Importância do União Brasil em reformas e risco de ‘efeito Dilma’ no governo pesam em permanência de Juscelino Filho nas Comunicações

Saída de ministro traria risco de Lula abrir precedente para mudanças nas pastas a partir de denúncias em período muito curto de governo

Reuters

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BRASÍLIA – Alas opostas do União Brasil se uniram em defesa do ministro das Comunicações, Juscelino Filho (União Brasil), após manifestação da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, em defesa do seu afastamento devido ao surgimento de uma série de denúncias, e deram sobrevida para ele permanecer no cargo, disseram fontes, acrescentando que o partido é imprescindível para o avanço da agenda de reformas do governo no Congresso.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Juscelino tiveram uma reunião na tarde de segunda-feira no Palácio do Planalto para que o ministro pudesse esclarecer as denúncias feitas em uma série de reportagens publicadas pela imprensa, após Lula ter convocado o ministro a se explicar e afirmado que todos que forem culpados sairão do governo.

Após o encontro, o ministro usou o Twitter para indicar que ficará no cargo. “Sai há pouco do Palácio do Planalto, onde tive uma reunião muito positiva com o presidente @LulaOficial. Na ocasião, esclareci as acusações infundadas feitas contra mim e detalhei alguns dos vários projetos e ações do @mincomunicacoes. Temos muito trabalho pela frente!”, disse.

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O Palácio do Planalto não se manifestou oficialmente sobre o encontro. Uma fonte palaciana indicou à Reuters que Lula disse a Juscelino para esclarecer publicamente as denúncias – algo que o ministro fez, em um vídeo, antes mesmo de ir ao Planalto.

Segundo reportagens publicadas pela imprensa, o ministro é acusado de usar um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para participar de um leilão de cavalos de raça. Ele também teria deixado de declarar pelo menos R$ 2,2 milhões em cavalos de raça ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Segundo duas fontes do Congresso, a escolha de Juscelino para o posto dividiu a cúpula do União Brasil, colocando em lados opostos o presidente do União Brasil, o deputado federal Luciano Bivar (PE), e o senador pelo partido e ex-presidente do Senado Davi Alcolumbre (AP), responsável pela indicação do parlamentar.

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No final de semana, os líderes das bancadas do partido na Câmara dos Deputados, Elmar Nascimento (BA), e do Senado Federal, Efraim Filho (PB), repudiaram a fala de Gleisi Hoffmann de pedir o afastamento de Juscelino ao falar que a presidente do PT utiliza “dois pesos e duas medidas” para tratar de assuntos como esse e cobraram respeito à presunção de inocência.

“Quando atitudes dos seus aliados são contestadas – e não faltaram acusações a membros do PT na história recente do país – a parlamentar prega o direito de defesa. Quando a situação se inverte, prefere fazer pré-julgamentos”, criticaram os líderes em nota.

Uma das fontes no Congresso, uma liderança do partido, disse reservadamente que a nota foi importante para reafirmar o apoio das bancadas a Juscelino e que a legenda foi decisiva para a única vitória importante do governo até agora, a aprovação da PEC da Transição.

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“A conta é simples: sem os votos do União, o governo nem sequer teria aprovado a PEC que garante o fôlego para iniciar o governo”, considerou essa fonte.

“Efeito Dilma”

Uma eventual demissão agora de Juscelino poderia levar Lula a atravessar um espécie de “efeito Dilma”, segundo a fonte palaciana, o que poderia abrir um precedente para que integrantes do primeiro escalão fossem exonerados por quaisquer acusações que viessem a público e, dessa forma, desestabilizar a criação de uma base aliada antes mesmo do início da agenda de reformas.

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Na avaliação da ala ligada a Bivar, segundo uma segunda fonte no Congresso, o governo Lula conduziu mal a negociação dos ministérios e acreditou na promessa feita por Alcolumbre de que poderia garantir uma sólida fidelidade do partido ao governo.

Além da pasta das Comunicações, a legenda tem o comando do Turismo, com a deputada licenciada Daniela Carneiro (RJ), e a da Integração Nacional, com o ex-governador do Amapá Waldez Goés. O partido tem 59 deputados federais e nove senadores e, mesmo com três pastas na Esplanada, nunca fechou questão em apoio ao governo Lula.

O União é oriundo da fusão do PSL, partido pelo qual o ex-presidente Jair Bolsonaro foi eleito em 2018, com o antigo DEM, uma das principais legendas de oposição aos governos petistas.

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Embora considere que o momento atual seria uma boa oportunidade para o governo “corrigir a situação” com a troca de Juscelino, a ala ligada a Bivar no partido considera que uma mudança não deve ocorrer ao menos por agora, afirmou a segunda fonte do Congresso.

Além de afirmarem que a fala de Gleisi é contraproducente para aqueles que defendem uma saída de Juscelino agora, conforme essa fonte, o entendimento é que uma troca poderia desagradar também o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), num momento em que o governo prepara para enviar a agenda de reformas ao Congresso. Lira seria um dos fiadores de Juscelino no cargo.

Mais cedo, em um evento em São Paulo, o presidente da Câmara disse que o governo Lula não tem uma base consistente no Congresso para aprovar a reforma tributária.

“Nós teremos um tempo para que o governo também se estabilize internamente, porque hoje o governo ainda não tem uma base consistente nem na Câmara nem no Senado para enfrentar matérias de maioria simples, quanto mais matérias de quórum constitucional. Esse amadurecimento dessas conversas, elas estarão presentes no nosso dia a dia, nas nossas discussões”, afirmou.

A ala ligada a Bivar, conforme a segunda fonte, considera que o apoio ao governo será maciço nas pautas econômicas e a resistência dentro da legenda à gestão Lula vai se reduzindo com o passar do tempo e a perda de força dos chamados bolsonaristas.

Ainda assim, essa ala não conta com uma saída de Juscelino no curto prazo, a não ser que ocorra uma acusação mais grave.