Lealdade, prévias e popularidade: o xadrez político entre Alckmin e Doria

Criatura e criador lutam pelo direito de representar o PSDB nas próximas eleições presidenciais

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – A troca de farpas no ninho tucano pelo direito de representar o partido nas próximas eleições presidenciais se intensificou com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, praticamente se lançando candidato ao pleito. Depois de conseguir antecipar a decisão do PSDB sobre o nome para a disputa para o fim deste ano, o governador disse na última semana que queria “ser o presidente do povo brasileiro” e que será a “política correta” que colocará o Brasil nos trilhos. A ofensiva visa anular a agenda de intensas viagens pelo país e até o exterior de seu afilhado político, o prefeito João Doria.

Um dia depois, o prefeito afirmou que seu padrinho político tem todo o direito de anunciar a intenção de se candidatar, mas que o povo é que decidirá quem será o melhor nome. “Geraldo tem todo direito de anuncia que vai disputar a Presidência da República, mas os tempos caminham. Aprendi com Geraldo Alckmin e Fernando Henrique Cardoso que a melhor decisão referente à candidatura vem do povo”, disse em Paris. Esse foi mais um sinal de que a guerra fria entre os tucanos torna-se cada vez mais aberta.

Nesta segunda-feira, o prefeito intensificou o tom, e em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, defendeu que o PSDB precisa levar em conta as pesquisas na escolha de seu candidato, mas disse que não disputará prévias com Alckmin. “Não faz o menor sentido. Não faria isso. Desde já, me excluo dessa condição”, disse Doria. O prefeito tenta evitar falar em uma troca de sigla, mas admitiu a possibilidade de deixar o PSDB e disse já ter recebido quatro propostas.

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“A política traz sempre ares, tempestades e fatos que não estão dentro do seu prognóstico. Isso se aprende rápido na vida política. Estou na política, mas não sou político. Não tenho intenção de mudar de partido, mas é sempre bom ouvir de outros partidos que você é bem-vindo. Não é só o PMDB e o DEM. Outros dois partidos tiveram a gentileza e a delicadeza de abrir as portas caso necessário. Agradeci. Estou no PSDB desde 2001, muito antes de pensar em ser candidato. Não entrei por conveniência. Pretendo continuar no PSDB, até que alguma circunstância me impeça disso”, disse na entrevista. Publicamente, o prefeito nega distanciamento ao governador paulista.

A resposta de Alckmin veio algumas horas depois, com o governador criticando quem defende a ideia de que o novo na política é ser jovem ou ter pouca experiência em cargos políticos. “O novo é idade? 30, 50, 70 anos? Eu acho o FHC novo, e ele tem um pouco mais que isso. Novo é nunca ter sido candidato, ter experiência pública ou mandato? O novo é, primeiro, falar a verdade, olhar nos olhos e as pessoas acreditarem, e, segundo, defender o interesse coletivo, que é órfão no Brasil todo dia”, afirmou em evento realizado pela revista Exame, em São Paulo. O governador reafirmou interesse em ser candidato à presidência da República, mas disse que não depende dele, mas do partido.

Ele voltou a defender a realização de prévias dentro do PSDB e disse que não acredita que o prefeito mudaria de partido. “Não posso falar por outra pessoa, mas acho que o João não sai do PSDB. Ele foi eleito pelo PSDB, tem compromisso com o PSDB”, disse.

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Também presente no evento da Exame, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), acabou participando da troca de farpas entre Alckmin e Doria. O parlamentar disse que é contra o DEM convidar o prefeito de São Paulo enquanto ele ainda estiver no PSDB. “Doria é do PSDB. Não gosto de ficar convidando políticos de partidos aliados. Ele está no PSDB, que é um protagonista”, disse. A fala do deputado ocorre em meio a esforços de seu partido em atrair figuras políticas e após a perda do ministro Fernando Bezerra Filho, que após negociar com o DEM, decidiu ir para o PMDB.

A intensificação dos movimentos de Doria para viabilizar uma possível saída do PSDB são vistas por alguns como precipitada, já que a nova lei eleitoral permite migrações até seis meses antes do pleito.

Nesta segunda-feira, o prefeito de São Paulo disse que será candidato a partir do momento em que se manifestar claramente neste sentido e que tiver o apoio de um partido político, sem citar nominalmente qual será a sigla. “Eu serei candidato no dia em que eu me manifestar claramente e tiver o apoio de um partido. Mesmo assim, estamos falando no futuro, não no presente. No presente, sou prefeito da cidade de São Paulo”, disse também em palestra a empresários durante fórum organizado pela revista Exame.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.