Investidores minimizam “efeito Moro” na Previdência – mas seguem em alerta com o que ainda pode vir

Cronograma da Previdência, a princípio, não é visto como impactado, enquanto Sérgio Moro e Lava Jato aparecem como principais prejudicados; contudo, visão é de que as revelações ainda não terminaram

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Ao contrário do que se apontava durante a manhã, os investidores reagiram com relativa tranquilidade na sessão desta segunda-feira (10) aos vazamentos de trechos de mensagens atribuídas a procuradores da operação Lava-Jato e ao ex-juiz e atual ministro da Justiça Sérgio Moro pelo site The Intercept. 

Boa parte dessa reação do mercado ocorreu em meio à percepção de que, apesar de Moro ser um dos principais ministros do governo de Jair Bolsonaro, a agenda principal não será contaminada: o cronograma da Previdência continua mantido, apesar de haver algumas alterações no calendário. No fim de semana, o relator da reforma da Previdência na comissão especial da Câmara dos Deputados, Samuel Moreira (PSDB-SP), informou o adiamento da entrega do parecer de terça-feira para quinta. 

“As denúncias apresentadas até o momento não impactam diretamente o andamento da reforma da Previdência. É um tema que já está até certo ponto consolidado no Congresso e deve seguir independente das conversas reveladas no domingo. Esta situação mudaria apenas se conteúdos mais danosos forem divulgados”, afirma Juliano Griebeler, diretor de relações governamentais da Barral M. Jorge. 

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Conforme ressalta a consultoria de risco político Eurasia, os legisladores estão conduzindo a Previdência considerando motivos de interesse pessoal e, como tal, isso não afetará o “timing” do projeto.

Na mesma linha, a equipe de análise da XP Política aponta que, a princípio, Rodrigo Maia deve continuar empurrando a reforma da Previdência e uma contaminação seria de alguma maneira algo forçado. “Assim mesmo, nunca fomos partidários do bom humor superficial que se instalou, e ainda nos parece razoável afirmar que o texto apresentado será bom, mas que será votado na Comissão em julho, e no plenário a partir de agosto”, avaliam os cientistas políticos. 

Previdência não é contaminada, já Moro…

Se a Previdência ainda não é impactada, o mesmo não pode se dizer sobre o ministro Sérgio Moro e sobre a Lava-Jato. Segundo a Eurasia, as mensagens devem representar um revés parcial maior à investigação e à agenda do ex-juiz do que ao governo Bolsonaro e à sua agenda de reformas. 

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Já de acordo com Griebeler, da Barral M. Jorge, ainda é cedo para falar sobre os impactos para Moro, mas apontando ser algo que afeta a imagem do ex-juiz. “Não é possível garantir que afetará sua indicação e uma eventual aprovação para o STF – só será possível fazer tal avaliação quando todo o conteúdo for revelado. Moro ainda é um dos nomes com o maior apoio da opinião pública e boa parte do eleitorado que o apoia não tem necessariamente preocupação com o devido processo legal, mas sim com a punição e quem consideram terem cometido delitos”, avalia. 

Ele ainda avalia que este evento dá um novo fôlego para o PT manter a mesma posição que tem defendido e não deixar abrir espaço para outras frentes de esquerda ocuparem a oposição. “As gravações devem ser utilizadas pela oposição na greve geral prevista para dia 14”, aponta. 

Porém, mesmo que indiretamente, a agenda de reformas pode sofrer o impacto com as notícias do vazamento. Durante todo o dia, diversos líderes, como o presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ) e o presidente da comissão especial da reforma da Previdência Marcelo Ramos (PL-AM), afirmaram que não haveria mudança no cronograma.

Contudo, a oposição pode trazer mais dificuldades ao processo. Sinal disso é que a líder da minoria da Câmara, Jandira Feghali (PCdoB-RJ), anunciou que os partidos de oposição tentarão obstruir a leitura do relatório da reforma na próxima quinta-feira na comissão especial. Esses partidos também pedem o afastamento de Moro do seu cargo. O próprio presidente da comissão afirmou à Reuters que o ministro da Justiça deveria ser afastado

Além disso, conforme destacou Lucas Monteiro, operador de multimercados da Quantitas Gestão de Recursos, ao InfoMoney, o mercado ainda fica em suspenso, pois novos vazamentos podem ocorrer e prejudicar ainda mais o ministro, que é o mais bem avaliado do governo Bolsonaro. 

“Tirando a equipe do Intercept que tem esse material na mão, ninguém sabe o que mais pode chegar para impactar o governo. Ainda nos mantemos com o risco de cauda de material mais comprometedor sendo divulgado”, avalia Monteiro. 

Assim, apesar dos investidores terem respirado aliviados com as reações do mundo político ao vazamento, a cautela continua – e deve se estender até que haja mais desdobramentos sobre o assunto. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.