Lula e Bolsonaro se enfrentam sobre Covid e corrupção, disputam Nordeste e eleitores mais pobres no primeiro debate do 2º turno

Candidatos concentram esforços em batalha de rejeição e deixam propostas para o país em segundo plano

Marcos Mortari Anderson Figo

Debate presidencial de segundo turno Grupo Bandeirantes, Folha e TV Cultura (Reprodução/YouTube)
Debate presidencial de segundo turno Grupo Bandeirantes, Folha e TV Cultura (Reprodução/YouTube)

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A duas semanas do segundo turno, o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estiveram frente a frente pela primeira vez, na noite deste domingo (16), em um debate depois da votação de 2 de outubro que os fez avançar na disputa.

O encontro entre os candidatos ao Palácio do Planalto, realizado em horário nobre da televisão, foi promovido por um pool de veículos de imprensa formado por TV Bandeirantes, TV Cultura, Folha de S.Paulo e UOL.

Durante o debate, os candidatos deram mais atenção a temas com potencial de gerar desgaste ao adversário do que à apresentação de propostas para o país em diversas áreas e por diversas vezes trocaram acusações de disseminar informações falsas.

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Lula lançou luz sobre a política educacional do atual governo e o desempenho de Bolsonaro no combate à pandemia de Covid-19. Já Bolsonaro explorou episódios de corrupção relacionados às gestões do PT e reforçou posições nas pautas religiosa e de costumes.

Logo no primeiro bloco, Lula responsabilizou Bolsonaro por ao menos 400 mil mortes de Covid-19 no país, em razão do atraso da vacinação da população, das críticas aos imunizantes e de uma postura contrária a políticas recomendadas por autoridades sanitárias.

“O senhor atrasou a vacina. Depois, teve, inclusive, um processo de corrupção denunciado pela CPI, e o fato concreto é que sua negligência fez com que 680 [mil] pessoas morressem quando mais da metade poderiam ter sido salvas. A verdade é que o senhor não cuidou, debochou, riu. O senhor gozou das pessoas e imitou as pessoas morrendo afogadas por falta de oxigênio em Manaus. Não há na história de nenhum governo do mundo alguém que brincou com a pandemia e com a morte como você”, disse.

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Em resposta, Bolsonaro repetiu que não havia vacina disponível para aplicação em 2020 e salientou que o primeiro imunizante foi aplicado no Brasil em janeiro do ano seguinte. “Nós compramos mais de 500 milhões de doses de vacina, e todos aqueles que quiseram tomar vacina tomaram. O Brasil foi um dos países que mais vacinou no mundo e em tempo mais rápido”, rebateu.

O presidente, que hoje disputa a reeleição frequentemente questionou a eficácia das vacinas e por diversas vezes criticou as fabricantes. Em diversas oportunidades, disse que não se vacinaria e comprou uma disputa com governadores estaduais que cobravam acesso aos imunizantes com maior celeridade.

“Quando o Brasil começou a dar vacina, São Paulo começou a dar vacina, 57 países já tinham dado vacina”, confrontou Lula. “A verdade, Bolsonaro, é que você colocou um ministro da Saúde que não entendia. O único que parece que entendia um pouco era o [Luiz Henrique] Mandeta, que você tirou logo; depois colocou outro que não entendia. Até chegar ao [Eduardo] Pazuello. Era visível que ele não entendia nada de saúde. Era visível que tinha sido montada uma turma para comprar vacina”.

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Em réplica, Bolsonaro trouxe o tema da corrupção à discussão sobre pandemia, introduzindo referências a supostos casos de desvios de recursos públicos envolvendo o Consórcio do Nordeste na aquisição de equipamentos médicos. Segundo ele, “irmãos nordestinos morreram por falta de ar” porque governadores falharam na compra de respiradores.

“O Consórcio do Nordeste, o qual você tinha amplo conhecimento e domínio, praticou corrupção e matou, sim, irmãos nordestinos sufocados em hospitais”, disse Bolsonaro.

O presidente disse que poderia ter evitado a CPI da Pandemia se tivesse acatado uma emenda de parlamentares que hoje apoiam Lula, autorizando governadores e prefeitos a adquirir vacinas sem certificação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e sem licitação. “Seria a festa, a roubalheira maior. E quem pagaria a conta? O governo federal”, argumentou.

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Nordeste em disputa

Um dos principais pilares da vantagem de cerca de 6 milhões de votos construída por Lula no primeiro turno, o eleitorado da Nordeste foi um dos focos de disputa entre os candidatos na primeira metade do debate. Enquanto Bolsonaro tenta melhorar seu desempenho na região para virar o jogo, Lula trabalha por um placar ainda mais elástico na votação de 30 de outubro.

Em sua fala, Bolsonaro acusou Lula de não ter cumprido promessas feitas à população do Nordeste, e disse que o candidato do PT ao Planalto “negou água” à população da região ao não ter concluído a transposição do Rio São Francisco durante sua gestão.

“O senhor promete o tempo todo. O senhor prometeu levar água para o Nordeste e agora está prometendo picanha e cerveja. O senhor não fica vermelho com essas propostas mirabolantes e mentirosas?”, indagou o presidente.

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Em resposta, Lula disse que concluiu 88% das obras da transposição do Rio São Francisco e que Bolsonaro fez apenas uma pequena parte que faltava para terminar o projeto, acusando o atual presidente de ter ficado com um crédito indevido por isso.

“Eu fiz 88% das obras do São Francisco, ele fez 3,5%. Dizer que foi sua? Você acha que alguém acredita? Você acha que o nordestino que ligou a televisão acredita que foi você que levou água? Você que fez ferrovia?”, questionou Lula.

Bolsonaro voltou a falar do Nordeste quando lançou o assunto do Auxílio Brasil, na tentativa de atrair o eleitorado da região. No primeiro turno, Lula venceu em todos os nove estados nordestinos.

“O senhor tem o seu passado, que é lamentável e triste, em especial entre os mais humildes, os mais pobres do Brasil. Quero falar agora com o pessoal do Nordeste, quanto era o Bolsa Família? Começava com R$ 40. Nós triplicamos a média com o Auxílio Brasil”, disse Bolsonaro.

Já Lula disse que seu governo marcou “o maior programa de inclusão social da história” do país, que abarcava não apenas o Bolsa Família, mas medidas para a geração de emprego, a política de valorização real do salário mínimo, além da criação de universidades e escolas técnicas.

Corrupção volta ao destaque

O tema corrupção foi abordado nos três blocos do debate. Questionado sobre a negociação com o Congresso Nacional via “orçamento secreto”, Bolsonaro negou ter “comprado o centrão” e disse que “o parlamento trabalha melhor na distribuição de renda” do que o Poder Executivo.

“Eu comprei com o Orçamento? Eu vetei. Derrubaram o veto. Agora, se eu comprei, eu tenho voto. Vamos supor que o senhor seja deputado, se o senhor recebeu um dinheiro do orçamento secreto, o senhor vai votar comigo. É lógica, ou não é? Eu tenho aqui uma lista preliminar, 13 deputados do PT que receberam recurso desse tal orçamento secreto. Eu não tenho nada a ver com esse orçamento secreto. Posso até entender que o parlamento trabalha melhor na distribuição de renda do que nós do lado de cá, o meu Ministério da Economia e o presidente”, afirmou.

Lula também foi questionado sobre ter “comprado” apoio parlamentar via “petrolão”, com os casos de corrupção descobertos na Petrobras. O candidato disse que a escolha de deputados e senadores são responsabilidade do povo brasileiro e que, se eleito, pretende criar um orçamento participativo, de movo a ampliar a influência dos cidadãos nas decisões alocativas e reduzir a influência de grupos fisiológicos no Congresso Nacional.

“Eu vou tentar confrontar essa história do orçamento secreto, eu vou tentar criar um orçamento participativo que foi uma coisa que criamos nos estados brasileiros. Vamos pegar o orçamento e vamos mandar para o povo dar opinião para saber o que ele quer efetivamente que seja feito para ver se a gente consegue diminuir o poder de sequestro que o centrão fez no presidente Bolsonaro”, disse.

No terceiro bloco, em confronto direto, Bolsonaro voltou a pressionar Lula sobre os escândalos de corrupção na Petrobras. O ex-presidente voltou a usar o argumento de que seu governo criou instrumentos que aumentaram a transparência da gestão pública e permitiu que casos de malfeitos fossem descobertos e os responsáveis punidos.

“Se houve corrupção na Petrobras, prendeu-se o ladrão que roubou, acabou. Prendeu porque houve investigação, porque no nosso governo nada era escondido. A gente não tinha sigilo do filho, da filha, do cartão de crédito, das casas, nada. Era o Portal da Transparência e a Lei de Acesso à Informação”, afirmou.

Bolsonaro insistiu no tema, falando sobre o endividamento da Petrobras e citou a compra da refinaria de Pasadena, no exterior. “Você entregou para partidos políticos diretorias da Petrobras, fez um leilão em troca de apoio no parlamento, botava gente indicada por grupos partidários e o pessoal entrava para saquear. E você, com os votos caindo para aprovar propostas, você se refestelava”, acusou o presidente.

Lula disse achar um absurdo que os investimentos que começaram a ser feitos em seu governo em refinarias da Petrobras estejam paralisados por causa de indícios de corrupção que já foram solucionados e que, caso as obras tivessem sido retomadas, teriam gerado mais alívio aos preços atuais dos combustíveis.

O candidato do PT também criticou a conduta da Operação Lava Jato, que culminou em severas crises nas empresas investigadas por escândalos de corrupção. Ele alega que a Justiça deveria ter seguido o script adotado em outras democracias, onde os responsáveis foram punidos, mas as companhias preservadas − de modo a não punir a economia e os empregados.

Na discussão sobre corrupção, Bolsonaro contou com a orientação do ex-juiz Sérgio Moro (União Brasil), responsável por uma das condenações de Lula (posteriormente anulada pelo Supremo Tribunal Federal). Moro foi eleito senador nessas eleições e recentemente reatou com o presidente, após deixar o Ministério da Justiça em abril de 2020 acusando o mandatário de interferir na Polícia Federal.

Crime organizado

Como escape do tema da pandemia de Covid-19, Bolsonaro levou a discussão para o campo do crime organizado. Em sua fala, insinuou a existência de um acordo entre o traficante Marcos Camacho (o “Marcola”), chefe da facção Primeiro Comando da Capital (PCC), com Lula e seu vice, o ex-governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB).

“Em 2006, 59 policiais foram executados em São Paulo, porque teriam que transferir o Marcola para um presídio de segurança máxima. Ele não podia mais ficar aqui comandando o crime. Seu governo não transferiu o Marcola”, disse o atual presidente.

“O candidato sabe que quem cuida de crime organizado não sou eu, quem tem relação com miliciano e com o crime organizado não sou eu − e sabe quem tem”, rebateu Lula. O petista, inclusive, mencionou o nome de Marielle Franco, vereadora assassinada no Rio de Janeiro, em crime até hoje não solucionado.

Em réplica, Bolsonaro disse que Lula tem “amizade com bandidos” e afirmou que, em comício recentemente organizado pela campanha do adversário em favelas no Rio, “não tinha nenhum policial”. “Tanto é verdade a sua afinidade com traficantes e bandidos que, nos presídios do Brasil, de cada 5 votos o senhor teve 4”, afirmou.

O tema já havia sido explorado pela campanha de Bolsonaro em peça publicitária, que acabou derrubada por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em resposta no debate, Lula disse que era o único candidato com coragem de entrar em uma favela sem colete de segurança e exaltou o comício realizado na semana passada em comunidades cariocas.

“Ali não tinha bandido na passeata, havia mulheres e homens que trabalham, que levantam às 5h da manhã para trabalhar. Os bandidos o senhor sabe onde estavam. Um vizinho seu tinha 100 armas dentro de casa. Esse não era da favela do Complexo do Alemão. Esse, quem sabe, morava em um apartamento na Avenida Copacabana. Achar que o bandido está só no lugar dos pobres? Os grandes bandidos estão no lugar dos ricos. Os pobres são trabalhadores e eu vou voltar ao Complexo do Alemão, porque não foram os presos que votaram em mim, foi o povo brasileiro. Eu tive 6 milhões de votos a mais que você com toda essa gastança que você fez”, rebateu.

Fake news

Além das interações diretas entre os candidatos, o debate teve momentos em que Lula e Bolsonaro tiveram que responder questionamentos de jornalistas das emissoras organizadoras do evento.

Questionados sobre a disseminação de notícias falsas durante a campanha e se poderiam se comprometer a propor uma lei específica para punir autoridades eleitas e servidores que divulguem informações inverídicas − inclusive quem estiver ocupando a Presidência da República −, os dois candidatos despistaram e se limitaram a trocar acusações.

“Eu já participei de outras campanhas contra o FHC (Fernando Henrique Cardoso), o [Fernando] Collor, o [José] Serra e o nível era outro. Era um nível civilizado, em que a verdade sempre prevalecia”, disse Lula. “Eu acho que a campanha tem que ser regulada, a Justiça tem que tomar decisão e, toda vez que houver mentira, nós vamos entrar com processo para tirar”, completou.

Já Bolsonaro citou a decisão do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ministro Alexandre de Moraes, que mandou a campanha de Lula tirar do ar um vídeo que associava Bolsonaro a pedofilia a partir de falas do próprio mandatário sobre meninas venezuelanas.

[A campanha de Lula] Me acusou de pedofilia, tentando me atingir naquilo que tenho mais de sagrado: defesa da família brasileira, defesa das crianças”, afirmou o presidente no debate.

No vídeo em questão, Bolsonaro fala, em entrevista a um podcast, que “pintou um clima” ao descrever um encontro com adolescentes venezuelanas de 14 anos ocorrido no Distrito Federal em 2021.

Antes de o debate começar, ao chegar à sede da TV Bandeirantes, o presidente já havia falando sobre a decisão de Alexandre de Moraes e dito, em entrevista, que havia sido mal interpretado. Ele também fez uma live na madrugada de sábado para domingo para explicar o termo utilizado.

Interferência sobre os Poderes

Outro assunto introduzido por provocação dos jornalistas foi a possibilidade de mudanças na composição do Supremo Tribunal Federal (STF).

O tema que entrou na campanha eleitoral após Bolsonaro dizer que iria avaliar uma proposta para aumentar o número de ministros na Corte e depois recuar e acusar a imprensa de plantar o assunto.

Neste debate, Bolsonaro se comprometeu a não levar adiante “nenhuma proposta” que discuta possível aumento no número de assentos no principal órgão do Poder Judiciário. “Da minha parte, está feito o compromisso: não será feita nenhuma proposta, como nunca estudei isso com profundidade”, afirmou.

“A proposta de emenda à Constituição, ora em tramitação, é da senhora Luiza Erundina, e tem 40 deputados do PT que deram o devido apoiamento. Ou seja, em 2013, a senhora Dilma Rousseff, que exercia forte influência do senhor Lula, tentou criar mais 4 vagas para o Supremo Tribunal Federal. Da minha parte está feito o compromisso”, pontuou.

“Mas deixo claro: no momento, o PT tem 7 ministros indicados para o Supremo Tribunal Federal. E eu tenho 2. Caso eu venha a ser reeleito, eu tenho mais 2. Eu ficaria com 4 e o PT, com 5. Tá feito o equilíbrio”, disse.

Já Lula lembrou a experiência da ditadura militar, quando manobras no STF foram tomadas para garantir uma maioria simpática ao regime. “Não é prudente, não é democrático um presidente da República querer ter os ministros da Suprema Corte como amigos. Você não indica um ministro da Suprema Corte para ele votar favorável a você ou te beneficiar. Os ministros da Suprema Corte têm que ter currículo, as pessoas têm que ter história, têm que ter biografia. E essa gente precisa fazer o que precisa ser feito”, afirmou.

“Estou convencido de que tentar mexer na suprema corte para colocar amigo, companheiro, partidário, é um atraso, é um retrocesso que a República brasileira já conhece muito bem. Eu sou contra”, complementou. Em sua resposta, o ex-presidente disse que seria possível, futuramente, caso seja convocada uma nova constituinte, discutir a ideia de estabelecer mandato aos magistrados.

Lula afirmou que as escolhas para o STF têm que ser feitas “por competência, por currículo, e não por amizade”. Bolsonaro, por sua vez, acusou o adversário de ser amigo do ministro Edson Fachin, o responsável pela decisão monocrática que levantou suas condenações no âmbito da Operação Lava Jato e abriu caminho para sua candidatura nessas eleições − movimento endossado pelos colegas no tribunal.

“Faltou só o senhor Lula dizer que só é candidato à Presidência da República por causa de um ministro que foi cabo eleitoral de Dilma Rousseff e depois por ela foi indicado para o STF, o sr. Fachin. Então o sr só está disputando aqui por obra e graça de um amigo indicado pelo PT”, disse Bolsonaro.

Meio Ambiente

Lula trouxe para o debate o tema meio ambiente, foco de críticas na gestão de Jair Bolsonaro, especialmente sobre o aumento do desmatamento na Amazônia. O ex-presidente disse que, quando era chefe do Executivo, sempre era convidado a participar das reuniões do G-20 e do G-8 porque tinha um governo que cuidava da “questão do clima”.

“Foi no nosso governo o menor desmatamento da Amazônia. E no seu é o maior todo ano. Vocês estão brincando de desmatar, vocês estão brincando de abrir cerca, vocês estão brincando de derrubar árvores. Vocês vão ver o que vai acontecer com o comércio brasileiro”, disse Lula.

“O brasileiro do agronegócio que é sério, aquele que quer ganhar dinheiro, aquele que quer exportar, sabe que não pode invadir a Amazônia. Então, nós vamos ganhar as eleições para poder cuidar da Amazônia e não permitir que haja invasão em terra indígena, em garimpo ilegal e muito menos alguém querer plantar milho, soja ou algum outro produto no lugar onde não pode plantar”, completou.

Em resposta, Bolsonaro minimizou a questão e disse que em seu governo o desmatamento é menor do que durante o primeiro mandato de Lula, entre 2003 e 2006, e logo mudou de assunto, falando que foi o presidente que deu o maior reajuste salarial aos professores do ensino público brasileiro.

Lula rebateu dizendo que em seu governo o desmatamento caiu de 27.000km para 4.000km e que o Brasil foi elogiado na COP-15 e no encontro de Paris porque era o país que menos desmatava. “Não existiu nenhum governo que fizesse o que a gente fez na questão ambiental”, disse.

“Agora, nós vamos fazer mais, porque nós vamos fazer com que a agricultura de baixo carbono possa fazer com que o Brasil receba, quem sabe, muito dinheiro da União Europeia e de outros países por conta do sequestro de gás do efeito estufa que nós vamos fazer preservando a Amazônia”, completou Lula, dizendo que vai criar um ministério dos povos originários.

Bolsonaro rebateu dizendo que Lula “quer dividir a biodiversidade da Amazônia com o mundo, em vez de dizer que a Amazônia é nossa”, e voltou a tentar mudar de assunto acusando o ex-presidente de querer “controlar a mídia”.

Novo modelo

O modelo adotado para o debate abriu, em duas oportunidades, oportunidades de interação aberta aos candidatos, que dispunham de 15 minutos de fala em cada um desses blocos, podendo fazer interrupções quando desejassem para passar a palavra ao adversário.

No primeiro bloco, Lula conseguiu ter maior controle sobre o assunto em discussão, mantendo as pautas de educação e da Covid-19 em destaque durante mais da metade da interação.

Já no segundo, a situação se inverteu e Bolsonaro manteve a pauta da corrupção em evidência por um longo período. O petista também teve dificuldades na administração do tempo nesta etapa, permitindo que o atual presidente ficasse com quase 5 minutos livres para falar ao final.

Ao longo do debate, Lula pediu quatro direitos de resposta por considerar que Bolsonaro atacou sua honra em algumas falas − apenas um deles foi aceito. Já o candidato à reeleição solicitou dois, que não foram atendidos pela comissão avaliadora.

Antes do segundo turno, marcado para o último domingo do mês (dia 30 de outubro), os dois candidatos deverão estar novamente frente a frente em debate promovido pela TV Globo. O encontro está previsto para sexta-feira, 28 de outubro. Outros debates ainda não estão confirmados.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.