Lula diz que regras de comércio foram erodidas, tornando a OMC inoperante

Presidente participa de conferência da ONU na França e reafirma defesa do acordo UE-Mercosul

Marina Verenicz

Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante sessão solene por ocasião da assinatura de Declaração de Intenções entre o Brasil e a Interpol. Sede da Interpol, Lyon - França
Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante sessão solene por ocasião da assinatura de Declaração de Intenções entre o Brasil e a Interpol. Sede da Interpol, Lyon - França

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu nesta segunda-feira (9) que a governança dos oceanos não siga o mesmo caminho do comércio internacional, cujas regras, segundo ele, foram “erodidas” a ponto de tornar a Organização Mundial do Comércio (OMC) “inoperante”. A declaração foi feita durante a 3ª Conferência das Nações Unidas sobre os Oceanos, realizada em Nice, na França.

“Evitar que os oceanos se tornem palco de disputas geopolíticas é uma tarefa urgente para a construção da paz”, afirmou Lula. “Golfos e estreitos devem nos aproximar, e não ser motivo de discórdia.”

O discurso reforça a aposta do governo brasileiro em protagonismo internacional com foco ambiental e diplomático, estratégia que vem sendo utilizada para reposicionar o país nas mesas multilaterais, especialmente em preparação para a COP30, que ocorrerá em Belém, em 2025.

“Não é invenção de cientista”

Na mesma fala, Lula afirmou que a COP30 deve ser marcada por “decisões importantes” e destacou a necessidade de convencer chefes de Estado de que a questão climática “não é invenção de cientista, nem brincadeira de gente da ONU”, mas sim uma “necessidade vital de preservação da vida humana”.

A retórica do presidente busca contrapor o negacionismo climático e angariar apoio político em um momento de pressão internacional sobre temas como desmatamento, transição energética e proteção da Amazônia.

Mercosul e Macron

Durante sua agenda na França, Lula também se reuniu com o presidente francês Emmanuel Macron. Um dos principais temas do encontro foi o impasse nas negociações do acordo comercial entre Mercosul e União Europeia.

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Segundo o presidente brasileiro, Emmanuel Macron ainda não apresentou uma proposta concreta para acomodar as preocupações francesas, especialmente em relação aos impactos do acordo sobre pequenos produtores rurais da França. Lula, no entanto, reiterou que pretende concluir o acordo durante a presidência temporária brasileira do Mercosul, que se inicia em 7 de julho.

“Vou conversar com Macron na COP30, em Belém, e tentarei convencê-lo de que o acordo não prejudica os pequenos produtores franceses”, disse o presidente Lula.

Agenda internacional

Lula também visitou a sede da Interpol, em Lyon, para discutir o combate ao crime organizado, em mais um gesto simbólico de aproximação com organismos multilaterais.

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Desde o início do seu terceiro mandato, em 2023, o presidente Lula já viajou para 35 países. Ao final da atual visita à França, terá passado 114 dias fora do Brasil. Apenas em 2025, já realizou sete viagens internacionais, um dado que alimenta críticas da oposição, que acusa o governo de negligenciar demandas internas.

Apesar das críticas, o Palácio do Planalto vê as viagens como parte de uma estratégia deliberada de reposicionamento internacional, na qual Lula busca colocar o Brasil como ator central nos debates sobre clima, desigualdade e reforma da governança global.