Lula e PT colocam Dilma em 2º plano: a presidente chegou mesmo ao seu limite?

Sem apoio político, probabilidade de impeachment aumenta e Dilma pode ter mais dificuldades para realizar o ajuste fiscal, apontam analistas políticos - total ruptura e até volta da possibilidade de renúncia estão no radar

Lara Rizério

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SÃO PAULO – O final de semana foi para se esquecer para Dilma Rousseff: a presidente não participou da festa de aniversário de 36 anos do PT, no Rio de Janeiro, alegando sua agenda apertada por conta da viagem ao Chile. Porém, o real motivo para a ausência da presidente foi o forte ambiente de tensão entre ela e o partido. 

O evento evidenciou as fortes diferenças que existem entre o Palácio do Planalto, que está a voltas com o ajuste fiscal e precisa retomar a credibilidade, e o PT, que está de olho nas eleições municipais de 2016 e quer uma “guinada econômica” do governo. O PT divulgou uma proposta durante o aniversário do partido defendendo a “expansão imediata dos gastos sociais”. Acentua-se esse cenário a Operação Lava Jato e os seus desdobramentos. 

Para completar, em meio ao maior afastamento da presidente Dilma Rousseff, o seu padrinho Luiz Inácio Lula da Silva fez chegar para ela o recado de que pretende se concentrar em sua defesa pessoal e na reconstrução da imagem do PT, deixando em segundo plano a advocacia do governo, conforme destaca o jornal Folha de S. Paulo. Não é a primeira vez que esse afastamento acontece, mas o momento é considerado o de maior fissura entre os dois. 

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Desta forma, qual é o cenário para a presidente Dilma? O seu isolamento pode enfraquecê-la a ponto de aumentar as chances de impeachment e, a priori, enfraquecer o ajuste fiscal? Confira a opinião de analistas sobre o assunto: 

Claudio Couto, FGV-SP
Cientista político e professor do Departamento de Gestão Pública da Fundação Getulio Vargas de São Paulo, Cláudio Couto lembra que a fotografia de tensão nas relações entre Dilma Rousseff e o PT não é nova; vem de sucessivos abalos de muito tempo. A situação, porém, tem apresentado piora na medida em que cresce o desgaste do partido e da própria presidente frente à opinião pública, o que também torna mais custoso à sigla apoiar uma agenda que se choca com suas bandeiras embrionárias. Além disso, sua pouca identificação com a história de militância e liderança também limitam créditos dentro do partido. “A atual presidente não é uma militante histórica do PT, muito menos liderança. O partido não tem muitas razões para manter compromisso político com ela. Para que ela force o partido a engolir sapos, [na atual conjuntura], fica mais difícil”, observou Couto. Seu antecessor, o ex-presidente Lula, foi capaz de calibrar as ações entre o projeto petista e a agenda do mercado, mas sua incomparável habilidade política e o momento econômico do país contribuíram naquela situação. “Lula tinha uma legitimidade que Dilma não tem”.

Em consequência da atual situação de acirramento político, o professor enxerga a possibilidade de uma ruptura política nas relações entre a presidente e seu partido, o que poderia complicar ainda mais o cenário de governabilidade para Dilma. “Se perder o PT, sobrarão menos aliados para defender seu mandato. Ela corre sérios riscos de perder o mandato”, afirmou Couto. Hoje, já tem se intensificado o que o professor chama de “apoio ambíguo” do partido ao atual governo: defende-se o mandato de Dilma, mas criticam-se praticamente todas as medidas econômicas implementadas. Na avaliação do cientista político, a posição do PT sobre o governo da presidente que elegeu dependerá da relação custo/benefício do apoio. Se o custo não for compensado com aquilo que o partido deseja em termos de benefícios, diz Couto, vai ser difícil. “Dilma está em uma sinuca de bico. Ela está em uma situação não só dilemática, mas trágica. Qualquer escolha que fizer, terá custos significativos”, concluiu o professor.

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O professor Cláudio Couto estará ao vivo no programa Na Real na TV, do InfoMoney, amanhã, a partir das 14h (horário de Brasília).

Rafael Cortez, analista político da Tendências
O analista político Rafael Cortez destaca que o quadro de dissociação entre o governo e o partido não é novo, sendo uma repetição do cenário quando Joaquim Levy era o comandante da Fazenda. A percepção do PT era de que a agenda do ministro, focada no ajuste fiscal, constituía-se em uma agenda negativa e que, no limite, traria dificuldades para o governo no sentido de trazer estabilidade ao governo. 

Com a chegada de Nelson Barbosa, esperava-se uma maior integração entre o PT e o Palácio do Planalto, mas não foi isso que aconteceu, aponta Cortez. Isso porque, apesar de algumas medidas terem sido implementadas, como impulso ao crédito, o desafio para conquistar a credibilidade fiscal continuou sendo o foco. As tensões aumentaram com o evento externo da fase Acarajé da Operação Lava Jato, que resultou na prisão do publicitário do PT das últimas três eleições presidenciais, João Santana. 

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“Não acredito que o PT ganhe com Dilma saindo e o partido continuará mantendo a dicotomia”, afirma Cortez, que é o de apoiar a continuidade do mandato da presidente Dilma, mas sem apoiar as medidas econômicas. Neste cenário, o enfraquecimento da base e essa distensão cada vez maior pode enfraquecer a obtenção do um terço necessário (dos deputados) para barrar o impeachment na Câmara, aponta o analista. A Tendências segue com probabilidade de 45% de impeachment da presidente. 

Gabriel Petrus, Barral M. Jorge
Em meio à espiral da crise política e econômica, Dilma passa a se preocupar em deixar algum legado na sua presidência, afirma o analista político Gabriel Petrus, da Barral M. Jorge. “A presidente têm consciência que não há mais espaço mais para falar de crescimento econômico nem de agenda positiva. A estratégia realista é trabalhar para evitar danos maiores ao país, sem pretensões maiores. É o que resta à Presidente”, destacou.

Segundo ele, “os atores políticos não tem interesse em apoiar a presidente nesta missão, porque para nenhum deles há perspectiva de colheita de dividendos políticos: ao PT, não interessa uma estabilização que ocorra sob a égide do ajuste fiscal, do desemprego e da contração econômica. O PT quer ajuste e estabilização pela esquerda, mas esse quadro não é factível por conta das complexidades de forças que movem a economia brasileira. Para o PT, mais vale agora o plano simbólico do discurso que uma conduta realista. Pode parece contraditório, mas para o PT a retomada do o discurso ideológico é a postura mais pragmática que o partido poderia adotar: trata-se de garantir a sobrevivência do próprio partido”.

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Já para a oposição, a estabilização só poderá ser feita com alternância de poder, que pode ser feita dentro do calendário eleitoral, ou antes, a depender dos desdobramentos da operação Lava Jato, sobre a qual nenhum ator político tem controle. Desta forma, não há perspectiva, portanto, de cooperação da oposição com o “Plano Dilma” de estabilização.

“No meio termo desses dois cenários, a presidente ainda não se deu conta do seu isolamento. Quando tomar consciência, pode ser tarde para qualquer reaproximação com o PT, assim como já é tarde para qualquer aproximação com a oposição. Sem o PT, a hipótese de renúncia volta a ser uma possibilidade”, afirma o analista político.

Bruno Rovai, economista do Barclays 
O Barclays ressalta que a presidente Dilma Rousseff está se tornando mais isolada, uma vez que sua base de apoio diminuiu. Conforme destaca o economista Bruno Rovai, em relatório, na semana passada, três diferentes setores de apoio de Dilma foram abalados com a prisão do responsável por sua campanha, João Santana, fortes críticas de seu próprio partido e os primeiros sinais de que movimentos sociais estão se distanciando da presidente. 

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 “Uma presidente isolada e pressionada torna-se mais suscetível a um impeachment”, afirma o economista. Conforme ressalta Rovai, a presidente possui muitas metas a serem cumpridas, muitas partes interessadas para agradar e não há recursos para tanto.

A falta de capital político da presidente tem chegado a níveis alarmantes, afirma o banco, e, segundo o Barclays, quanto mais tempo demorar para o julgamento do processo de impeachment na Câmara dos Deputados, maior a chance dele passar na Casa. Enquanto isso, qualquer medida fiscal vai demandar muito mais do governo do que ele pode oferecer nesta conjuntura. “Nós continuamos a ver a presidente Dilma Rousseff lutando para conseguir recuperar governança e credibilidade com sua base de apoio, ao tentar passar as medidas fiscais impopulares para tentar conter a deterioração fiscal que ameaça a sustentabilidade da dívida do país. Estas duas batalhas são muito difíceis de vencer separadamente, mas combatê-las juntos é quase impossível”, afirma o banco. Neste cenário, o protesto marcado para 13 de março será o grande teste, afirma o Barclays. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.