Joaquim Barbosa defende nova eleição e dispara: “Temer não tem legitimidade para conduzir o País”

Segundo o ex-presidente do STF, o impeachment de Dilma é "destituído de legitimidade profunda": "do ponto de vista puramente legal, está tudo certo, mas não é assim que se governa um país"

Lara Rizério

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SÃO PAULO – O ex-ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Joaquim Barbosa participou de evento do VTEX Day hoje em São Paulo e falou sobre o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, que foi afastada hoje do cargo. Barbosa criticou a forma como o processo foi conduzido, porque excluiu a participação ou a consulta popular. 

Segundo Barbosa, o impeachment de Dilma é “destituído de legitimidade profunda”: “do ponto de vista puramente legal, está tudo certo, mas não é assim que se governa um país. Isso precisa de nós, o povo”.

Para ele, as pessoas poderão com o tempo pensar melhor sobre se o processo foi ou não justo, questão sobre a qual ele disse ter “dúvidas muito sinceras”. “Tenho sérias duvidas quanto à integridade e à adequação desse processo pelo motivo que foi escolhido. Se a presidente tivesse sendo processada pelo Congresso por sua cumplicidade e ambiguidade em relação à corrupção avassaladora mostrada no País nos últimos anos, eu não veria nenhum problema. Mas não é isso que está em causa”, observou.

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Ele afirmou que o descumprimento de regras orçamentárias, o motivo principal para o impeachment, não é suficiente para o afastamento. “Temos um problema sério de proporcionalidade, pois a irresponsabilidade fiscal é o comportamento mais comum entre nossos governantes em todas as esferas. Vejam a penúria financeira dos nossos Estados, o que é isso senão fruto da irresponsabilidade orçamentária dos governadores”, destacou. 

Na visão do jurista, o que aconteceu  foi um conchavo, que nos remete à história do Brasil. “Em outras vezes, a elite também se reuniu para derrubar um imperador ou um presidente da República. Isso é autoritário e ilegítimo. Não somos uma republiqueta”. E destacou que, o resultado da votação no Senado na madrugada de hoje foi apenas uma encenação. “A presidente já estava morta desde aquele domingo, dia 17 de abril”.

Críticas a Dilma e a Temer
Para o ex-ministro do STF, o impeachment é a punição máxima a um presidente e é um “mecanismo extremo, traumático, que pode abalar o sistema político”. Por outro lado, ele afirma que Dilma Rousseff não soube conduzir o País nem se comunicar com a população, além de ter feito péssimas escolhas. “Ela não soube combater com sinceridade e a força que o cargo lhe dava o que vem gangrenando as instituições brasileiras: a corrupção. Não digo que ela compactuou com os segmentos corruptos do seu partido e base aliada, mas se omitiu, silenciou e não soube exercer o comando. Ela foi engolida por essa gente”.

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Porém, afirmou que Temer não tem legitimidade para governar o País. O mais correto, na sua avaliação, seria a presidente ter a grandeza de perceber a crise atual e renunciar ao cargo e exigir que o vice também fizesse o mesmo. “Afinal, ele não tem legitimidade para dirigir o país. Creio que isso teria o apoio da população”, destacou. 

 Para ele, “é muito grave tirar a presidente do cargo e colocar em seu lugar alguém que é seu adversário oculto ou ostensivo, alguém que perdeu uma eleição presidencial ou alguém que sequer um dia teria o sonho de disputar uma eleição para presidente. Anotem: o Brasil terá de conviver por mais 2 anos com essa anomalia”, destacou. 

Barbosa disse ser a favor da convocação de eleições diretas para presidente: “sou radicalmente favorável à convocação de novas eleições. Essa é a verdadeira solução, que acaba com essa anomalia [do impeachment]”, opinou. 

Mostrando uma visão pessimista, Barbosa afirmou que os políticos que hoje tiraram Dilma do cargo o fizeram para se proteger, colocando em seu lugar um novo time, com novos governantes. “Infelizmente, quase todos que estão lá tem contas a ajustar com a Justiça, por conta do dinheiro das empresas que vai para o bolso dos políticos e seus partidos. Reafirmo, um presidente não pode ser retirado do cargo tão fácil, banal e trivialmente”.


Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.