JP Morgan vê forte crescimento do Brasil, mas corta País para underweight

Banco ainda justifica saída da Vale do portfólio de recomendações, que conta com Petrobras, Gerdau Metalúrgica, PDG e BM&F Bovespa

Julia Ramos M. Leite

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SÃO PAULO – Apesar de prever que o Brasil crescerá 7% em 2010 – o maior avanço em 25 anos -, o JP Morgan optou por cortar a recomendação do País para “underweight” em seu mais recente relatório sobre os mercados emergentes. A China também recebe a mesma recomendação. “Com isso, prevemos que os dois maiores mercados entre os emergentes tenham desempenho abaixo do índice MSCI EM”, afirma o banco norte-americano.

Ambos os países estão crescendo rapidamente – crescimento esse que traz consigo o início do ciclo de alta das respectivas taxas de juros. O JP Morgan prevê uma elevação de 50 pontos-base da Selic na reunião do Copom da próxima semana, seguida por altas de 75 pontos-base em junho e julho. Para o banco, a Selic deve encerrar 2010 a 12,25% ao ano – o maior aperto monetário entre os emergentes. “O mercado está muito complacente com o ritmo da normalização e o eventual aperto monetário”, afirmam os analistas, justificando sua posição underweight nos países.

“Esses países têm bom histórico de gerenciamento da economia, e não precisam de taxas baixas de juro ou estímulos econômicos”, afirma o banco, lembrando que a China deve concentrar esforços para desacelerar o crescimento dos investimentos para rebalancear o avanço da economia, e que o consumo recorde de commodities do país provavelmente já atingiu seu pico.

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“A demanda da China por aço e ferro é seis vezes sua demanda no PIB global, e esse ajuste chinês terá implicações para as exportações de commodities brasileiras”, afirmam os analistas. Essas implicações motivaram, em parte, o corte na recomendação para o Brasil.

Além da ligação do País com a China, a eleição presidencial de outubro é mais uma fonte de preocupação para os analistas, já que deve trazer volatilidade aos mercados. Por fim, a valorização do real também mantém os analistas atentos. “Continuamos preocupados com a relação risco/retorno do real. Uma intervenção agressiva no câmbio, déficit em conta corrente se deteriorando e supervalorização da divisa devem estabelecer um teto para a alta do real. Mas, por outro lado, equilibrando esses fatores, os fluxos de capital seguem resilientes e uma alta dos juros estabelece um piso para desvalorização”.

Otimismo permanece
Entretanto, as recomendações underweight para Brasil e China não significam que os analistas tenham uma visão pessimista para os mercados de renda variável nos países emergentes. “Mesmo com o desempenho abaixo da média dos dois maiores países, o MSCI EM já avança 4%”, afirmam.

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Segundo os analistas do banco, as condições das economias desenvolvidas apóiam um avanço da renda variável. Os países desenvolvidos devem inclusive surpreender os investidores, postando um crescimento sustentável, provocado por efeitos tardios dos estímulos monetários, o ciclo de estoques e uma recuperação das exportações. Esse avanço dos desenvolvidos deve impulsionar ainda mais o apetite por risco e o mercado acionário global.

Portfólio brasileiro
BM&F Bovespa (BVMF3), PDG (PDGR3), Petrobras (PETR3, PETR4) e Gerdau Metalúrgica (GOAU4) compõem o portfólio de recomendações do banco norte-americano para o Brasil. Considerando a possível redução da demanda chinesa, o JP Morgan optou por retirar a Vale (VALE3, VALE5) do portfólio.

Os analistas também apontam duas anti-recomendações – ou seja, duas ações que devem ser evitadas pelos investidores: Sabesp (SBSP3) e Usiminas (USIM5).

Além disso, o JP Morgan afirma que o setor imobiliário brasileiro está barato, citando como exemplos PDG Realty, Cyrela (CYRE3) e MRV (MRVE3). “Preferimos a Gafisa (GFSA3), que está bem capitalizada e oferece um portfólio mais diversificado do que a PDG”.

O banco ainda lista entre os setores que devem apresentar as melhores revisões de lucros no País o setor financeiro, consumo e varejo e petróleo e gás. O setor financeiro é o preferido dos analistas, em especial BM&F Bovespa e Santander.

Vale mencionar que a recomendação do banco para os emergentes é que os investidores se foquem em setores nos países, e não em recomendações de países. Entre os setores-chave no País, o JP Morgan cita materiais primários e financeiro (ambos underweight) e petróleo e gás (neutro).

Riscos
A estratégia traçada pelo banco norte-americano tem, claro, seus riscos. O principal deles é a inflação nos países emergentes – que, caso continue a avançar, pode trazer um cenário pessimista para as ações. A inflação também tem implicações sobre a política monetária. “Em março, a Índia surpreendeu o mercado ao elevar a taxa de juros, enquanto o Brasil surpreendeu por não fazê-lo. A volatilidade deve continuar”, afirmam os analistas.

Considerando ainda as políticas de estímulo, o JP Morgan lembra que, com as taxas de juro em suas mínimas históricas, há menos espaço para flexibilização no caso de uma recaída no crescimento. “Não é o nosso caso-base, mas caso acontecer, seria um sério risco para os ativos”, aponta o banco.

Um dos fatores que poderia levar a um “double dip” seria a consolidação fiscal rápida demais das economias desenvolvidas. “Esse risco é maior na Zona do Euro, mas os grandes déficits de Japão, EUA e Reino Unido não podem ser ignorados”, afirmam os analistas.

A volatilidade e as incertezas que rondam os mercados de commodities e de títulos de renda fixa também são apontadas pelo banco como um potencial risco aos emergentes. “As ações dos emergentes cairão com as commodities, na nossa visão. Retiradas de fundos dos BRICs poderiam resultar em uma pressão negativa sobre China e Índia”, explica o JP Morgan. No mercado de bonds, a volatilidade tipicamente significa uma correção nas ações dos emergentes. “Aconselhamos os investidores a monitorarem as mudanças nos yields dos Treasuries de 10 anos dos EUA”, apontam os analistas Adrian Mowat, Ben Laidler, Deanne Gordon, Rohan Ghalla, Rajiv Batra, Sanaya Tavaria e Ankita Kochar.

A intervenção dos bancos centrais nos mercados também merece atenção – um exemplo é a taxação de IOF sobre investimentos estrangeiros no Brasil. “Essa taxa é politicamente interessante, já que é direcionada a ‘especuladores’ estrangeiros que são vistos como fonte da contração de crédito”, afirma o JP Morgan. Além do Brasil, China e Índia têm controles de capital, e a temporada está aberta para que os BCs gerenciem metas políticas conflitantes.

Por fim, assim como no Brasil, as eleições de 2010 podem trazer volatilidade a diversos mercados emergentes, incluindo Coreia, Filipinas e Colômbia. Ainda no front político, o JP Morgan afirma que os países terão que implementar políticas desconfortáveis para conter a inflação e o déficit fiscal, que podem culminar em sanções contra a China, por exemplo, dando início a uma “guerra” no comércio internacional.

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