Incertezas pairam sobre candidatura de Dilma Rousseff à Presidência

Estado de saúde da ministra levanta questões sobre sua viabilidade para se tornar futura sucessora de Lula

Equipe InfoMoney

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SÃO PAULO – A cena política brasileira foi sacudida pela revelação de que a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, se submeteu a um tratamento quimioterápico contra um câncer linfático. Ela é a pré-candidata do PT (Partido dos Trabalhadores) para concorrer as eleições presidenciais de 2010.

Ao mesmo tempo em que o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, reitera sua preferência por Dilma como sua futura sucessora, estudo da EIU (Economist Intelligence Unit), área de pesquisa da revista The Economist, revela que há incertezas sobre a viabilidade da ministra concorrer à presidência.

A pesquisa ainda reconhece que o estado de saúde de Dilma intensificou o foco para as eleições de 2010 e afirma que, dependendo dos resultados do tratamento quimioterápico, a possibilidade para novos candidatos surgirem e novos acordos políticos serem firmados não está descartada.

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Situação atual

A notícia de que Dilma Rousseff estava com câncer se tornou pública no dia 25 de abril, quando ela revelou aos jornalistas – acompanhada de médicos do hospital Sírio-Libanês, em São Paulo – que retirou um tumor maligno e que se submeteria a um tratamento de quimioterapia pelos próximos quatro meses.

As chances de sucesso no combate ao câncer são grandes, disseram os médicos da ministra. Contudo, ela deverá realizar testes para ter certeza de que a doença não retornará.

Divulgação/PTSegundo especialistas consultados pela InfoMoney, o importante para Lula no momento é saber se Dilma estará disposta e recuperada para concorrer as eleições em 2010.

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Para Valeriano Costa, cientista político da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), “a ministra pode até reduzir seu ritmo de trabalho na Casa Civil durante os próximos meses, mas deve estar boa a partir de abril do próximo ano para ganhar a confiança do governo na sua candidatura”.

Rui Tavares Maluf, cientista político e professor da FESPSP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo), acredita também que “o fato do câncer ter sido descoberto ainda em 2009 e de Dilma ter lidado com a doença de forma transparente é bem mais tranquilizador”.

“Pior seria se a notícia surgisse em 2010. Para o eleitorado mais politizado, que leva em consideração o estado de saúde do candidato, entre outros fatores, a doença poderia pesar sobre o voto”, complementa Maluf.

Incertezas

Diante deste cenário, somente os exames médicos que serão realizados nos próximos meses poderão dizer se a ministra da Casa Civil estará apta a concorrer às eleições. Até lá, as incertezas permanecem:

  • Estará Rousseff preparada para enfrentar a corrida da campanha presidencial?
  • O estado de saúde se tornará um fator limitador na agenda de campanha?
  • O câncer é bom ou ruim em termos de popularidade para sua candidatura à sucessão de Lula?
  • A doença fragiliza ou humaniza a candidata, tida como dama de ferro?
  • As pesquisas vão apontar se o anúncio da doença foi positivo?
  • Quais seriam possíveis substitutos para concorrer à Presidência?

    Por que Dilma?

    Dilma não foi escolhida pelo PT para ser a próxima presidente do Brasil, mas foi eleita a dedo pelo próprio Lula. “Era para começar no final deste ano, mas ele começou antes. Lula fez isso para barrar candidaturas pequenas e não comprometer o desempenho do governo”, disse Rui Tavares Maluf.

    Agência BrasilNão apenas isto, o presidente quis enfatizar “quem realmente manda no PT”, complementa o professor da FESPSP. A escolha de Dilma por Lula não apenas foi decidida por conta do trabalho exercido pela mesma, mas também por sua trajetória:

  • Dilma graduou-se em Ciências Econômicas pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Obteve mestrado em Ciências Econômicas na área de Teoria Econômica pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e doutorado em Ciências Sociais na área de Teoria Monetária e Financeira, também pela mesma universidade;

  • Na década de 1960, durante o regime militar, ela participou da luta armada como ativista;

  • Em 1999, se associou ao PT após sair do PTB (Partido Trabalhista Brasileiro);

  • Dilma integra o governo Lula desde o seu início, em 1° de janeiro de 2003, como ministra de Minas e Energia;

  • Ela troca de cargo, passando a chefiar a Casa Civil em 21 de junho de 2005, no lugar de José Dirceu, que deixou o ministério por estar envolvido em acusações de corrupção no caso Mensalão;

  • Desde então, Dilma se destaca pelo desempenho na implementação do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Entre políticos, recebeu até o apelido de “mãe do PAC”.

    Vai ou não vai…

    Embora seja considerada uma “trabalhadora” e com pouco carisma, sua performance em pesquisas de opiniões é bastante satisfatória.

    Contudo, ela ainda se distancia do desempenho expresso por José Serra, governador de São Paulo, que lidera as intenções de voto e é apontado como um forte candidato presidencial pelo opositor PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira).

    Uma possível rejeição de Dilma à candidatura presidencial provocaria não apenas um tumulto dentro do PT, mas também uma reviravolta dentro do PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro), avalia o estudo da EIU.

    E agora Lula?

    O presidente voltou a descartar na última quarta-feira (20) em Pequim a hipótese de se candidatar a um terceiro mandato. A possibilidade foi levantada especialmente caso Dilma Rousseff não tivesse condições de disputar as eleições.

    “Eu não discuto essa hipótese. Primeiro porque não tem terceiro mandato. Segundo, porque a Dilma está bem”, afirmou Lula em visita à China.

    Em situação contrária, caso o presidente tivesse a intenção de se manter no poder, ele teria que alterar a Constituição, já que a legislação vigente no País não permite um terceiro mandato consecutivo. No entanto, esta opção já foi descartada por Lula.

    “Não há razão para ele pleitear isso. Acredito que o governo não conseguiria aprovar tal medida e, caso tivesse sucesso, um terceiro mandato seria um grande desgaste na imagem do presidente”, afirmou o cientista político Rui Tavares Maluf.

    “Ainda que não possa contar com a candidatura de Dilma, o Plano B de Lula não seria um terceiro mandato. Ele selecionaria um outro nome, dando preferência para quem é do PT”, acrescentou.

    O “tão especulado” Plano B

    “As pessoas já cobram do presidente um Plano B. Até o começo de 2010, isso continuará a ocorrer. Lula já deveria ter pensado nisso”, avalia Valeriano Costa, cientista político da Unicamp.

    Na opinião do especialista, “nomes de dentro do PT, como Aloisio Mercadante (senador), Antonio Palocci (ex-ministro da Fazenda) e Jaques Wagner (atual governador da Bahia) são possíveis opções na lista de Lula”. Contudo, ele ressalta que a possibilidade do presidente convocá-los é muito pequena.

    Rui Tavares Maluf sugere ainda o nome de Tarso Genro (ministro da Justiça), mas também alerta que as probabilidades destes políticos serem escolhidos são baixas, principalmente porque eles possuem apenas repercussão regional e “não empolgam o eleitorado em nível nacional”.

    De acordo com a Economist Intelligence Unit, uma grande alternativa para Lula – caso Dilma Rousseff negasse a candidatura presidencial – seria apostar em alguém que pertence aos partidos aliados ao PT. Neste caso, o estudo aponta o nome de Ciro Gomes, deputado federal pelo PSB (Partido Socialista Brasileiro).

    Ciro Gomes foi ministro da Integração Nacional entre 2003 e 2006 durante o governo Lula. A The Economist enfatiza que ambos os políticos mantêm “uma relação de forte respeito mútuo”.

    “Apesar de serem pequenas as chances de Lula recorrer a Ciro Gomes como possível candidato, uma aliança estratégica com o PMDB seria ainda mais difícil”, diz o estudo da EIU.

    Agência BrasilDe olho no Ciro!

    Há fortes expectativas de que o deputado concorra às eleições presidenciais de 2010 como candidato do PSB, mesmo que nenhuma aliança com o PT seja firmada.

    “O fato é que Gomes é experiente, tem conhecimento e é um político carismático, com uma considerável quantidade de votos nas últimas eleições (cerca de 15% do total). Isso o torna um candidato-chave diante do cenário eleitoral repleto de incertezas”, afirma a pesquisa da EIU.

    Assim sendo, se confirmada, a candidatura do deputado poderia balançar as forças que o PT e o PSDB conquistaram nos últimos anos na corrida para a Presidência.

    Ciro é a melhor opção?

    Na opinião dos cientistas políticos, não. Para Valeriano Costa da Unicamp, Ciro Gomes não deixa de ser uma alternativa, mas também não é a melhor delas.

    “Ele esteve em segundo plano nos últimos anos, embora seja um político que tem grande capacidade para recuperar rapidamente sua popularidade. É inteligente e experiente. Contudo, o deputado não abaixa a cabeça, possui inimigos dentro da política e, para piorar, levanta obstáculos com as bases aliadas do governo”, afirma Costa.

    “O temperamento ruim e os contrastes que Ciro Gomes mantém em relação a diversos partidos são obstáculos que impedirão Lula de escolhê-lo como possível candidato. Acho mais provável que o PT apóie alguém do próprio partido”, acrescenta.

    Na opinião de Rui Tavares Maluf da FESPSP, Ciro Gomes é alguém que entra em rota de conflito com outros partidos e que não mede palavras. “Ele virou uma espécie de ‘Garotinho’ (Anthony Garotinho, ex-governador do Estado do Rio de Janeiro). Jamais chegará à Presidência e não contará com o apoio do PT. Ele não tem controle sobre a sua figura política. No máximo, acredito que Lula concederia algum ministério para ele”.

    Contatada nos dias 21 e 22 de maio pela InfoMoney, a assessoria de imprensa de Ciro Gomes informou que o deputado não poderia comentar o assunto, já que estava indisponível em viagem oficial aos Estados Unidos.

    Intenção de voto

    Uma pesquisa encomendada pelo PT ao Instituto Vox Populi e divulgada na última quinta-feira (21) revelou que Dilma está à frente de Ciro Gomes na disputa de 2010. A sondagem foi realizada entre os dias 2 e 7 de maio, com 2 mil entrevistados em diversas regiões do País. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais para mais ou para menos.

    Ciro caiu de 23% para 17% nas intenções de voto e Dilma subiu de 9% para 19% quando o candidato tucano era José Serra (SP), que fica com 36%.

    InfoMoney

    Com o governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), no lugar de Serra, Dilma e Ciro aparecem em empate técnico, mas com leve vantagem para o pessebista: Ciro 23%; Dilma 21% e Aécio 18%.

    Quando a pesquisa foi feita, fazia uma semana que Dilma anunciara estar em tratamento por causa de um câncer linfático.

    Sem Ciro na disputa, Dilma levaria vantagem em relação a Aécio – 25% a 20% – mas seria derrotada por Serra – 43% a 22%. Neste último cenário, a petista tem seu melhor desempenho diante de Serra. Por outro lado, o governador de São Paulo também ganha parte das intenções de voto do candidato do PSB. Sem Ciro, Serra passa de 36% para 43%.

    Beleza levada a sério

    Dilma Rousseff fez uma bioplastia de rejuvenescimento do rosto – procedimento semelhante a uma cirurgia plástica, mas menos invasivo – em uma clínica particular em Porto Alegre em dezembro de 2008. Desde então, ela comparece a eventos públicos bastante maquiada, sem seus antes habituais óculos – a ministra passou a usar lentes de contato.

    A repaginação, que incluiu mudança no corte de cabelo, foi comentada na época pela imprensa nacional e vista como o primeiro passo dado por Dilma para se tornar candidata à sucessão de Lula.

    InfoMoney

    “A Dilma tinha uma imagem muito distante, era agressiva. O carisma dela é duro, ela é uma mulher decidida. A cirurgia plástica foi bem sucedida e deu um aspecto mais humanizado para a ministra. Ela também tirou os óculos, minimizando a imagem de durona”, diz o cientista político Valeriano Costa da Unicamp.

    “A questão estética pode contribuir indiretamente no voto dos eleitores. Uma pessoa que se apresenta de forma mais disposta e com empatia tem mais chances de conquistar o eleitorado. Contudo, isso não é suficiente para alguém se eleger”, ressalta Rui Tavares Maluf da FESPSP.

    Em relação ao estado de saúde da ministra, Valeriano Costa acredita que, “de certa forma, o câncer emocionou a opinião pública. A Dilma, mesmo sendo uma pessoa forte, mostrou-se mais sincera, humana e carismática. Isso foi favorável para ela”.

    “Além disso, por conta da doença, ela se mostrou uma pessoa fragilizada, mas não ao ponto de perder a competência para concorrer à Presidência”, complementa o cientista político da Unicamp.

    Perspectivas

    A campanha eleitoral de 2010 está em um período preliminar, época em que os partidos começam a definir possíveis candidatos. Na opinião dos especialistas, caberá agora ao PT (Lula) definir se Dilma Rousseff será ou não candidata do governo.

    “Se o tratamento quimioterápico de Dilma for curto e ela mantiver uma vida política normal, cumprindo com suas obrigações oficiais, vejo ela como candidata do governo com grandes chances de ganhar. Ate meados do fim de 2009, veremos os desdobramentos disso”, avalia Valeriano Costa.

    “A decisão virá de Lula. Seja Dilma ou qualquer outro nome do PT, o candidato(a) do governo terá poder eleitoral razoavelmente grande com o apoio do presidente”, conclui Rui Tavares Maluf.