Lula e Bolsonaro travam batalha de rejeição em debate com baixo potencial de “virar voto”

Para analistas, Lula teve melhor desempenho no início, e Bolsonaro no fim, mas tom pouco propositivo dificulta captura dos indecisos

Marcos Mortari Anderson Figo

Debate presidencial de segundo turno Grupo Bandeirantes, Folha e TV Cultura (Reprodução/YouTube)

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O primeiro debate entre Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno, realizado por um pool de emissoras formado por TV Bandeirantes, TV Cultura, Folha de S.Paulo e UOL neste domingo (17), mais uma vez exaltou a tônica de troca de ataques entre os candidatos ao Palácio do Planalto em detrimento a um foco propositivo das campanhas.

Analistas políticos consultados pelo InfoMoney viram Lula e Bolsonaro empenhados em uma estratégia para alimentar a rejeição ao oponente e construir recortes favoráveis de enfrentamentos que possam ser explorados por suas campanhas ao longo dos próximos dias em peças publicitárias e materiais para as redes sociais.

De um lado, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva buscou desgastar o adversário com questionamentos sobre políticas públicas na área da Educação e sobretudo a postura adotada por Bolsonaro no combate à pandemia de Covid-19. A agenda ambiental, também frequentemente levantada por críticos à atual administração, foi outro ponto explorado pelo petista.

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Já o presidente Jair Bolsonaro concentrou esforços em atacar Lula pelo flanco da corrupção − estratégia adotada pelo candidato já desde antes do primeiro turno. O presidente, porém, contou com o reforço do ex-juiz Sérgio Moro (União Brasil), com quem reatou recentemente, nesta ofensiva. Em outro flanco, o mandatário também buscou fazer associações do adversário ao crime organizado.

Para os especialistas ouvidos pela reportagem, Lula teve melhor desempenho na primeira interação, quando foi capaz de pautar o debate durante quase os 15 minutos de fala de cada um.

E Bolsonaro ganhou terreno na segunda interação, quando assumiu maior controle da discussão e ainda contou com o benefício de uma administração ruim do tempo pelo adversário, que lhe garantiu cerca de 5 minutos para falar sozinho ao final.

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De todo modo, a insistência em argumentos já conhecidos por boa parte do eleitorado e o tom pouco propositivo podem reduzir a possibilidade de grandes movimentações no xadrez presidencial a partir do debate − a despeito da audiência considerada elevada para o evento na televisão e nas redes sociais.

“Os dois candidatos falaram bem para os seus públicos. Com Lula melhor no primeiro bloco e Bolsonaro melhor no terceiro (somada à má gestão do tempo por parte do ex-presidente), é pouco provável que o debate seja um fator decisivo para influenciar eleitores indecisos”, avalia Mário Braga, analista político sênior da consultoria Control Risks.

Para o cientista político Leandro Consentino, professor do Insper, o debate não trouxe grandes surpresas, com os candidatos mirando em fragilidades já conhecidas de seus adversários. “O debate foi aquilo que era esperado: uma contenda bastante acirrada entre os dois candidatos, focando em temas previsíveis”, resume.

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O especialista qualificou o debate como uma espécie de “jogo de cartas marcadas”, que pode surtir pouco efeito sobre o resultado da corrida presidencial. “Não acredito que mudou fundamentalmente muitos votos ali. Do ponto de vista do conteúdo, foi mais do mesmo”, diz.

Na avaliação do analista político Carlos Eduardo Borenstein, da consultoria Arko Advice, o desempenho dos candidatos se aproxima de um quadro de empate − o que favoreceria Lula, que terminou o primeiro turno com uma vantagem de pouco mais de 6 milhões de votos sobre Bolsonaro e ainda lidera as pesquisas de intenção de votos.

“Lula foi melhor no primeiro bloco. Nos outros, Bolsonaro foi um pouco melhor, mas não a ponto de vencer. Nesse debate, o eleitor, principalmente o indeciso, tem muito interesse em temas propositivos, e os dois candidatos optaram por realçar temas que elevam a rejeição do oponente”, pontua.

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“Como não vejo um vencedor, o debate é positivo para Lula, porque está em vantagem. Passou o debate, ele teve momentos ruins, mas Bolsonaro também teve. Então, não acaba tendo um grande impacto [sobre a disputa]“, conclui.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.