Lula poupa Levy, mas diz que Dilma mudou o discurso depois de ter sido reeleita

A presidente recebeu ainda outras estocadas de aliados e colaboradores: PMDB soltou nota criticando a política econômica e Temer disse que o governo equivocou-se; Cunha deu sinais de que pode soltar o impeachment; BC e Tombini disseram que política fiscal prejudica a inflação

José Marcio Mendonça

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Ontem foi o que dia em que os amigos e até colaboradores parecem ter decidido a deixar a imagem e a vida da presidente Dilma Rousseff e do governo um pouco mais manchadas e complicadas. A saber:

  1. Embora Lula tenha conseguido que o PT desse uma trégua ao ex-ministro Joaquim Levy e à política econômica por ele tocada, em seu discurso na reunião do diretório nacional do PT em Brasília o ex-presidente confessou que Dilma ganhou a eleição com um discurso e depois foi obrigado a trocá-lo. E insinuou que isto estaria na origem da avaliação negativa da presidente agora.
  1. O PMDB divulgou oficialmente um documento, antecipado ontem pelo jornal “Folha de S. Paulo”, com críticas à política econômica e ao governo, visto em Brasília como uma porta aberta ao rompimento (ou pelo esfriamento) com o governo. E o vice-presidente Michel Temer endossou a catilinária dizendo que “o governo equivocou-se na política econômica”. O texto é um “programa de governo” e está sendo conhecido também como “Proposta Temer”. É um plano de ação imediata.
  1. O Banco Central na ata da última reunião do Copom foi explicito nas críticas à situação fiscal: informou que o cenário nebuloso das contas públicas está prejudicando o esforço de levar a inflação para o centro da meta, de 4,5%, e que os brasileiros vão sentir por um prazo mais longo os efeitos da alta de preços. E o presidente da instituição, Alexandre Tombini, em uma apresentação para um grupo de deputados, disse que a questão das contas públicas afeta o combate à inflação. A conversa foi gravada e vazada para o jornal “O Estado de S. Paulo”.
  1. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, a quem o governo e o PT continuam cortejando, a ponto de ter sido poupado na reunião do diretório petista, bem a seu estilo “morde e assopra” (ou “ameaça e apresenta a fatura”) anunciou que poderá dar o parecer sobre os pedidos de impeachment de Dilma em novembro.

Ao mesmo tempo, ele revogou o rito que havia estabelecido para a tramitação do processo – estava suspenso por liminar do STF. Segundo alguns juristas, com isso Cunha abre caminho para despachar favoravelmente um dos pedidos de afastamento, sem risco de tê-lo suspenso depois pela Corte Suprema. Além do mais, em entrevista à “TV Folha”, Cunha comparou sua situação à de Lula e Dilma e disse que nem ele, nem o ex-presidente nem a presidente devem ser “prejulgados”.

PF contestada

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Há expectativa sobre o que se passou ontem à noite, no jantar no Palácio da Alvorada entre a presidente e o ex-presidente. Estavam presentes outros ministros, mas avaliava-se que Lula e Dilma teriam uma conversa reservada para aparar as arestas surgidas entre os dois depois que a Polícia Federal, por ordem a Justiça Federal de Brasília, deu uma busca no escritório da firma de Luís Cláudio, filho do ex-presidente.

É sabido que Lula ficou magoado e soltou poucas e boas contra o governo entre quatro paredes. Embora ontem tenha tratado com ironia as “perseguições” a ele e à sua família, a irritação de Lula ainda está mercurial. E engrossou mais depois que a PF intimou Luís Cláudio a depor às 11 horas de noite, após o filho ter saído da festa de aniversário do pai. Não foi à toa que o ministro José Eduardo Cardozo, de quem Lula não gosta, correu para pedir justificativas à PF pelo horário da intimação.

A cruzada pelo ajuste

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Já no mundo real da economia prossegue a batalha das contas públicas e do ajuste fiscal. Ontem, ao anunciar a contabilidade oficial de setembro, o secretário do Tesouro Nacional, Marcelo Barbosa Saintive, admitiu que o déficit primário deste ano pode chegar a R$ 110 bilhões, no cálculo com a contabilização das “pedaladas fiscais”. O número do dia anterior era R$ 103 bilhões. Já Comissão de Orçamento do Congresso refez seus cálculos e elevou a previsão para R$ 117,8 bilhões. Isto representa 1,99%. A meta ainda não revisada era de um superávit de 0,15%.

A revisão é consequência de mais um fraco desempenho das contas do Tesouro Nacional em setembro, o que elevou o déficit de 2015, nos nove primeiros meses do ano para mais de R$ 20 bilhões. A boa notícia ficou por conta dos estados e municípios: conseguiram economizar ate agora setembro R$ 16 bilhões, o que amenizou um pouco o fracasso do governo federal.

O ministro Joaquim Levy, por seu turno, prossegue na cruzada para tentar convencer o Congresso e os aliados (e parte de seus parceiros de governo) a se engajaram no plano da Fazenda de ajuste fiscal. Ontem em Londres, aproveitando a divulgação pelo IBGE de mais um dado negativo do desemprego (8,7% na virada de junho para agosto), ele disse que essa alta e a inflação são “sintomas de que o problema fiscal ainda não foi tratado com energia”. Segundo Levy, a desconfiança leva empresas a não contratarem.

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Outros destaques dos

jornais do dia

– “Inflação sobe com piora fiscal, diz Tombini” (Estadão)

– “Desemprego no país cresce para 8,7% entre junho e agosto” (Estadão/Valor/Folha)

– “Usiminas desativa parte da usina de Cubatão e vai demitir 4 mil pessoas” (Estadão/Valor)

– “Investimento estrangeiro no Brasil cai 40%, aponta OCDE” (Portal da revista Veja)

– “Carga tributária de 2014 foi 33,47% do PIB” (Folha)

– “Em ritmo menor, lucro do Bradesco cresce 6,1% e soma R$ 4,1 bilhões” (Estadão)

– “Ministro vê fusão entre Oi e TIM com preocupação” (Valor)

– “Zelotes: ministro manda PF se explicar sobre intimação do filho de Lula às 23 horas” (Estadão/Folha)

– “Ministério da Defesa exonera general que criticou governo” (Globo/Estadão/Folha)

– “[Lava-Jato: ex-deputado Pedro] Corrêa é condenado a 21 aos de prisão” (Estadão)

LEITURAS SUGERIDAS

  1. Editorial – “O abraço dos afogados” (diz que obcecados pelos poder, o PT e Eduardo Cunha não têm nenhum escrúpulo de lutar por ele) – Estadão
  2. Celso Ming – “Lula e o ajuste” (diz que se algo der errado, ajuste derrete não só a economia como o projeto político do PT e a candidatura de Dilma em 2018) – Estadão
  3. Claudia Safatle – “BC está à espera da política fiscal de 2016” (diz que só quando tiver mais clareza da política fiscal o Copom vai fixar o ponto no qual a inflação chega à meta em 2017) – Valor