Lula e Tarcísio trocam afagos e anunciam obra de túnel para ligar Santos ao Guarujá

Governador de SP chegou a ser vaiado por parte dos presentes, após o seu discurso, e recebeu elogios do presidente na sequência

Lucas Sampaio

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O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), anunciaram nesta sexta-feira (2) as obras do túnel imerso que ligará as cidades de Santos e Guarujá, no litoral de São Paulo. A solenidade também foi em comemoração aos 132 anos do Porto de Santos, onde a cerimônia foi realizada.

O empreendimento está incluído nas obras do Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e será resultado de uma parceria público-privada (PPP), com R$ 5,8 bilhões em investimentos previstos. Lula disse que a construção do túnel é muito custosa, por isso será feita com parcerias privadas, e vai aproveitar o projeto já desenvolvido pelo estado de São Paulo.

“Nós vamos fazer uma parceria, para fazer conjuntamente esse nosso querido ‘Eurotúnel’, que é muito pequeno, mas é muito importante”, afirmou o presidente em referência à ligação entre França e Inglaterra. O túnel Santos-Guarujá ficará imerso sob o fundo do canal, a uma profundidade de 21 metros entre os dois municípios, e será o primeiro do tipo na América Latina, com 860 metros entre as margens.

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Segundo a Presidência da República, o túnel beneficiará mais de 5 milhões de pessoas, incluindo 1,6 milhão de habitantes da Baixada Santista e os mais de 4 milhões de turistas que anualmente visitam a região. Atualmente, para ir de uma cidade a outra é preciso atravessar de balsa, que transporta cerca de 23 mil veículos por dia, ou a rodovia Cônego Domenico Rangoni (SP-55), dando uma volta de quase 50 km.

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Vista aérea da cidade de Santos, com o porto no canto interior direito da imagem (Foto: Divulgação/Prefeitura de Santos)

Afago a Tarcísio
Afilhado político do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e apontado como possível candidato à Presidência em 2026, Tarcísio foi aplaudido antes e durante o seu discurso, mas chegou a ser vaiado por parte dos presentes ao final da sua fala. Lula discursou na sequência e fez referência à situação. O presidente disse que a cerimônia visava “restaurar a normalidade no país”, “e a normalidade é a gente respeitar o direito à diferença”.

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“Quero te dizer, Tarcísio, que você terá da Presidência da República tudo aquilo que for necessário, porque eu não estou beneficiando o governador, estou beneficiando o estado mais importante da federação”, afirmou Lula. Ele ainda fez uma brincadeira com o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), com quem disputou a eleição presidencial de 2006. “O Alckmin, nós brigamos tanto. E olha como é que a gente está agora, casadinho. Estamos separados pela Dona Lu [esposa de Alckmin] e pela Dona Janja [primeira-dama], mas estamos ali juntinhos. O Brasil precisa disso.”

Em outro trecho do discurso, o presidente disse ter encontrado o governador quando ele trabalhava nas obras do gasoduto Coari-Manaus. Lembrou também que, antes de ser ministro da Infraestrutura de Bolsonaro, Tarcísio foi diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) na gestão Dilma Rousseff (PT).

“Eu encontrei com o Tarcísio em Coari, no meio da Amazônia, trabalhando no gasoduto. Depois o Tarcísio trabalhou com a Dilma Rousseff. Depois eu estranhei vendo ele trabalhar com o Bolsonaro, mas paciência, é uma opção dele. E depois ele ganhou de nós as eleições”, disse Lula em referência à eleição para o governo paulista em 2022, em que Tarcísio derrotou o atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT). “O que eu vou lamentar? Eu tenho que parabenizá-lo e preparar para derrotar você nas próximas eleições”.

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Enquanto Lula falava sobre o passado de Tarcísio em governos petistas, uma pessoa na plateia gritou “Tarcísio, volta pro PT”, arrancando gargalhadas de todos, no palco e na plateia. O presidente então concluiu: “Eu vim aqui hoje anunciar para o Tarcísio que nós estamos juntos. Em quem ele vai votar é um problema dele. Em quem eu vou votar é um problema meu. Mas nós estamos juntos, com o compromisso de servir o povo desse estado e o povo brasileiro”.

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e o governador do estado de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), se cumprimentam em cerimônia em Santos (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

Em seu discurso, Lula aproveitou para anunciar a liberação pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) de R$ 1,35 bilhão ao governo de São Paulo, para as obras do trecho norte do Rodoanel, o último que falta para completar a ligação das principais rodovias que chegam à capital paulista. “Logo logo você irá receber a notícia do Aloizio Mercadante [presidente do BNDES]”, disse Lula dirigindo-se a Tarcísio.

Em seu discurso, o governador ressaltou a importância de realizar as obras em parceria com o governo federal. “Quando a gente soma todo investimento que vai ser feito aqui, a gente vai passar fácil, presidente Lula, dos R$ 8 bilhões. E nós vamos fazer isso juntos”, afirmou o governador, que pode ser o candidato à Presidência da oposição daqui e 2 anos, quando Lula deverá tentar a reeleição.

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Porto de Santos
O governo federal também anunciou obras no Porto de Santos. Segundo o ministro do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, Márcio França (PSB), as obras no porto terão apenas recursos públicos da Autoridade Portuária de Santos (APS) e dos operadores dos terminais privados.

Lula foi o primeiro presidente da história a visitar o Porto de Santos, o maior terminal do hemisfério Sul. O porto é responsável pelo transporte de quase 30% da balança comercial do Brasil e registrou uma movimentação recorde de 15,6 milhões de toneladas de cargas em dezembro, um crescimento de 29% em relação a dezembro de 2022.

França também destacou obras já autorizadas pelo governo federal na Baixada Santista, como as obras do aeroporto de Guarujá e a perimetral do Guarujá. A Baixada Santista é o reduto político do ministro, que já foi prefeito de São Vicente (SP) e começou o governo Lula como ministro de Portos e Aeroportos. França deu lugar a Silvio Costa Filho (Republicanos) em meados do ano passado, em uma reforma ministerial feita pelo presidente para acomodar o Centrão (Costa Filho é do mesmo partido de Tarcísio e também estava no evento).

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Também participaram o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin (PSB); o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT); o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa (PT), o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT); e o chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Márcio Macedo.

Fábrica da Volkswagem em SBC
À tarde, Lula vai comparecer ao anúncio dos investimentos da Volkswagen no Brasil e dos novos projetos da marca, na sede da fábrica em São Bernardo do Campo (SP). A montadora havia anunciando R$ 7 bilhões em investimentos na América Latina para o ciclo de 2022 a 2026, e para o ciclo de 2026 a 2028 serão somados mais R$ 9 bilhões. “A Volkswagen reafirma sua confiança no Brasil e mais que dobra seus investimentos, para R$ 16 bilhões”, afirmou o CEO da montadora no Brasil, Ciro Possobom, em nota distribuída pela Presidência da República.

(Com Reuters, Agência Brasil e Estadão Conteúdo)

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Lucas Sampaio

Jornalista com 12 anos de experiência nos principais grupos de comunicação do Brasil (TV Globo, Folha, Estadão e Grupo Abril), em diversas funções (editor, repórter, produtor e redator) e editorias (economia, internacional, tecnologia, política e cidades). Graduado pela UFSC com intercâmbio na Universidade Nova de Lisboa.