Graça perde cada vez mais força na Petrobras; mas mudança radical seria positiva?

Pressão aumenta para que Graça Foster perca o cargo de presidente da estatal; contudo, caso nome seja ligado a partidos políticos, o ambiente pode piorar

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Nos últimos dias, a pressão sobre a Petrobras (PETR3PETR4)aumentou cada dia mais, recaindo também sobre a ocupante do principal cargo da companhia: Maria das Graças da Silva Foster. 

De acordo com as últimas informações de diversos veículos de mídia, a própria presidente da Petrobras, Graça Foster, propôs à Dilma Rousseff a substituição dela e dos demais diretores. Segundo a Folha, Graça já deixou o seu cargo à disposição duas vezes. 

E, segundo a Agência Estado, a grande resistência do governo em substituir a presidência da Petrobras passa pela dificuldade de se encontrar um executivo com perfil de mercado e interessado em assumir a estatal. Uma das questões é de que o executivo não poderia ter vinculações políticas.

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Assim, a intenção seria substituir toda diretoria por um quadro menos político, e, deste modo, resgatar a credibilidade da companhia.

Neste meio, surgiu a possibilidade de se nomear o atual diretor Corporativo e de Serviços, José Eduardo Dutra, mas ele tem forte ligação com o PT. Ele foi presidente da estatal entre janeiro de 2003 e julho de 2005. “A cadeira parece estar à disposição, mas o nome para assumi-la ainda não”.   

Desta forma, o cenário que se desenha é o seguinte: há poucos quadros técnicos para assumir a companhia num cenário complicado e, com isso, ganham forças alguns nomes políticos, como Dutra e até mesmo o atual governador da Bahia (que está de saída) Jaques Wagner chegou a ser cogitado no final de outubro para o cargo, mas os rumores não se confirmaram. 

Mudar ou não mudar? Eis a questão…
Assim, a pergunta que fica no ar é: será que a saída da presidente Graça Foster trará bons frutos para a Petrobras? Há controvérsias sobre o assunto.

Cabe voltar um pouco atrás para traçar um panorama da direção da companhia. Graça Foster assumiu a Petrobras em fevereiro de 2012 e a sua ida ao cargo mais importante da companhia foi bem visto pelo mercado, já que se tratava de uma executiva com característica técnica e bem distante do perfil político.

Graça Foster buscou realizar planos para que a companhia realizasse uma gestão mais eficiente, cortando custos e vendendo ativos. Inclusive, a presidente da petrolífera defendia um aumento dos preços de combustíveis para aliviar o caixa da empresa, além de maior transparência sobre a metodologia de ajustes, mas acabou esbarrando no presidente do conselho de administração, o ministro da Fazenda Guido Mantega, e as limitações de aumento de preços em meio às preocupações com a inflação.

 Se o cenário já era complicado, os escândalos de corrupção envolvendo a estatal passaram a envolver a presidente da estatal – mesmo que não diretamente. O estopim se deu na semana passada, após a denúncia feita pelo jornal Valor Econômico, em que uma funcionária da estatal afirma que informou a presidente da empresa, Graça Foster, sobre desvios de recursos entre 2009 e 2012. Com isso, líderes da oposição pressionam pela demissão da presidente e dos demais integrantes da diretoria da companhia

O pedido aconteceu dois dias depois que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ter feito duras críticas à gestão da estatal petrolífera, sugerindo até a substituição da diretoria da empresa. 

Em meio a expectativas de que Graça e Dilma possam ceder às pressões e a atual presidente da estatal sair do cargo, muito se fala sobre o que pode vir pela frente. E, de acordo com o analista da Geral Investimentos, Carlos Müller, dependendo da decisão de Dilma, as ações da companhia podem ser afetadas ainda mais. Por outro lado, se houver um nome independente e forte, sem vinculação partidária, a notícia da mudança será positiva. Mas ainda é difícil dizer.

Müller aponta que, por enquanto, Dilma não quer abrir mão de Graça na presidência da Petrobras mas, caso ela saia, é possível que entre em cena um nome ligado ao mundo político, o que não seria nada positivo para os papéis da estatal.

“Neste cenário, não deve haver muitas mudanças na empresa, como no Plano de Negócios, seria mais do mesmo”. Esta perspectiva aumenta levando em conta também as denúncias que atingem a petroleira dia-a-dia e que envolvem cada vez mais funcionários de alto escalão da Petrobras nas investigações da Operação Lava Jato. Se Graça cair, um nome ligado ao PT, por exemplo, pode afetar ainda mais a credibilidade da estatal.

Já segundo analistas que não quiseram se identificar, “uma mudança radical na companhia poderia ser negativo para os esforços de gerar caixa, uma vez que deverá em seguida chegar a um novo plano para restaurar a imagem da empresa”.

Outro ponto potencialmente negativo, destacam os analistas, seria nomear um político com nome forte como CEO da empresa, uma vez que o mercado não receberia bem este nome. 

Por outro lado, aponta o analista da Gradual Investimentos, caso o escolhido para comandar a Petrobras seja alguém de perfil técnico será positivo para a empresa. Porém, no atual ambiente, e com poucos alto executivos “disponíveis” para o comando da empresa, não é esse o cenário-base. “Por enquanto, espera-se a manutenção de Graça; caso não, um quadro político é provável na estatal”, afirma.

Assim, em meio ao cenário bastante desafiador para a companhia, que enfrenta uma alta dívida e um escândalo de corrupção que devem durar por um período considerável, o novo nome (caso houver) terá que ser pensado com bastante cuidado, sob o risco de afetar ainda mais a já difícil situação da companhia. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.