Grande teste para o governo Bolsonaro começará em breve – e polêmica no Twitter traz sinais negativos

Negociações para a reforma da Previdência começam para valer semana que vem; enquanto isso, polêmica sobre vídeo do Carnaval ofuscou debate e aumentou temores de que governo possa perder apoio no Congresso e na população para as reformas

Lara Rizério

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SÃO PAULO – A proposta do governo de Jair Bolsonaro para a Reforma da Previdência foi enviada ao Congresso no último dia 20 de fevereiro, mas o grande teste sobre a viabilidade dela acontecerá na próxima semana (por sinal, pós-Carnaval), ressalta a Eurasia Group. 

“O verdadeiro desafio para o governo de Jair Bolsonaro começará na semana de 11 de março, quando os congressistas retornarão a Brasília e as deliberações sobre a proposta de reforma previdenciária do governo começarão no Congresso”, apontam os analistas da consultoria de risco político.

Nas próximas semanas, será instalada a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) e, a partir daí, começa para valer a negociação em torno da Previdência. Conforme destacam os analistas políticos da Eurasia, o comitê é o primeiro passo para as deliberações da reforma, onde os membros avaliarão a constitucionalidade da proposta.

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“Embora grandes mudanças no projeto de lei na CCJ sejam improváveis, as emendas devem ocorrer em um comitê especial subsequente e o governo continuará seus esforços em vender a reforma para a população, além de negociar verbas e possíveis diluições no texto com os congressistas”, apontam os analistas políticos.

Vale ressaltar que, no final de fevereiro, Bolsonaro sinalizou que poderia fazer as primeiras diluições da proposta, como diminuir a idade de aposentadoria das mulheres de 62 para 60 anos e limitar as reduções nos benefícios para deficientes e trabalhadores pobres através do BPC (Benefício de Prestação Continuada).

De acordo com a consultoria, o recuo do presidente sobre a proposta poderia trazer efeitos benéficos ao reduzir as chances de que a reforma seja vista de forma negativa pelo eleitorado.

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“Mas esperamos que o governo encontre algumas dificuldades em março. Os líderes do partido continuam descontentes e, provavelmente, sinalizarão seu descontentamento pela imposição de perdas e obrigarão Bolsonaro a negociar mais com nomeações. A aprovação da reforma previdenciária é provável, mas o caminho para chegar lá será barulhento”, avalia a equipe da consultoria. 

Enquanto a próxima semana não chega, as polêmicas do governo Bolsonaro ganharam um novo capítulo na véspera após o tuíte do presidente pós-Carnaval. Na madrugada de quarta-feira, o presidente  publicou em seu perfil no Twitter um vídeo com cenas fortes de atos obscenos e escatológicos de um bloco de carnaval.

Os seguidores que consideraram as cenas fortes demais para serem postadas na rede iniciaram um movimento pedindo a exclusão do vídeo. A publicação gerou  forte repercussão nas redes sociais, um reduto do eleitorado de Bolsonaro. Mais de 24 horas após a postagem, os dois assuntos mais comentados do momento no Twitter, no ranking mundial, eram “#ImpeachmentBolsonaro” e “#BolsonaroTemRazão”, mostrando a polarização entre apoiadores e críticos do presidente. O perfil de Bolsonaro é seguido por quase 3,5 milhões de pessoas.

A repercussão internacional sobre o assunto também foi extensa. Conforme destaca a Bites, até o final da tarde da última quarta-feira, no total, a mídia de língua inglesa produziu 279 artigos sobre o presidente e o seu polêmico post enquanto que, em língua espanhola, foram 158 artigos publicados. 

Em meio a tanta repercussão, o presidente soltou na noite de ontem uma nota em que afirmou que não pretendia “criticar o Carnaval de forma genérica”.  “Não houve intenção de criticar o carnaval de forma genérica, mas sim caracterizar uma distorção clara do espírito momesco, que simboliza a descontração, a ironia, a crítica saudável e a criatividade da nossa maior e mais democrática festa popular”, diz texto divulgado pelo Palácio do Planalto.

Porém, a repercussão tão grande gerou efeitos dentro da base de apoio popular do presidente e no próprio governo. Conforme destaca o Valor Econômico, a postagem de Bolsonaro desagradou militares  no governo, que classificaram a divulgação do vídeo como um ato “desnecessário” e de “baixo nível”, enquanto a Folha de S. Paulo cita um monitoramento feito pelo próprio Planalto de que os tuítes desastrosos estão gerando desmobilização da tropa de choque de apoio ao presidente nas redes. 

De acordo com o monitoramento feito nas contas do governo e do próprio presidente, que as críticas não vêm só de oposicionistas, mas de pessoas que votaram em Bolsonaro por se identificarem com pautas conservadoras e especialmente por serem críticos aos governos do PT. 

Para membros do Centrão, nenhuma declaração de Bolsonaro será grave o suficiente para ensejar um pedido de impeachment, como chegou a ser cogitado, antes do desafio de mudar a Previdência, segundo informa o jornal O Estado de S. Paulo. No entanto, integrantes da cúpula do Parlamento avaliam que Bolsonaro está, aos poucos, minando sua credibilidade para liderar mudanças estruturais.

Conforme destaca Juliano Griebeler, diretor de relações governamentais da Barral M. Jorge, a atitude do presidente de gerar polêmica com temas que não estão na agenda e desviam o foco da pauta de reforma do governo não é positiva e pode, no médio prazo, ter impactos sobre a governabilidade e relacionamento com o Congresso.

“Para manter o apoio do seu eleitorado o presidente não pode descer do palanque eleitoral. Por isso, mantém o mesmo tom que utilizava durante a campanha. Entretanto, certa atitudes tem o efeito de afastar o eleitorado que não possui um identificação forte com o governo, como a polêmica recente”, avalia Griebeler. 

Assim, apesar de ser prematuro apontar os efeitos dessa última polêmica para a popularidade e a agenda do governo, o ocorrido durante a quarta-feira de Cinzas já é uma indicação de que o presidente terá que tomar mais cuidado para não diminuir a sua credibilidade – e, consequentemente, não prejudicar a agenda de reformas tão necessária para o País. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.