Vacinas, frente ampla para 2022, críticas a Bolsonaro e a privatizações: os destaques do discurso de Lula

Em discurso, ex-presidente fez duras críticas à condução da pandemia e defendeu um projeto nacional-desenvolvimentista na economia

Ricardo Bomfim

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*Notícia atualizada às 14h36 (horário de Brasília) para acréscimo de informações. 

SÃO PAULO – O ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, fez nessa quarta-feira (10) seu primeiro pronunciamento depois da decisão do ministro Luiz Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Marcado pela oposição polarizada ao governo do presidente Jair Bolsonaro, sua fala focou em diversos momentos na condução da pandemia. “Não siga nenhuma decisão imbecil do presidente da República, tomem vacina”, disse Lula.

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O petista também defendeu que o chefe do Executivo deveria ter criado um comitê de crise com ministro da Saúde, secretários dos estados e cientistas da Fiocruz.

“Nós sequer aceitamos vacinas da Pfizer. Temos um presidente que inventou uma tal de cloroquina, que dizia que Covid era gripezinha e que quem tinha medo era covarde, que ele era ex-atleta e não iria pegar. Esse não é o papel no mundo civilizado de um presidente da República”, ressaltou.

O ex-presidente ainda prestou solidariedade às vítimas do coronavírus e a todos os profissionais da saúde, sobretudo os do Sistema Único de Saúde (SUS). “Quando veio o coronavírus, se não fosse o SUS teríamos perdido muito mais gente do que perdemos.”

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Lula criticou Bolsonaro ao dizer que um “presidente da República não é eleito para falar bobagem ou Fake News”.

Ele ainda se opôs às tentativas do governo de liberar as armas, argumentando que quem precisa de armamento são as forças armadas e não a população. “É a nossa polícia, que sai para combater a violência com um 38 velho e enferrujado, não os milicianos que querem armas para fazer o terrorismo nesse país, para matar meninos e meninas negros na periferia.”

Privatizações

Sobre economia, Lula fez um discurso nacional-desenvolvimentista, crítico às privatizações. “Nunca ouviram falar privatização da minha boca. Venderam a nossa BR Distribuidora (BRDT3). Vocês já viram o Guedes falar em desenvolvimento? Só falam em vender”, comentou.

Para Lula, o que vai fazer a dívida pública diminuir em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) é o crescimento econômico via investimento público.

Em relação ao STF, Lula expressou agradecimento ao ministro Fachin por “cumprir algo que se esperava desde 2016” e ainda elogiou os ministros Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski pelos votos proferidos no processo de suspeição do ex-juiz Sérgio Moro. “Ontem, eu fiquei feliz porque vi a verdade proferida na íntegra por dois ministros da Suprema Corte. Antes, o Gilmar e o Lewandowski não apareciam.”

Por fim, Lula criticou a imprensa, afirmando que o jornalista deve escrever a verdade e não o que o editor quer que ele escreva. “Ninguém lidou com a imprensa como eu, desde 1975. O papel da imprensa quando o jornalista sai para a rua é falar a verdade, mesmo que seja contra o PT, o PCdoB e o Psol. Não uma imprensa que divulga ideologicamente o que ela quer.”

Conciliação

Na entrevista coletiva posterior ao pronunciamento, Lula fez um discurso conciliador principalmente quando questionado a respeito de uma aproximação com o empresariado como a realizada em 2002, quando o vice-presidente foi José Alencar, Lula afirmou ser necessário construir uma frente ampla para governar o País.

“Quando eu fui candidato em 2002 eu tive como vice o José Alencar. Foi a primeira vez em que fizemos uma aliança entre o capital e trabalho. E, sinceramente, sem nenhuma falsa modéstia foi o momento mais promissor da história desse País”, disse.

Lula disse ainda que é possível construir um programa envolvendo os setores conservadores em questões como vacina e auxílio emergencial. “Conversas com conservadores sobre os problemas do povo podem gerar efeitos extraordinários.”

Ele afirmou que não está pensando no momento em candidatura para a eleição presidencial de 2022, mas reconheceu que será discutida a possibilidade de uma candidatura única de uma frente ampla progressista contra a direita. “Precisamos esperar chegar o momento de a gente discutir e escolher candidato que vai se decidir, se vai ser possível ter candidatura única ou se vai ser possível ter várias candidaturas ou uma única candidatura de esquerda”, apontou Lula.

Medo do mercado

O ex-presidente ainda questionou o medo transparecido pelo mercado financeiro em relação à possibilidade de que ele se candidate à Presidência em 2022, ao mesmo tempo em que se manifestou contra a autonomia do Banco Central e a venda de ativos da Petrobras.

Ele apontou que os integrantes do mercado financeiro conviveram com o PT durante os oito anos de seus dois mandatos presidenciais e os seis anos sob o governo da ex-presidente da República Dilma Rousseff.

Em seguida, Lula declarou posição contrária à autonomia do Banco Central, transformada em lei no fim de fevereiro, dizendo que é melhor a autarquia estar “na mão do governo do que do mercado”.

Se, por um lado, o ex-presidente acenava com a possibilidade de trégua, ao sustentar que o mercado teria de votar nele se quisesse ganhar dinheiro investindo em “coisas produtivas”, por outro também contrapunha que agentes financeiros deveriam ter medo dele se quisessem ver a entrega da soberania nacional com a venda do patrimônio do País.

O ex-presidente ainda se manifestou sobre a venda de ativos da Petrobras, mandando um recado para potenciais compradores do portfólio que o governo de Bolsonaro tem ofertado ao setor privado: “A gente pode mudar muita coisa”, alertou, sugerindo reversão da diretriz de desinvestimentos da companhia se o PT voltasse a governar o País.

“Espero que o mercado seja sempre contra mim e o povo seja sempre a favor”, declarou o petista, complementando: “Gostaria que o medo do mercado tivesse fundamento. Vamos pegar os dados econômicos do meu governo”.

(com informações de agências)

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Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.