João Doria: “Dilma não tem condições de liderar a transformação de que o país precisa”

Interlocutor de boa parcela do empresariado revela o que tem sido discutido por esses players no mercado, expõe sua percepção pessoal sobre os cenários político e econômico e fala sobre suas chances nas eleições municipais do ano que vem

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – O empresariado está dividido sobre como se posicionar com relação à permanência ou um eventual afastamento da presidente Dilma Rousseff do cargo máximo do Executivo e tem dúvidas sobre suas condições de conduzir o país de volta à rota do desenvolvimento econômico. Essa é a percepção do jornalista e publicitário João Doria e de boa parte dos membros do LIDE – grupo de líderes empresariais do qual é presidente e fundador, e que hoje responde por cerca de 52% do PIB (Produto Interno Bruto) privado nacional. Pessoalmente, porém, Doria é enfático em defender que a petista perdeu todas as condições de liderar a transformação que o país precisa, e, apesar de gozar de legitimidade, vive um esgotamento de credibilidade.

Para a maioria dos empresários representados pelo LIDE, retomada de crescimento até 2016, nem pensar. Eles entendem que, depois de momentos de desajustes nas contas públicas, políticas econômicas equivocadas, descumprimento a contratos e os desdobramentos de investigações sobre escândalos de corrupção, ainda levará algum tempo para reconquistar a confiança dos agentes econômicos e virar a página da crise. Até mesmo o ainda longínquo 2017 pode não ser as mil maravilhas antes prenunciadas. As complicações da conjuntura externa com a desaceleração chinesa e as profundas dificuldades de o Planalto em articular uma base de apoio mínima para governar ainda insistem em interferir em um voo improvisado que já encontrava dificuldades em se distanciar da “tempestade perfeita” que se formava no horizonte.

Interlocutor de parcela importante do empresariado brasileiro, João Doria revela o que tem sido estudado e discutido por esses players do mercado, expõe sua percepção pessoal sobre os cenários político e econômico que se desenham e fala sobre suas chances de concorrer às eleições municipais de São Paulo como representante do PSDB. Atualmente, ele é pré-candidato pelo partido e deverá disputar as prévias no fim do ano. O empresário é filho do ex-deputado federal João Doria, foi secretário municipal do turismo e presidente da Paulistur, Embratur e do Conselho Nacional de Turismo. Em 2000, filiou-se ao PSDB, tendo sido líder do movimento Cansei sete anos depois, em um cenário de crise com o escândalo do Mensalão. Na imprensa, foi diretor de comunicação da Rede Bandeirantes, onde ainda apresenta o programa Show Business, e assina uma coluna na revista Forbes Brasil. Doria é fundador e presidente do LIDE, grupo atualmente formado por 1.700 empresas filiadas, com faturamento anual igual ou superior a US$ 100 milhões. Confira os melhores momentos da entrevista exclusiva concedida ao InfoMoney:

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InfoMoney – O que 52% do PIB privado brasileiro pensam da atual conjuntura política e econômica brasileira?
João Doria – É um cenário de profunda crise econômica, institucional, moral e de credibilidade.

IM – E quais teriam sido as origens dessas quatro crises?
JD – Má gestão, má conduta e má interpretação da realidade. Isso já começou no governo Lula, se acentuou com Dilma e se consolidou no início deste ano. Mas não é uma crise que começou agora, há três, quatro ou oito meses da gestão Dilma.

O país, os empresários, e, sobretudo, a classe trabalhadora vão pagar, no mínimo, dois anos. Pode ser até que em 2017 tenhamos um custo ainda a pagar dessas mazelas e da ineficiência do governo.

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IM – Quais teriam sido, especificamente, os principais erros cometidos na economia? O senhor poderia enumerá-los?
JD – Entre outros, primeiro, o descontrole de caixa. O governo gastou mais do que poderia, e arrecadou menos do que deveria também. Ou seja, descontrole fiscal absoluto. Políticas econômicas equivocadas, fundamentando o incentivo à demanda doméstica e criando facilitações fiscais cujo preço está sendo pago agora pelo país. Terceiro, o descumprimento de regras e a desobediência a contratos, que ampliaram o grau de desconfiança dos investidores internacionais no Brasil. O investimento internacional praticamente secou. Um país que não respeita regras e contratos não atrai investidores.

Quarto, a crise moral que se acentuou no final do governo Dilma, com a descoberta do Lava Jato, que rapidamente mostrou a dimensão do rombo na maior estatal brasileira, compondo um número bilionário de corrupção, sem registro na história contemporânea da economia mundial. Isso também abala a confiança e criou a crise de moralidade também no país.

IM – Também temos mudanças no cenário externo. Recentemente, temos tido notícias negativas vindas da China, onde a economia dá claros indícios de arrefecimento e provoca queda nos preços das commodities. Como os senhores enxergam esse momento?
JD – Para piorar o cenário. A economia chinesa apresentou sinais claros de enfraquecimento, ainda que uma economia próspera. Some-se a isso a economia russa, que sofreu uma crise brutal também e vive hoje um processo recessivo grande. Esses dois fatores acabaram contribuindo ainda mais para acentuar a crise brasileira.

IM – Que medidas agradariam o empresariado, neste momento, para a recuperação da credibilidade por parte do governo em uma tentativa de se recompor a economia, estimular investimentos e o crescimento do próprio país?
JD – Neste caso, há uma clara divisão. Parte do empresariado entende que a retomada dessa credibilidade será impossível sob o comando da presidente Dilma. Para eles, com essa liderança, não há como repor credibilidade. Outra parte entende que ela, ao reconhecer os erros e promover mudanças, poderá ainda conduzir esse processo até 2018.

IM – Qual é o grupo majoritário?
JD – Está equilibrado. Se formos considerar numericamente¸ há mais aqueles quem defenda uma nova liderança no país. Mas, se formos considerar peso no PIB privado do país, há um equilíbrio nas duas posições.

IM – E a sua posição pessoal?
JD – Entendo que a presidente Dilma não tem condições de liderar a transformação que o país precisa. Ela perdeu a credibilidade e oportunidade para fazer isso.

IM – Nem mesmo a iniciativa do ajuste fiscal surtiria os efeitos necessários?
JD – Ela tem tentado inutilmente. Escolheu um bom ministro, Joaquim Levy, mas que não consegue avançar de forma acelerada seu programa fiscal, porque o governo está desarticulado, tem conflitos no Congresso Nacional, em sua própria base de apoio e agudos na opinião pública. É muito difícil, com um quadro como esse, você, mesmo admitindo “mea culpa”, pedindo desculpas e ajoelhando no milho, imaginar que seja suficiente para reverter esse processo rapidamente.

IM – O nome do vice-presidente Michel Temer foi muito especulado para a continuidade do governo, forçando uma renúncia ou o impeachment de Dilma. Ele deu declarações ambíguas há algumas semanas, depois voltou atrás; esteve em São Paulo e recebeu apoio de muitos empresários. A figura de Temer agrada os senhores?
JD – Michel Temer é um agente pacificador, pela sua formação e índole. Advogado, constitucionalista e um homem de trajetória bem construída no diálogo. Quem dialoga, tem bom senso e equilíbrio se sobressai em qualquer crise.

IM – Ele teria êxito, em um primeiro momento, na relação com o empresariado?
JD – Ele teria uma visão positiva dos empresários por essa serenidade na conduta do processo. O pior caminho, na visão empresarial, é o do embate. Neste caso, coloca-se fogo no país e a dificuldade seria muito maior. Agora é hora de serenidade. Uma liderança serena, equilibrada e integradora: se não tivermos isso, a situação vai ficar muito pior, razão pela qual não vejo a presidente Dilma sabendo cumprir essa papel, embora – tenho que ressaltar – respeite a posição dela como presidente eleita. Constituição é Constituição, democracia é democracia. Ela foi eleita, não importa se por poucos ou muitos, seguiu à risca a Constituição e tem a Presidência da República. Mas isso não impede, também, de reconhecer que ela não tem credibilidade para conduzir o processo da mudança. Ela tem a legitimidade, mas não tem a credibilidade. E, para isso, você precisa ter as duas coisas.

IM – Qual seria a saída defendida pelo senhor? Uma renúncia, um impeachment…
JD – Qualquer saída que seja constitucional. Só nos opomos a saídas casuísticas, golpistas e que não estejam estritamente previstas na Constituição. Respeitar a Constituição é respeitar a liberdade democrática de um país.

IM – O impeachment, nas atuais condições, seria constitucional?
JD – Claro. É uma medida constitucional. Se ela avançar e for votada pelo Congresso, constitucional ela é. Ela não é golpista.

IM – Haveria um crime de responsabilidade já configurado a seu ver?
JD – Aparenta existir. Dados apontam nessa linha. Mas o que fará esse juízo será ou o Tribunal ou o Congresso.

IM – Haveria uma resposta positiva do mercado no momento em que isso se confirmasse?
JD – Com certeza, na minha avaliação. Há tanta tristeza no mercado que qualquer situação de mudança para um patamar de transformação e serenidade será bem recebida, desde que constitucionalmente.

IM – Os senhores não temem um possível quadro de deterioração institucional do país em consequência do impeachment, algo que culmine em uma questão mais grave, tendo em vista que também teremos eleições municipais em 2016 e reformularão de parte do Executivo?
JD – Não há razão nem para acreditar nisso, nem para acreditar que, se a presidente Dilma continuar, o Brasil vai acabar. Nenhum extremo. Há que se buscar, na regra constitucional, o caminho para a transformação do país.

IM – Como o senhor avalia a posição das oposições nesse cenário?
JD – Melhoraram. O próprio PSDB vem cumprindo um papel melhor do que no passado. Mais altivo, mais presente, mais combativo: como toda a oposição deve ser, embora sem perder o bom senso e a noção de justiça também.

IM – O senhor foi um dos líderes do movimento Cansei. O que mudou de lá para cá?
JD – De lá para cá, só piorou. Antes, tinha o Mensalão. Já era uma escória da República imaginar que era possível comprar o voto do Legislativo – um poder importante que alicerça a democracia. E a piora se deu por se institucionalizar uma forma de roubar o dinheiro público para sustentar a defesa parlamentar e as estruturas partidárias e pessoais do PT em todo o país, irrigando, inclusive, para as campanhas, que, em alguns casos, elegeram governadores, deputados e senadores com base em alimentação de recursos provenientes do Lava Jato.

IM – Em 2007, o movimento se chamava Cansei. Hoje, qual seria o novo nome?
JD – É… Cansamos. Hoje, os movimentos são aqueles vários de rua que estão e que se apresentam… Com exceção daquele que prega a volta dos militares, que eu não qualifico, são bem amparados e com forte penetração em densas camadas da população. O povo foi às ruas.

IM – Qual é sua avaliação sobre a condução da discussão da reforma política na Câmara?
JD – Há uma grave insatisfação da sociedade em relação ao excesso de partidos políticos no país. Inconcebível. Não há como imaginar solidez democrática com mais de 30 partidos. Isso não existe em nenhuma nação democraticamente respeitável do planeta. Isso é algo condenável de um processo que o Brasil, infelizmente, acabou adotando e que transformou muitas legendas em legendas de aluguel, para se vender espaço e tempo em televisão e vender a si próprias para abrigar candidatos. Isso é afrontoso à democracia. Uma reforma política deverá certamente reduzir o número de partidos e definir cláusulas de barreira com mais firmeza. É preciso ter valores importantes.

IM – Os partidos perderam a importância com o tempo?
JD – Com mais de 30 partidos, a tendência é essa mesmo: diminuir a importância partidária, as discussões e os valores partidários. Com bem menos de 10 partidos, conseguimos ter essa representação política bem desenhada, bem definida e bem representada.

IM – Os partidos são muito pragmáticos hoje?
JD – Sim. Mas é ruim, porque você fica fazendo política em cima de nomes, e não partidos. O certo seria fazer isso em nome dos partidos e seus programas.

IM – Existe um “mea culpa” dentro do próprio PSDB com relação a isso?
JD – Não sei. Você precisa perguntar aos líderes do PSDB…

IM – Da sua parte, o senhor acredita que exista?
JD – Acho que é uma boa pergunta para você formular para o presidente Fernando Henrique, José Serra… Aqueles que são líderes do PSDB.

IM – Além da questão partidária, quais outros pontos de reforma política seriam importantes para se levar em conta?
JD – Voto distrital. É importante estabelecer uma forma de votação que permita ao eleitor acompanhar mais de perto o eleito, o que faz, como atua, o que ele defende, as sessões que participa, as presenças ou ausências na Câmara Legislativa.

IM – Como o senhor classificaria as atuais mudanças aprovadas na Câmara?
JD – De forma geral, foi um passo adiante, mas não completo.

IM – Em que pontos se avançou?
JD – Algumas medidas que já foram deliberadas com relação a prazos e barreiras migratórias. Há outras importantes que pouco foram discutidas. O próprio voto distrital ou distrital misto é um ponto que saiu da pauta, sendo um tema que exige mais debate, mas deve voltar à mesa com certeza para ser discutido. Há também a tese do parlamentarismo, que há defensores que entendem ser um modelo de governo mais adequado para o Brasil.

IM – O senhor apoia o parlamentarismo? Acredita que seria uma alternativa interessante em um momento de crise de credibilidade?
JD – Diante de uma situação de crise de credibilidade, o parlamentarismo tem um efeito magnífico de manter as instituições estáveis, com apenas mudanças políticas necessárias. Mas, no caso do Brasil, ainda entendo que o regime presidencialista, com uma visão sociodemocrática, é melhor para o país. Não sinto a população brasileira capaz de compreender exatamente a dimensão de um governo que não seja presidencialista. Culturalmente.

IM – Ainda na pauta da reforma política, houve mudanças nas regras para financiamento de campanha. Agora, apenas os diretórios dos partidos recebem as doações das empresas. Esse foi um avanço?
JD – Creio que sim. Não foi completo, mas foi um avanço positivo.

IM – Muito se critica o financiamento público de campanha como percursor de escândalos envolvendo empresas e políticos, além de ser uma espécie de primeiro passo para o lobby. Ao mesmo tempo, também defende-se que seria difícil bancar campanhas eleitorais apenas com recursos públicos. De que lado o senhor está?
JD – Acho que tem que ser mais debatido. Não sou contra a contribuição privada desde que ela tenha regras, limites e toda a transparência.

IM – Entrando agora na disputa pelas eleições de São Paulo: uma pesquisa feita nos protestos de 16 de agosto mostrou as intenções de voto dos manifestantes. Segundo o estudo, 65% não responderam e 12% destacaram seu nome, o que lhe garantiu a primeira posição, seguido por Datena (10%) e Russomanno (7%). Quais são suas expectativas para as eleições? Como o senhor tem se preparado para as prévias no PSDB?
JD – Fico honrado. É sempre muito bom aparecer bem em pesquisa, mas é muito cedo também para tomar isso como referência definitiva. É preciso ter humildade antes de tudo e compreensão de tempo para isso. A pesquisa é um mero retrato momentâneo, não o definitivo de uma campanha. Mas, de qualquer forma, fico feliz com a boa lembrança e com esse índice.

Quanto à candidatura pelo PSDB – e só sairei se for pelo PSDB; não há hipótese de frequentar nenhuma outra legenda -, vou disputar as prévias nas regras estabelecidas pelo diretório municipal, no tempo em que isso for colocado. Não foi definida a data das prévias. Fala-se em dezembro, embora não se tenha definido com clareza.

IM – Nessa pesquisa, 65% dos entrevistados não têm candidato, não responderam, disseram não ter interesse por essa disputa. Ao mesmo tempo, existe um cenário de grande rejeição à gestão de Fernando Haddad. O senhor enxerga boas oportunidades para o PSDB retornar à prefeitura de São Paulo?
JD – Há uma forte rejeição ao PT, forte desaprovação ao prefeito Haddad e forte sentimento oposicionista em São Paulo, especialmente na capital. Isso certamente vai favorecer candidatos de oposição.

IM – Como o senhor avalia a gestão Haddad?
JD – Tímida. E sem planejamento. Com pouca ousadia, capacidade de inovação e transformação. Não tenho crítica pessoal ao prefeito, mas a gestão dele é muito distante de uma cidade que é a maior da América Latina, e tinha que pulsar com outra velocidade. O prefeito atual faz a gestão do “devagar, quase parando”, quando São Paulo precisa de uma gestão dinâmica e acelerando.

IM – Uma das bandeiras dele tem sido a questão da mobilidade urbana – ciclovias, defesa de alternativas com o transporte público. O senhor também enxerga em timidez em iniciativas que tenham sido tomadas nessa área e o que proporia para mudanças?
JD – Pontos positivos e negativos. Ponto bom: a implantação de ciclovias. É uma boa medida. Sustentável e elogiável desejar estimular o uso de bicicletas. Condenável: a afoiteza e falta de planejamento na estruturação da ciclovia. Pode até comprometer um bom projeto por falta de planejamento adequado. Como ideia, na essência, é boa. Como execução, falha.

Velocidade nas Marginais e nas avenidas da cidade: uma análise cuidadosa, mais profunda e utilizando também exemplos internacionais poderia avaliar uma ou outra via com potencial redução de velocidade, mas institucionalizar essa redução impõe uma ilegitimidade que prejudica parte considerável da população que possui automóvel e tem o direito de ser respeitada também. O usuário de automóvel não é um criminoso, é um cidadão que merece tanto respeito como aquele que usa bicicleta ou transporte coletivo. Ele não pode ter o tratamento de vilão.

IM – Reduzir em 10 km/h nas vias públicas seria uma afronta…
JD – Indistintamente, como política, duvidoso. Pontualmente, talvez recomendável.

IM – Outra questão em discussão refere-se às contas da prefeitura. Diversos estados e municípios brasileiros encontram-se em dificuldades também por conta da centralização dos recursos em nível de Federação. Como o senhor pretende enfrentar as dificuldades de contas na prefeitura se eleito?
JD – Em primeiro lugar, gestão enxuta. Depois, gestão eficiente. Quando colocamos eficiência, diminuímos o gasto mal feito. E, terceiro, combate à corrupção, evitando-se que o recurso, que já é escasso, seja mal utilizado ou desviado. Não estou fazendo nenhuma alusão de que o prefeito Fernando Haddad não seja um homem honesto. Parece ser. Não faço essa crítica a ele. Mas uma gestão tímida em uma prefeitura de tamanha dimensão promove a possibilidade de se ter mau uso dos recursos. Se não se há fiscalização adequada, ela se acentua e você, mesmo não tendo um prefeito desonesto, tem desonestidades em amplas áreas da própria prefeitura.

IM – O senhor está preparando campanha para as prévias? Como está sua rotina para essa disputa pela prefeitura?
JD – Nessa etapa, meu objetivo é o público interno: falar com as bases do PSDB, filiados, militantes, diretórios e lideranças. Essa é a prioridade até dezembro.

IM – Mas já com discussões de projetos?
JD – Claro, claro. Faço absoluta questão de sempre levar propostas e projetos. Não vejo como se ter uma discussão política partidária, voltada ao poder Executivo, sem programa. Senão fica a disputa do poder pelo poder. E não entendo que isso seja algo modero e conveniente, assim como não vejo isso como um princípio do PSDB.

IM – O senhor poderia falar alguns nomes que estão te ajudando na coordenação de planejamento econômico, de infraestrutura etc.? Quem mais está participando desta campanha?
JD – São vários. Montamos um grupo de trabalho com 32 nomes, que já cresceu. Hoje, estamos com 41 nomes que estão contribuindo com sua experiência e conhecimento para a formatação de uma proposta para São Paulo. Neste grupo, há desde filiados e militantes do PSDB até empresários, acadêmicos, artistas, advogados, que não têm filiação partidária, mas amam São Paulo e querem contribuir.

IM – O senhor poderia citar alguns nomes?
JD – Eu citaria Claudio Lottenberg (ex-secretário municipal de Saúde de São Paulo, presidente do hospital Albert Einstein), Luiz Fernando Furlan (ex-ministro da Indústria, Desenvolvimento e Comércio Exterior), Roberto Rodrigues (ex-ministro da Agricultura), Marcos Arbaitman (ex-secretário de Turismo em São Paulo), o líder comunitário Eduardo Lyra, professor Fernando Meirelles (da Fundação Getulio Vargas), a empresária e líder do segmento de mulheres Sônia Régis de Souza, a educadora Viviane Senna, entre outros.

IM – O senhor já tem passagens por gestões públicas. Um dos destaques foi a Secretaria Municipal de Turismo, onde foi, digamos assim, um dos responsáveis pela divulgação de São Paulo para o mundo. Como o senhor enxerga a atual postura para “vender” a cidade e o que proporia de novidades?
JD – Sem dúvida. São Paulo pode e deve captar recursos e investimentos externos liderados pela prefeitura e pelo prefeito. É a maior metrópole da América Latina e uma das maiores do mundo. É preciso ter olhar global e uma capacidade de atrair interesses globais também, porque isso gera empregos, impostos e ajuda a ativar a economia da cidade. São Paulo tem que ser uma composição de pequenos e grandes projetos. Não acredito que apenas com pequenos projetos você consiga estruturar a necessidade de crescimento da cidade, como também entendo que, apenas com grandes projetos, você não dá justiça social na interpretação da cidade.

IM – Alguma questão mais que o senhor gostaria de acrescentar a essa entrevista?
JD – É preciso um processo de desburocratização. Fico chocado com a burocracia da administração pública municipal e a falta de senso de urgência na conduta dos temas de interesse, tanto da população, como de empreendedores. É tudo muito lento. É preciso ter um processo mais ágil, descentralizado, confiável, digital, para podermos colocar a dinâmica da prefeitura em um ritmo diferente. Hoje, é lenta. É paquidérmica. E não estou dizendo que isso foi um fato apenas gerado na administração do PT, mas que acabou se acentuando ainda mais nos últimos anos. O que já era ruim ficou pior.

É um sofrimento para a população. Qualquer mínima coisa que dependa do município é uma roda gigante interminável. O cidadão fica louco. Para conseguir uma aprovação de coisas simples, ele leva semanas, meses ou até anos. É um despropósito. Vamos implantar aqui o Poupatempo municipal para fazer as coisas andarem em uma velocidade maior e melhor. É preciso respeitar o cidadão e o direito que ele tem de ter que consumir menos tempo e recursos para obter informações e aprovações ou aquilo que ele deseja. Não se pode levar uma eternidade para tapar um buraco, sinalizar uma via ou conceder uma autorização de construção. É preciso seguir processos, mas também ser célere.

IM – Além da questão da desburocratização que o senhor mencionou, quais seriam os outros pontos sobre o qual o senhor se debruçaria de imediato?
JD – Saúde, educação, mobilidade urbana e segurança pública. Não exclusivamente, mas essas seriam as prioridades.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.