Jaques Wagner: bombeiro de Lula, “Galego” é aposta de paz para Dilma

Durante períodos mais turbulentos da gestão de Lula, o desenrolar do escândalo do Mensalão exigiu a presença de um conciliador. O ex-presidente teve na figura de Wagner as qualidades de "pacificador" que necessitava

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – A corrosão da imagem do ministro Aloizio Mercadante no comando da Casa Civil do governo Dilma Rousseff trouxe a necessidade de um novo nome ocupar uma das cadeiras de maior importância do Executivo. Após sucessivos embates com colegas na Esplanada e parlamentares aliados e opositores no dia a dia do Congresso, a posição do homem de confiança da presidente tornou-se insustentável nos últimos meses. Em seu lugar, o grupo político mais próximo a Lula conquistou a nomeação de Jaques Wagner como novo coordenador político juntamente com Ricardo Berzoini. Antes no ministério da Defesa, o baiano-carioca caminha para ocupar sua quinta pasta em governos petistas. Antes, ele já havia sido ministro do Trabalho, coordenador do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social e chefe da secretaria de Relações Institucionais.

Chamado de “Galego” por seu amigo Lula pela pele clara e olhos azuis, Jaques Wagner nasceu no Rio de Janeiro, onde desenvolveu o embrião do que viria a ser sua vida na política, bebendo muito da fonte da experiência de seu pai – judeu, comunista e polonês que fugiu do nazismo para o Brasil. Estudante de engenharia civil na PUC e líder estudantil durante um dos períodos mais duros da ditadura militar, Wagner foi perseguido pelo regime e precisou abandonar os estudos até se instalar em Salvador, onde sua trajetória política, de fato, aconteceu. Na capital baiana, passou a trabalhar como operário no pólo petroquímico de Camaçari. Engajado em questões trabalhistas envolvendo a classe trabalhadora, conheceu Lula em um congresso de petroleiros em Salvador nos anos 1980 e participou da fundação do PT e da CUT (Central Única dos Trabalhadores).

Em 1991, Wagner começou um de seus 3 mandatos consecutivos como deputado federal pelo PT da Bahia. Durante esse período, o nível máximo de representatividade alcançado foi a liderança do PT entre 1995 e 1996 e a vice-liderança do bloco PT/PDT/PCdoB entre os dois anos seguintes.

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Bom de papo e “pacificador”
O petista não se destaca como autor de grandes projetos transformados em normas jurídicas, mas ficou conhecido por sua capacidade de diálogo – talento que se evidenciou quando ganhou espaço na Esplanada dos Ministérios, após perder as eleições majoritárias para o cargo de prefeito de Camaçari, além da disputa pelo governo baiano, para o candidato defendido pelo bloco hegemônico da família de ACM. Com as derrotas nas urnas, Wagner viu seu amigo Lula estender a mão já no começo de seu primeiro mandato como presidente. Agraciado pela pasta do Trabalho, ‘Galego’ foi responsável por promover uma série de reformulações fundamentais para a geração de milhões de novos empregos formais no Brasil durante os três primeiros anos de gestão petista.

Durante períodos mais turbulentos da gestão de Lula, o desenrolar do escândalo do Mensalão exigiu a presença de um conciliador. O ex-presidente teve na figura de Wagner as qualidades que necessitava. Em 2005, o então ministro do Trabalho mudou de pasta, para cuidar da coordenação política e articulação institucional, ao passo que o então titular Aldo Rebelo conquistou a presidência da Câmara após o sucesso de sua candidatura nas eleições da casa. O episódio ficou conhecido como o “turning point” do governo Lula para um caminho de maior estabilidade política.

Foi nesse contexto que Jaques cresceu e ganhou a fama de “pacificador” – outro apelido dado pelo ex-presidente. O carioca e baiano ao mesmo tempo passou a ser conhecido como petista moderado, com bom trânsito entre figuras importantes da oposição – perfil decisivo para a escolha de seu nome para a substituição de Mercadante na Casa Civil de Dilma, além do próprio voto de confiança e vontade de Lula.

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Descambou o “império” ACM
As experiências bem sucedidas como personagem importante da recuperação de Lula deu cacife para que Jaques disputasse novamente as pelo governo da Bahia em 2006 – mesmo ano em que seu amigo seria reeleito presidente. A vitória em primeiro turno no maior estado nordestino pôs fim ao controle imperial dos ACM. Durante seus mandatos como governador, houve uma sintonia com Lula e grande foco em programas sociais, com maior distribuição de renda e democratização de serviços.

A gestão foi bem recebida pela população, que lhe deu mais um voto de confiança nas eleições de 2010. Na disputa seguinte, ele ainda conseguiu fazer seu candidato, Rui Costa (PT), sucedê-lo, quando pesquisas indicavam outro cenário, e apesar de todo o ambiente negativo por conta de uma das maiores secas da história do estado, ocorrida um ano antes. A nova vitória mais confortável do que se esperava, em primeiro turno, deu ainda mais força para o nome de Wagner no PT e admiração na ala lulista – apesar de não pertencer a uma corrente específica. Caso o ex-presidente não saia candidato em 2018, ele é um dos nomes de maior peso do partido para suceder Dilma Rousseff.

Novo desafio
Com a reforma ministerial da semana passada, Jaques Wagner tem um novo grande desafio em sua carreira. Por mais que o diálogo com o Congresso esteja centralizado na figura de Ricardo Berzoini, o carioca-baiano desponta como um nome importante na interlocução ministerial e na aproximação de lideranças políticas de maior expressão. A dobradinha lulista no núcleo duro do Dilma II ocorre em um momento de desgaste de Mercadante, que sai com o nome manchado pelas atribuições a boa parte dos erros de estratégia no campo político. Resta saber se as concessões da presidente serão suficientes e se as mudanças não ocorreram tarde demais.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.