Há 2 possíveis caminhos para Lula, diz Washington Post: “a prisão ou a presidência”

Ex-presidente, que passou de político mais popular a grande destaque na Lava Jato, enfrenta possibilidades extremas, afirma jornal americano

Lara Rizério

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SÃO PAULO – “Daqui pouco mais de um ano, o político mais popular do Brasil pode estar dormindo em dois lugares diferentes: ou no conforto do palácio presidencial ou atrás das grades”. 

É assim que o jornal americano Washington Post destaca as extremas possibilidades do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em matéria chamada Two possible paths for Brazil’s most beloved ex-leader: Prison or the presidency (Dois possíveis caminhos para o mais amado ex-líder do Brasil: prisão ou previdência, eu tradução livre).

O ex-presidente que, nas palavras do jornal, guiou o País para um período de lua de mel de crescimento entre 2003 a 2010, agora é réu em cinco processos por envolvimento em um esquema de corrupção que tem dizimado a classe política brasileira. 

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“As apostas não poderiam ser mais elevadas. Além de mandá-lo para a prisão, uma condenação impedirá Lula de concorrer a cargos públicos, extinguindo sua carreira política”, ressalta o Washington Post. Contudo, afirma, se ele puder procrastinar o processo judicial tempo suficiente para vencer a eleição de outubro de 2018, incluindo o esgotamento de apelações em todas as instâncias, ele ganharia imunidade presidencial, protegendo-se da acusação por quatro anos. Desta forma, ressalta o Washington Post, a equipe de defesa de Lula está tentando ganhar tempo, chamando 87 testemunhas para serem ouvidas em um dos processos.

Porém, vale destacar que outro processo está mais perto da conclusão: o que busca apurar se Lula recebeu um apartamento triplex no Guarujá, em São Paulo, em troca de vantagens indevidas concedidas à construtora OAS. Segundo uma decisão adotada pelo juiz Sérgio Moro, esse primeiro julgamento estará pronto para sentença a partir de 20 de junho.

Da popularidade à Lava Jato

O Washington Post traça um perfil do petista, apontando que ele é um ex-líder sindical que estudou até a quarta série, assumindo o poder como uma voz para os marginalizados do Brasil. “Ele provou ser um político astuto e carismático e deixou a presidência com uma taxa de aprovação vertiginosamente alta de 87%. Durante seu mandato, milhões deixaram a pobreza e foram para a classe média e o Brasil experimentou um rápido crescimento”, diz a publicação. 

Contudo, aponta, os bons tempos não iriam durar e o País foi dominado por sua pior crise econômica já registrada, com taxas de desemprego subindo para um recorde de 13%. “Ainda assim, a reputação de Lula como um campeão da classe média permaneceu praticamente intacta. No momento em que sua aliada política Dilma Rousseff sofreu impeachment em 2016 com um índice de aprovação de 10%, já se dizia que Lula estava planejando um retorno”, afirma o jornal.

Contudo, diz o Washington Post, Lula logo se tornou a figura de maior destaque na Operação Lava Jato, que envolve também quase um terço do mistério do governo Temer e um terço do Senado, que estão sob investigação. 

A Lava Jato, coordenada pelo juiz Sérgio Moro, “herói do movimento anticorrupção do país”, tem sido um momento de igualdade na política brasileira, afirma o Washington Post, “sinalizando que ninguém, por mais rico ou poderoso que seja, está acima da lei”. “Contudo, ela pode derrubar o político mais amado na história do país”, diz o jornal. 

O jornal americano lembra ainda que, na última quarta-feira, “em um confronto de gigantes”, Lula testemunhou a Moro por cinco horas, negando acusações de que teria recebido vantagens indevidas da OAS no caso do triplex no Guarujá. Do lado de fora, milhares de apoiantes de Lula e Moro aguardavam o resultado do depoimento em Curitiba. 

Moro vai ouvir agora os argumentos finais da defesa e da acusação antes de decidir. Porém, “mesmo que Lula não seja condenado, dizem os analistas, as investigações mancharam a sua reputação e deixaram seu partido em ruínas. Não está claro se ele pode reunir seu apoio restante para levá-lo para além das ‘primárias’ e para a presidência”.

“Sua credibilidade com a classe média foi severamente afetada ao longo dos anos por causa dos escândalos de corrupção”, disse Hernan Gomez, especialista em política latino-americana e autor de um livro sobre Lula. “Ele pode facilmente ganhar o primeiro turno, mas o segundo turno não será tão fácil”, conclui. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.