Impacto da troca de governo deve ser neutro para a bolsa, mas investidor vê risco

Maioria dos leitores diz esperar efeito neutro ou positivo da posse de Dilma, mas também há os que temem ingerência pública

Julia Ramos M. Leite

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SÃO PAULO – Ao contrário do que aconteceu com a ascensão de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência da República, o início do governo Dilma Rousseff parece trazer tranquilidade aos investidores.

A mensagem da presidente eleita e de sua equipe de transição de que não serão feitas mudanças drásticas na política econômica e de que “continuidade” é a palavra da vez passa ao mercado certa segurança, e uma expectativa de que a troca de governo não trará impactos para a bolsa brasileira. Essa é a opinião de 42,5% de 2.027 leitores da InfoMoney que responderam à pergunta “Você acha que o novo governo terá qual impacto sobre a bolsa em 2011?”

Os analistas, de modo geral, concordam com essa percepção. “Não acreditamos que nenhum candidato se atreva a sair do tripé de política econômica – câmbio flutuante, gestão fiscal responsável, política monetária conservadora com sistema de metas e Bacen (Banco Central) independente operacionalmente”, explica, por exemplo, a equipe do Grupo InterBolsa.

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Em termos de perfil de crédito, a mudança de governo também parece ser um não evento. A Fitch emitiu recentemente um relatório classificando o resultado da eleição como neutro para os ratings do País. “Acreditamos que a administração de Dilma Rousseff não deve se distanciar dos três principais pilares da política econômica brasileira.”

A Fitch aponta ainda que Dilma conseguiu um mandato forte, com boa participação de aliados no Senado e na Câmara, e que herda uma economia forte. “A questão agora é se ela fortalecerá ainda mais a economia”, diz a agência de classificação de risco. Para isso, diz a Fitch, seria necessário um comprometimento com a responsabilidade fiscal, reformas, continuidade política e manutenção da independência do BC, além de uma definição mais precisa do papel do Estado na economia.

Dilma e o rali
Outros 637 leitores do portal (31,43%) esperam um efeito positivo da troca de governo na bolsa, que pode se beneficiar de novos incentivos à economia.

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Da forma semelhante, o Goldman Sachs vê a conclusão do processo eleitoral como uma “remoção de obstáculos técnicos”. “Houve alguns comentários específicos da presidente eleita Dilma Rousseff acerca de metas fiscais. O evento mais importante que está por vir é a decisão sobre os membros da equipe econômica do próximo governo”, explica o analista do banco, Stephen Graham.

Para ele, apesar da variedade de nomes disponíveis, a maioria será aceita pelo mercado e deve “fazer a coisa certa na política fiscal”. “Isto sugere que a resolução dos ministérios por si só poderá ajudar a manter o rali no mercado em curso”, completa Graham.

Em termos de papéis e setores, Leonardo Correa, do Barclays, aponta ainda que o governo pode ter desistido de elevar os royalties para a indústria de mineração. A equipe do banco britânico interpretou pontos de um recente documento do Ministério de Minas e Energia como sinais de que a alta dos royalties não aparenta ser uma prioridade no momento.

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“Isso seria positivo para a Vale (VALE3, VALE5), a Bradespar (BRAP4), a MMX (MMXM3) e a CSN (CSNA3), mas ainda vemos riscos relevantes dessa discussão no novo governo”, afirma o analista.

Por outro lado, cabe lembrar que a Vale pode ver suas ações pressionadas caso o governo confirme rumores e decida tirar Roger Agnelli da presidência da mineradora. 

Nem tudo são flores
Apesar do otimismo da maioria dos investidores e analistas, também há aqueles que acreditam que a mudança de governo terá uma influência negativa sobre a bolsa. Pouco mais de 26% dos leitores afirmou que o impacto deve ser negativo, tendo em vista uma expectativa de maior ingerência do setor público.

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Na análise do Goldman Sachs, a questão fiscal no governo de Dilma, a partir de 2011, é o principal risco à projeção positiva à bolsa brasileira. “Se os investidores tiverem uma certeza que o déficit fiscal ficará em 3,3% do PIB (Produto Interno Bruto), nós achamos que as ações deverão ter um forte rali”, diz Graham.

O analista explica que este nível de déficit implica em expectativas de inflação sob controle e, por consequência, em uma necessidade menor de mudanças na política monetária a fim de controlar o aumento nos preços do País. “Isso tiraria alguma pressão da taxa de câmbio e da balança comercial, reduzindo o medo de futuras vulnerabilidades e de novos impostos ou medidas para frear os investimentos em ações”, avalia.

  Você acha que o novo governo qual impacto sobre a bolsa em 2011? 
Resposta Votos Percentual
Positivo, com novos incentivos à economia 637 31,43%
Neutro, mantendo o modelo atual 862 42,53%
Negativo, com maior ingerência do setor público 528 26,05%