Janja pode explicar perda de 1 milhão de seguidores de Lula, diz consultoria

Escândalos do INSS, alta do IOF e críticas à primeira-dama alimentaram rejeição online, mostra levantamento

Marina Verenicz

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As redes sociais do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sofreram um forte revés nos últimos seis meses. Entre novembro de 2024 e maio de 2025, os perfis oficiais do petista no Facebook e no Instagram perderam cerca de 1 milhão de seguidores, segundo levantamento da consultoria Ativaweb. O declínio acompanha uma sucessão de crises políticas e falas polêmicas da primeira-dama, Janja da Silva, que ampliaram a rejeição ao governo no ambiente digital.

O maior baque ocorreu em abril, durante a repercussão do escândalo das fraudes no INSS, revelado pela Polícia Federal. Na ocasião, Lula perdeu 240 mil seguidores em apenas um mês.

A operação expôs desvios em aposentadorias e pensões cometidos por entidades associativas, provocando 2,88 milhões de menções nas redes sociais em 24 horas — 79% com teor negativo. Os termos mais frequentes nas publicações foram “roubo”, “despreparo” e “omissão”.

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Especialistas ouvidos pela Ativaweb destacam que a ausência de uma estrutura eficiente de monitoramento de crises e a demora na resposta institucional contribuíram para a disseminação de desinformação, memes e vídeos com forte apelo emocional, potencializando a indignação popular.

Falas de Janja ampliaram desgaste

A primeira-dama também se tornou figura central na crise de imagem digital. Segundo o relatório, Janja protagonizou alguns dos principais picos de rejeição ao governo no período. Um dos momentos mais críticos ocorreu em maio, quando ela criticou o TikTok durante jantar com o presidente chinês Xi Jinping. A declaração gerou 73% de reações negativas entre as publicações monitoradas no Facebook e no Instagram.

Dias depois, Janja voltou a ser alvo de críticas ao defender a regulação das redes sociais inspirada no modelo chinês, durante entrevista ao podcast da Folha de S.Paulo. A fala impulsionou 154 menções a seu nome por 100 mil mensagens no WhatsApp — com 35% de avaliações negativas. O episódio motivou o lançamento da campanha #EstouComJanja pelo PT, mas o desgaste já estava consolidado.

Embora tenha registrado picos positivos em momentos pontuais — como o encontro com o Papa Francisco, em fevereiro —, a primeira-dama passou a ser um símbolo recorrente das narrativas de oposição, que a associam a propostas autoritárias e ao afastamento do governo das prioridades populares.

Reação do Planalto

A Secretaria de Imprensa da Presidência rebateu os dados da Ativaweb citando estatísticas da plataforma Social Blade. Segundo o governo, entre janeiro e maio, houve um crescimento líquido de 480 mil seguidores considerando todas as redes. No entanto, o saldo no Instagram e Facebook — principais plataformas analisadas — foi negativo.

A maior concentração de menções ao governo ocorreu no Nordeste (28,4%), seguido por Norte (20,3%) e Sudeste (18,7%). A região nordestina, tradicional reduto petista, vem registrando sucessivos aumentos nos índices de desaprovação a Lula ao longo de 2024.

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A crise de imagem se acentuou ainda mais com o anúncio do aumento do IOF em maio, revertido poucas horas depois. A medida foi duramente criticada, com 89% das menções ao presidente sendo negativas, atingindo também o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

O episódio reforçou a percepção de desorganização fiscal e alimentou discursos de que o governo estaria aumentando impostos — uma narrativa já amplamente explorada pela oposição.

A deterioração da imagem de Lula nas redes sociais reflete e amplifica os dados das últimas pesquisas de opinião. Nesta quarta-feira (4), nova pesquisa Genial/Quaest mostrou que a desaprovação ao governo do presidente atingiu 57%, o maior índice desde o início do atual mandato.