Lula alcança seu maior patamar, mas transferência a Haddad ainda é baixa, mostra XP/Ipespe

A 44 dias do primeiro turno, apenas um em cada três eleitores de Lula indicam migração para "plano B" petista

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – A uma semana do início do horário de propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) alcançou seu maior patamar de intenções de voto na disputa pelo Palácio do Planalto. De acordo com pesquisa XP/Ipespe, realizada entre 20 e 22 de agosto, o petista agora tem apoio de 32% na simulação de primeiro turno em que sua candidatura é considerada — 12 pontos percentuais acima do segundo colocado, o deputado Jair Bolsonaro (PSL). O resultado representa uma oscilação positiva de um ponto em relação à semana anterior. Nesta simulação, os votos em branco, nulos e indecisos somam 18%. A pesquisa, registrada no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) com o número BR-07829/2018, ouviu 1.000 pessoas e tem margem máxima de erro de 3,2 pontos para cima ou para baixo.

Preso há mais de quatro meses por corrupção passiva e lavagem de dinheiro após ser condenado por unanimidade em segunda instância, Lula está inelegível e tem poucas chances de poder participar da disputa, em função da Lei da Ficha Limpa. A pesquisa mostra que, apesar do bom desempenho, o ex-presidente ainda transfere poucos votos a seu vice, Fernando Haddad, cotado como o favorito para substituí-lo ao longo da disputa. O ex-prefeito paulistano tem 6% das intenções de voto no cenário em que é considerado candidato do PT, situação de empate técnico com outros três candidatos: Marina Silva (Rede), com 12%; Geraldo Alckmin (PSDB) e Ciro Gomes (PDT), ambos com 8%. O líder nesta simulação é Bolsonaro, com 23%, ao passo que o grupo dos “não voto” soma 30%.

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Assim como nas edições anteriores, a pesquisa testa o comportamento do eleitor quando o nome de Haddad é associado explicitamente a um esperado apoio de Lula. Nesta situação, o ex-prefeito cresce para 13% das intenções de voto. Bolsonaro lidera com 20% de apoio, ao passo que brancos, nulos e indecisos somam 31%. Uma semana atrás, o possível candidato petista tinha 15% das intenções de voto, o que correspondia a uma transferência de 44% do total conquistados por Lula. Agora, a taxa está em 32%, o menor percentual já registrado na série histórica da pesquisa XP/Ipespe, iniciada em maio. O movimento se dá em função da oscilação positiva de Lula e negativa de Haddad no recente levantamento.

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Nos dados estratificados, Lula tem 50% das intenções de voto no Nordeste e 37% de apoio dos eleitores com renda familiar mensal abaixo de dois salários mínimos. Já Haddad, mesmo no cenário com apoio explícito de Lula, tem 21% de intenções de voto dos nordestinos e 17% entre os eleitores das classes D e E. Como no momento o PT tem adotado a estratégia da insistência na candidatura de Lula, os esforços na transferência de votos a Haddad ainda não se intensificaram, embora o ex-prefeito já tenha começado a percorrer o País para difundir as ideias da campanha petista. No partido há controvérsia sobre quando a substituição de candidatura deve ocorrer. Legalmente, o prazo para isso ocorrer é até 17 de setembro, 20 dias antes do primeiro turno.

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A pesquisa XP/Ipespe também reforça a percepção de consolidação do apoio a Bolsonaro. No cenário espontâneo, quando não são apresentados nomes de candidatos aos eleitores, o deputado tem 15% das intenções de voto. Este tem sido o patamar do parlamentar nas sondagens desde maio, com flutuações de até 3 pontos percentuais, variação dentro da margem de erro. Por outro lado, este foi o primeiro levantamento da série histórica em que Lula apareceu numericamente à frente do deputado no cenário espontâneo, com 18% de apoio. Isso pode ser explicado com o movimento gerado em função do registro da candidatura do ex-presidente, embora as chances de ele realmente participar da disputa sejam pequenas.

Confira os cenários de primeiro turno testados pela pesquisa:

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Pesquisa espontânea: sem apresentação de nome dos candidatos

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Cenário 1: com Lula candidato

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Cenário 2: com Fernando Haddad candidato pelo PT

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Cenário 3: com Fernando Haddad, “apoiado por Lula”

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Migração de votos de Lula: Cenário 1 para Cenário 3

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Segundo turno

Foram testadas sete situações de segundo turno. Em eventual disputa entre Alckmin e Haddad, o tucano venceria por 36% a 23%, com 41% de brancos, nulos e indecisos. A diferença chegou a ser de 16 pontos percentuais a favor do candidato do PSDB em três semanas.

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Em uma simulação de disputa entre Lula e Bolsonaro, o petista aparece à frente, por 45% das intenções de voto a 33%, acima do limite máximo de margem de erro de ambos. Esta é a maior diferença entre os dois já registrada. Brancos, nulos e indecisos somam 22%. Quatro semanas atrás, a vantagem numérica de Lula era de 6 pontos, o que configurava empate técnico. No início da série histórica, o deputado aparecia 2 pontos à frente, também em situação de empate técnico, já que, pela margem de erro (3,2 p.p.), o petista poderia até superá-lo.

Caso Bolsonaro e Alckmin se enfrentassem, a situação seria de empate técnico, com o deputado numericamente à frente, com 34% contra 33% do tucano. Brancos, nulos e indecisos somam 33%. A diferença entre os candidatos chegou a ser de 7 pontos percentuais a favor do parlamentar na quarta semana de maio, acima do limite da margem de erro de ambos. Em nenhum momento até aqui o tucano esteve à frente.

Em eventual disputa entre Marina Silva e Bolsonaro, o cenário também é de empate técnico, com a ex-senadora numericamente à frente por 37% a 33%. Brancos, nulos e indecisos somam 30%. O deputado esteve numericamente à frente nos dois primeiros levantamentos da série, realizados na terceira e quarta semanas de maio, quando a diferença chegou a ser de 6 pontos percentuais a seu favor, também dentro do limite da soma das margens de erro de ambos os candidatos. Os dois estão tecnicamente empatados nesta simulação desde a primeira pesquisa realizada, em maio.

Empate técnico também é observado na simulação de disputa entre Alckmin e Ciro, com o tucano numericamente à frente por 33% a 28%. A diferença, dentro do limite das margens de erro, é a mesma da semana anterior. Brancos, nulos e indecisos agora somam 39%. Na última semana de junho, os dois apareciam com 32% das intenções de voto. Já na primeira semana daquele mês, o pedetista esteve numericamente à frente por diferença de 3 pontos, único momento em que liderou, embora dentro da margem de erro.

Se Bolsonaro e Ciro se enfrentassem em uma disputa de segundo turno, o cenário seria de empate, com ambos tendo apoio de 32% do eleitorado. Brancos, nulos e indecisos somam 36%. Nos dois primeiros levantamentos, o deputado vencia a disputa com diferença superior à soma das margens de erro dos candidatos.

A pesquisa também simulou disputa de segundo turno entre Jair Bolsonaro e Fernando Haddad. Ao contrário das primeiras quatro semanas em que o cenário foi testado, a disputa está em empate técnico, com o parlamentar numericamente à frente por 38% a 32%. O grupo dos “não voto” soma 30%.

Rejeição aos candidatos

A pesquisa também perguntou aos entrevistados sobre os candidatos em que não votariam sob nenhuma hipótese. Lula, Marina Silva e Geraldo Alckmin lideram a lista com taxa de 60% entre os entrevistados. Tecnicamente empatados com eles aparecem Jair Bolsonaro e Ciro Gomes, com 1 ponto percentual a menos de rejeição. Fernando Haddad tem taxa de 54%, também tecnicamente empatado com os líderes, dentro do limite da margem de erro. A trajetória dos principais nomes nas últimas sete pesquisas está na tabela abaixo:

CANDIDATO DE 09 A 11/07 DE 16 A 18/07 DE 23 A 25/07 DE 30/07 A 01/08 DE 06 A 08/08 DE 13 A 15/08 DE 20 A 22/08
Lula 61% 60% 60% 61% 60% 60% 60%
Jair Bolsonaro 54% 53% 55% 57% 57% 58% 59%
Marina Silva 58% 57% 59% 59% 59% 60% 60%
Ciro Gomes 60% 59% 58% 61% 60% 59% 59%
Geraldo Alckmin 59% 58% 58% 60% 57% 59% 60%
Álvaro Dias 47% 47% 48% 47% 46% 48% 48%
Fernando Haddad 57% 56% 59% 58% 56% 54% 54%

Fonte: XP/Ipespe

Metodologia

A pesquisa XP/Ipespe foi feita por telefone, entre os dias 20 e 22 de agosto, e ouviu 1.000 entrevistados em todas as regiões do país. Os questionários foram aplicados “ao vivo” por entrevistadores (com aleatoriedade na leitura dos nomes dos candidatos nas perguntas estimuladas) e submetidos a fiscalização posterior em 20% dos casos para verificação das respostas. A amostra representa a totalidade dos eleitores brasileiros com acesso à rede telefônica fixa (na residência ou trabalho) e a telefone celular, sob critérios de estratificação por sexo, idade, nível de escolaridade, renda familiar etc.

O intervalo de confiança é de 95,45%, o que significa que, se o questionário fosse aplicado mais de uma vez no mesmo período e sob mesmas condições, esta seria a chance de o resultado se repetir dentro da margem de erro máxima, estabelecida em 3,2 pontos percentuais. O levantamento está registrado no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) pelo código BR-07829/2018 e teve custo de R$ 30.000,00.

O Ipespe realiza pesquisas telefônicas desde 1993 e foi o primeiro instituto no Brasil a realizar tracking telefônico em campanhas eleitorais, a partir de 1998. O instituto tem como presidente do conselho científico o sociólogo Antonio Lavareda e na diretoria executiva, Marcela Montenegro.

Em entrevista concedida ao InfoMoney em 12 de junho, Lavareda explicou as diferenças de metodologias adotadas pelos institutos de pesquisa e defendeu a validade de levantamentos feitos tanto presencialmente quanto por telefone, desde que em ambos os casos procedimentos metodológicos sejam seguidos rigorosamente, com amostras bem construídas e ponderações bem feitas. Veja as explicações do sociólogo:

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.