicar o conselho, leva tempo. Nós só vamos poder, talvez, ter o controle da Petrobras em abril. Aí, vamos discutir com mais seriedade o papel da Petrobras no desenvolvimento econômico desse país”, continuou.

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Está marcada para 27 de abril a Assembleia Geral Ordinária da companhia para referendar o novo comando e os nomes indicados pelo governo para o conselho de administração.

Durante a conversa, Lula também criticou a política de desinvestimentos da estatal, que culminou na venda de ativos nos últimos anos e em uma menor capacidade de refino como contrapartida a uma redução nos elevados níveis de endividamento da companhia.

Para ele, não é estratégico que a companhia exporte petróleo cru no mercado internacional. O ideal, avalia, seria retomar investimentos em pesquisa e pensar o papel da empresa em um contexto mais amplo do desenvolvimento econômico brasileiro e do debate de transição energética internacional.

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“A Petrobras não é uma empresa para vender seus ativos como está vendendo. Nós vendemos praticamente todos os nossos ativos”, disse.

“A Petrobras é uma indústria de energia, uma indústria de petróleo, ela tem que fazer investimento para que ela possa cada vez mais descobrir novas coisas”, declarou. “Ou seja, a Petrobras é um patrimônio deste país, e não um patrimônio apenas das pessoas que são acionistas”.

Lula negou que isso seja “intervenção” do governo sobre a companhia e disse que o movimento representa o “interesse do povo brasileiro”. “Quando nós descobrimos o pré-sal, nós não queríamos ser exportadores de óleo cru, nós queríamos ser exportadores de derivados de petróleo”, salientou.

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O presidente também classificou a distribuição de R$ 215,7 bilhões em dividendos no acumulado de 2022 − maior nível já anunciado pela companhia − como “uma loucura” e disse que metade dos valores poderiam ser utilizados em investimentos para o futuro.

“É uma loucura o que estamos fazendo de dividendos. Poderiam ter dado metade em dividendos e metade fazer investimentos. Melhorar as condições da empresa. Ela não pode parar de fazer manutenção, não pode parar de fazer investimentos em pesquisas e novas tecnologias, senão ela fica uma empresa ultrapassada. Acontece que o pessoal que tomou conta da Petrobras resolveu fazer graça com os acionistas minoritários”, afirmou.

“A Petrobras não é uma empresa só para ganhar dinheiro para dar para os acionistas, a Petrobras é uma empresa para pensar na soberania energética deste país, porque ela pode muito”, ressaltou.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.