Indefinição no comando da Vale ainda deve pressionar papéis no curto prazo

Ingerência política não costuma ser bem recebida pelo mercado, mas perspectivas de longo prazo não parecem ameaçadas

Tainara Machado

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SÃO PAULO – No noite de quinta-feira (31), a Vale (VALE3, VALE5) enfim se manifestou quanto à troca de comando na empresa, após semanas em que rumores e nomes invadiram o noticiário econômico. A mineradora confirmou que Roger Agnelli deve deixar a empresa ao final de seu mandato, que expira em 30 de abril.

Para Leonardo Boguszewski, gestor de renda variável da Paraná Asset Management, o anúncio de que será contratada uma empresa global de head hunters para liderar o processo mostra disposição do bloco privado de acionistas, liderado pelo Bradesco (BBDC), via sua participação na Bradespar (BRAP4), de mostrar que a sucessão será feita de maneira profissional. 

Alessandro Barreto, gestor de recursos da Geral Investimentos, no entanto, avalia que o comunicado causou estranheza, e passou a mensagem de uma “figuração”, para tentar minimizar o possível peso que o governo teve nesse processo decisório. 

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Ingerência política
A percepção de ingerência política na Vale cresceu muito desde que uma reunião entre o presidente do Conselho de Administração do Bradesco, Lázaro Brandão, e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, para discutir a troca de Agnelli na presidência da mineradora foi vazada à imprensa. 

Desse modo, as ações preferenciais classe A da Vale recuaram 4,45% em março, enquanto os papéis ordinários caíram 5,23%, pressionados ainda pela cobrança de royalties pela exploração de mineração e pelo recuo dos preços do minério de ferro no mercado internacional. Como permanece a indefinição quanto ao nome que irá assumir a presidência da mineradora, a perspectiva é de que os papéis seguirão pressionados no curto prazo. 

Até que o mercado tenha mais clareza, acredita Barreto, da Geral, os papéis devem seguir com desvalorização. Oswaldo Telles, analista-chefe da Banif Corretora, acredita que a empresa ficou aquém de seu potencial neste ano, já que com base em seus negócios sua performance deveria ter sido muito melhor. Ainda assim, em parte o analista acredita que o mercado já precificou essa fonte de incertezas, e que a substituição em si não é o problema, e sim a forma como foi feira, com interferência política. 

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Longo prazo ainda não está formado
O argumento, segue na mesma linha Márcio Cardoso, diretor da Título Corretora, é que Roger Agnelli cumpriu um ciclo à frente da companhia, já que ocupa o cargo há dez anos, e que esse é o melhor momento para sua substituição. “Quem não concorda está vendendo as ações, e por isso elas estão caindo. Mas o volume de negociação é forte, e você vê gente que também está comprando, acreditando que esse processo será dissolvido no médio e longo prazo”, ponderou. 

Boguszewski, da Paraná Asset Management, também acredita que as premissas de longo prazo para a empresa não foram alteradas, e que mesmo com uma mudança de estratégia, e companhia deve continuar a buscar o que é melhor para o seu acionista. O gestor lembra ainda que aqueles que acreditam conhecer a empresa e têm segurança em seus bons fundamentos podem aproveitar momentos de pressão por fatores diversos ao que concerne as operações da companhia. “Cabe ao acionista ficar atento a isso”, recomenda. 

Para Francisco Dantas, gestor da Meta Asset, é cedo para falar se o processo irá gerar revisões de recomendação para a mineradora, que há meses é o papel mais recomendado nas carteiras compiladas pela InfoMoney. “Se ficar constatado que houve ingerência política na empresa, a companhia passa a ser negociada com maior desconto”, citou o gestor, lembrando o caso da capitalização da Petrobras (PETR3, PETR4).