Líder das manifestações diz que quer criar uma bancada liberal no Congresso

Kim Kataguiri diz que o Movimento Brasil Livre tem como objetivo criar uma bancada liberal formada por candidatos que vão competir nas próximas eleições por partidos da oposição

Equipe InfoMoney

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SÃO PAULO – Conhecido pela sua liderança nas manifestações, o jovem Kim Kataguiri, líder do Movimento Brasil Livre, disse que o próximo passo do MBL é se tornar uma estrutura suprapartidária que vai ter candidatos disputando nas eleições municipais e legislativas por partidos da Oposição. Segundo ele, há boas perspectivas para o governo que vai suceder a presidente Dilma Rousseff e os manifestantes de domingo são a verdadeira voz das ruas. 

Confira no Poadcast Rio Bravo a gravação da entrevista

RIO BRAVO: Há um ano, o Brasil fazia, pela primeira vez na história recente, um panelaço com grande proporções. Uma semana depois, ainda em março de 2015, uma multidão foi às ruas para protestar contra o governo. No dia 13 de março, novos protestos ocorreram. Para você, que há de diferente do protesto de março de 2015 para o protesto de março de 2016?
KIM KATAGUIRI: Você disse que é mais um capítulo na história das manifestações. Eu creio que esse seja o principal capítulo. Na manifestação do dia 15 de março de 2015, a gente teve o maior ato do ano passado. Foi a primeira que a gente se organizou. Imediatamente após essa manifestação, a gente teve uma resposta muito ruim da oposição. Muitos oposicionistas ainda tinham um discurso muito alinhado com o do governo de que ainda não havia momento para Impeachment. Alguns líderes até falavam em golpismo, que a presidente Dilma Rousseff é honrada, que não poderia ser comparada a Collor, etc. Com o avanço das manifestações, em 12 de abril e 16 de agosto, e todo um trabalho de pressão em cima da oposição e de parlamentares mesmo da base, foi acolhido o pedido [de impeachment] e os oposicionistas passaram a trabalhar ativamente para que ele fosse levado à frente.

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Agora, o pedido está em tramitação e, ao que tudo indica, vai ter a votação no STF (Supremo Tribunal Federal) para redefinir o rito do impeachment. Muito provavelmente, depois das manifestações, a formação da comissão do impeachment, que vai formar o relatório que vai ser votado na Câmara dos Deputados, vai acontecer. Então, o protesto deste dia 13 é o principal, porque decidirá se a gente vai ter a maioria na votação do relatório na Câmara dos Deputados.

A grande diferença é que finalmente a gente tem o resultado político que a gente sempre demandou em todas as manifestações: o impeachment da presidente Dilma Rousseff.

RB: Houve algum momento em que vocês esperassem que esse endosso por parte da oposição não fosse acontecer?
KK: A gente sempre pressionou para que acontecesse. De início, a gente acreditava que a oposição tinha esse interesse em continuar desgastando o governo até 2018 para acumular capital eleitoral e facilitar essas eleições. A gente pensou que esse trabalho fosse ser bastante complicado, mas não impossível. Precisamos fazer uma manifestação gigantesca – segundo o Datafolha, a maior desde as Diretas Já. gente também fez uma caminhada de São Paulo até Brasília a pé para protocolar o pedido de impeachment, para pressionar a oposição a defender o pedido, a atender os anseios das ruas. Foi difícil, mas em nenhum momento a gente pensou que seria impossível.

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RB: Na sua avaliação, qual foi a importância da marcha que vocês fizeram até Brasília para que as pessoas tomassem conhecimento do MBL?
KK: Com as manifestações, a gente notou o que era importante para que o movimento crescesse, mas a gente precisava dar um passo à frente. A gente precisava subir o tom para que a oposição de fato acolhesse oficialmente, com convicção, o pedido, e levasse ele à frente. A marcha serviu como uma espécie de mito fundador do Movimento Brasil Livre. Foi uma caminhada em que a gente andou mais de mil quilômetros, por mais de 33 dias, com diversos incidentes e conflitos com o MST nas estradas. Eu, pessoalmente, fui atropelado! A gente parava de cidade em cidade nas praças explicando a importância do impeachment, falando com a população local. Muitas vezes, nas cidades do interior, as pessoas se reuniam ali na praça, porque é o único lugar que tinha para se reunir no fim da tarde, e a gente conversava com essas pessoas, entendia os anseios delas e, no final das contas, a aceitação dessa luta contra o governo era muito grande. Serviu como uma grande narrativa de como esse grande mito fundador, esse grande ponto de partida da história do movimento, e deu também a prerrogativa moral para que a gente pressionasse a oposição a defender o pedido. 

RB: O Brasil que foi às ruas no domingo tem ideia do que pode acontecer com o país se efetivamente houver uma mudança de governo agora?
KK: Eu não posso afirmar que ele tem ideia claramente do que vai acontecer com a mudança de governo, mas acredito que o brasileiro tem absoluta clareza de que qualquer “não mudança” é pior que uma mudança. É claro que as pessoas têm a consciência de que o impeachment não é uma solução mágica, não é nenhum milagre, mas, ao mesmo tempo, elas sabem que não há mudança sem impeachment. O governo da presidente Dilma Rousseff está completamente paralisado. Você não consegue passar nenhuma reforma econômica, nenhuma reforma política, nenhum projeto de lei no Congresso Nacional que seja porque ela utiliza seus ministros para trabalhar a favor do mandato dela, e não a favor do país. Essa mudança, essa clareza de pensamento de que a gente já está no fundo do poço e não existe uma perspectiva de futuro pior sem a presidente Dilma Rousseff no poder, eu acredito que essa mentalidade está bem clara naqueles que foram para a manifestação do dia 13.

RB: Com a classe política que nós temos, há motivos para termos boas expectativas quanto ao governo que pode suceder à administração Dilma Rousseff?
KK: Eu acho que sim, porque, como disse, não há nenhuma perspectiva de mudança com o governo atual. Então para qualquer governo que surja, mesmo pelo momento político e pela pressão popular de estar assumindo um mandato logo após o presidente da República ter sido derrubado, as perspectivas de mudanças são muito boas. É óbvio que a gente não se orgulha da nossa classe política, é óbvio que a nossa classe política está muito longe de ser ideal, mas a maior virtude da democracia é tirar os ruins, é a população pressionar para que os ruins sejam derrubados e não você eleger os bons. É muito difícil selecionar candidatos bons e saber que eles vão fazer um trabalho consistente, que têm boas ideias, que são honestos, sendo que eles ainda não chegaram ao poder para você comprovar que de fato aquilo é verdade. Uma vez que eles estejam no poder e está provado que são maus gestores, criminosos ou qualquer outra motivação para derrubá-los do poder, é muito mais simples e muito mais virtuoso. Justamente essa é a essência da democracia, porque existem diversos outros regimes em que pessoas virtuosas podem subir ao poder. Nos tempos modernos, a democracia é o que legitima o mandato popular. A democracia é o único regime em que a população, institucionalmente, pode tirar os maus governantes.

RB: Você tem sido protagonista de muita polêmica desde que os protestos ganharam as ruas no ano passado. Como você analisa o posicionamento da opinião pública, principalmente de jornalistas e de cientistas políticos, historiadores, intelectuais de modo geral em relação à atuação do Movimento Brasil Livre?
KK: A imprensa sempre jogou muito contra, a maior parte dos setores da imprensa. O maior exemplo disso é que a primeira manifestação que a gente organizou, em 1º de novembro de 2014, a capa da ‘Folha de S. Paulo’ era “Cerca de mil pedem intervenção militar”, e na época a gente não pedia nem o impeachment. A manifestação era pelo fortalecimento da Lava-Jato e pela liberdade de expressão, porque o Grupo Abril tinha acabado de ser vandalizado por causa daquela denúncia da revista ‘Veja’ envolvendo a delação do doleiro Youssef, que falou que a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula tinham envolvimento e ciência do Petrolão. 

Então, a narrativa da imprensa sempre catalisou a narrativa do governo, a maioria dos colunistas e dos formadores de opinião nesses grandes jornais falou que nós somos golpistas, que a gente atenta contra a democracia, às vezes tentaram nos colocar a alcunha de defensores da ditadura militar. O Ilimar Franco, do ‘Globo’, já falou que existem membros do MBL que utilizam suásticas nazistas tatuadas no corpo. Enfim, uma série de absurdos que dificultaram muito o nosso trabalho, mas pela nossa capacidade de responder a essa narrativa oficial através das redes sociais a gente conseguiu se sair bem dessa e hoje, pelo menos a meu ver, a maioria da população apoia o movimento, tanto que a maioria das pessoas, segundo as pesquisas, apoia as manifestações e o impeachment da presidente Dilma Rousseff e acha que o país está no rumo errado.

RB: Ainda existe a percepção de que os jovens participam pouco da vida política. Por outro lado, há quem diga também que, sobretudo nas mídias sociais, tem aumentado o chamado discurso do ódio, principalmente no tocante às manifestações relacionadas à vida política. Como é que você percebe a atuação dos jovens em relação a essas questões, citando nominalmente Lava-Jato, oposição ao governo, atuação dos governantes?
KK: Eu acho complicado generalizar, porque hoje e durante muito tempo manteve-se o monopólio da esquerda, de partidos como o PT, PSOL e PSTU em instituições estudantis como a UNE etc., nesse meio acadêmico e estudantil. Mas hoje a gente vê que essa hegemonia começa a ser quebrada. Existem movimentos estudantis, existem chapas, diretórios acadêmicos, centros acadêmicos que têm sido vitoriosos defendendo pautas, defendendo ideias liberais ou defendendo ideias conservadoras, enfim, combatendo os ideais de esquerda em suas mais diversas vertentes, mas ainda há essa dominação em termos de instituições. Com isso eu quero dizer o quê? A UNE, por exemplo, está nas mãos do PCdoB há anos. Já recebeu mais de R$ 40 milhões do governo como reparação à ditadura militar para reconstruir uma sede que foi destruída pelos militares e até hoje não colocaram um tijolo.

Então, ainda existe, institucionalmente falando, essa atração da juventude pelo discurso do adesismo devido à ocupação de partidos de esquerda dentro das universidades e das escolas. Mas, ao mesmo tempo, surge uma resistência que ainda não está dentro de instituições como a UNE, como a Ubes (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas), mas já está vencendo diretórios acadêmicos, já está vencendo eleições em universidades, que destoam desse discurso e é justamente esse público jovem que vai nas nossas manifestações, principalmente um público mais pobre, de classes B e C, que não coadunam desses valores defendidos por esses ditos intelectuais de esquerda que tomaram o meio acadêmico, geralmente filiados a partidos políticos e, em vez de dar aula, praticam militância.

RB: É possível traçar um perfil do jovem que vai às manifestações?
KK: Eu acho que é difícil generalizar, mas existem certas características que são comuns. Como eu disse, geralmente são jovens mais pobres, que estudaram a vida inteira em escola pública mas agora estudam em universidades particulares, porque o sistema educacional brasileiro é muito desigual, o próprio Estado acaba cobrando mais impostos dos mais pobres e, ao mesmo tempo, nas universidades públicas, a representatividade deles é menos de 6%. A gente tem esse público mais pobre, tem o público que não coaduna com as ideias da esquerda, que tem ideias gerais sobre livre mercado, tem ideias gerais de que o estado não deve interferir tanto na vida das pessoas, de que os impostos não devem ser tão altos, de que os políticos não devem ter tanto poder, e, ao mesmo tempo, por acreditar nesses valores, eles acreditam que o PT deve sair do poder.

RB: Para além das questões relacionadas aos protestos contra o governo, como o MBL pretende participar do projeto político daqui para frente? 
KK: A ideia do MBL em longo prazo é formar bancadas liberais em câmaras municipais, em assembleias legislativas e no próprio Congresso Nacional. A gente pretende atuar com uma estrutura suprapartidária. Isso significa que, independentemente dos partidos, nós vamos ter candidatos que vão depender as plataformas e os valores do MBL.

O acordo, por exemplo, que a gente tem com partidos de oposição para que nossos candidatos saiam por essas legendas é o de que a marca utilizada nas campanhas vai ser a do MBL, os valores defendidos por esse candidato na campanha vão ser os valores do MBL e, ao mesmo tempo, uma vez que eles tenham esse mandato, uma vez que eles estejam eleitos, eles vão ter a liberdade para votar independentemente da liderança partidária, mas de acordo com os valores do MBL com os movimentos definidos pelo próprio Congresso Nacional que nós organizamos no ano passado, dias 28 e 29 de novembro, que a gente discutiu propostas de segurança pública, educação etc., e a gente alcançou uma plataforma que vai ser defendida pelos nossos candidatos.

Então a nossa ideia é trabalhar em bancadas como trabalha a bancada LGBT, como trabalha a bancada evangélica: uma bancada liberal, que atue em todos os assuntos, que fale sobre diminuir o poder dos políticos, diminuir o dinheiro que passa nas mãos dos políticos e aumentar o poder do cidadão, centralizar o poder, diminuir as prerrogativas e o orçamento da União.

RB: Existe um cronograma em curto e médio prazo em relação a essa agenda do MBL?
KK: Em curto prazo, em 2016 a gente já vai ter candidatos a vereadores e prefeito e a nossa ideia é formar cidades-modelo, aplicar as nossas propostas a nível municipal para mostrar que elas funcionam, que podem ser levadas à frente e que, a nível nacional, os ideias liberais são muito mais eficientes do que a gente vem vendo há mais de dez anos.

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