Lava Jato chega à Argentina após Brasil enviar informações

Após o término do período de seis meses de sigilo judicial, na quinta-feira, a Justiça brasileira entregará documentos com informações a respeito de um esquema de subornos envolvendo a construtora Odebrecht e autoridades argentinas

Bloomberg

Bandeiras da Argentina

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(Bloomberg) — A explosiva investigação de corrupção brasileira, que colocou políticos e empresários de destaque atrás das grades, agora está chegando à Argentina com potencial para implicar aliados e inimigos do presidente Mauricio Macri.

Após o término do período de seis meses de sigilo judicial, na quinta-feira, a Justiça brasileira entregará documentos com informações a respeito de um esquema de subornos envolvendo a construtora Odebrecht e autoridades argentinas. Um grupo de procuradores argentinos irá a Brasília nesta sexta-feira para se reunir com seus pares brasileiros para definir como compartilhar as informações, informou a assessoria de imprensa da Procuradoria-Geral da Argentina. O processo pode levar de 10 a 30 dias.

A Odebrecht admitiu a um tribunal dos EUA no ano passado que pagou US$ 35 milhões em propinas para conseguir projetos de infraestrutura na Argentina entre 2007 e 2014, obtendo lucros posteriores de cerca de US$ 278 milhões. O caso faz parte de uma investigação maior contra a corrupção conhecida como Lava Jato, que gerou turbulências políticas e econômicas por toda a América Latina.

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No Brasil, o escândalo contribuiu indiretamente para o impeachment de Dilma Rousseff em 2016. O caso ainda pode levar à queda do presidente Michel Temer e eliminar as chances de reeleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No Peru, a Lava Jato poderá eliminar um ponto percentual do Produto Interno Bruto neste ano. No início da semana, vários destacados políticos e empresários dominicanos foram implicados em um escândalo de corrupção de US$ 92 milhões envolvendo a Odebrecht.

Na Argentina, a investigação poderia implicar altos membros do governo da ex-presidente Cristina Kirchner, mas também envolveria aliados de Macri. Isso pode explicar a lentidão das autoridades para buscar mais informações sobre o caso até o momento, disse Mark P. Jones, professor de Ciência Política do Instituto Baker da Universidade Rice, em Houston, nos EUA.

“Tem havido um sentimento tácito de que não é vantagem política para ninguém levar o caso adiante muito rapidamente”, disse Jones, por telefone, de Houston.

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Grandes projetos

A Odebrecht tem diversos projetos na Argentina, alguns dos quais já investigados. Em 24 de maio, um juiz ordenou buscas nos escritórios da Odebrecht em Buenos Aires durante a investigação de supostos atos de corrupção ligados à construção de uma unidade de tratamento de água. O contrato foi concedido em 2008 e foi um dos maiores projetos de infraestrutura da Argentina em 50 anos, segundo o website da companhia.

Outro grande contrato foi obtido pela Odebrecht em 2013 para soterramento de uma linha de ferrovia que liga a cidade de Buenos Aires à província homônima, por US$ 3 bilhões. Apesar de o contrato ter sido entregue pelo governo federal, a maior parte do projeto é tocada dentro da cidade de Buenos Aires, onde Macri era prefeito na época da assinatura do acordo. A Odebrecht participa de um consórcio que também inclui a Iecsa, que na época era de propriedade do primo de Macri, Angelo Calcaterra.

Um promotor também defendeu a investigação de outro aliado de Macri, o chefe da agência de espionagem do país, Gustavo Arribas, que teria recebido US$ 600.000 de um doleiro brasileiro ligado à Lava Jato, segundo uma investigação do jornal La Nación. Arribas negou irregularidades e Macri o apoiou publicamente.

Os governos Kirchner já estão manchados por diversas acusações de corrupção e teriam menos a perder com acusações adicionais, disse Jones. Macri, por sua vez, se posiciona como a antítese de tudo isso e sua imagem poderia ser arranhada se aliados próximos forem considerados culpados.

“O governo Macri perderia uma de suas principais vantagens em relação a Cristina Fernández de Kirchner e ao peronismo, que é ser notavelmente menos corrupto e mais focado em um governo limpo”, disse Jones.

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