“Governo Michel Temer é a única saída posta”, diz Renan Calheiros ao UOL

Em entrevista concedida ao jornalista Fernando Rodrigues, presidente do Senado diz não descartar saídas oferecidas por novas eleições presidenciais ou gerais e até uma mudança no sistema de governo, mas questiona a viabilidade

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Em um dos raros momentos em que concede entrevista exclusiva, o presidente do Senado, Renan Calheiros, deu uma de suas primeiras declarações assertivas em apoio ao governo do presidente interino Michel Temer, conhecido como adversário político dentro do PMDB. Ao jornalista Fernando Rodrigues, do UOL, o experiente parlamentar disse que o atual mandatário “é a única saída posta”, embora não descarte nenhuma possibilidade (novas eleições presidenciais ou gerais e até uma mudança no sistema de governo) para a saída da crise.

“Muita gente pode acenar [a possibilidade de novas eleições], mas quem garante reunir os 3/5 de votos para antecipar a eleição? Quem fará a sustentação de que encurtar mandatos não é cláusula pétrea? E o STF, o que dirá? Enfim, é um complicado xadrez político e institucional que tem como premissa um grande acordo nacional que preserve o interesse do país e que, óbvio, garanta a continuidade das investigações. Definitivamente, o Brasil não é para amadores”, disse Renan Calheiros. Na avaliação dele, há “desalinhos aqui e ali” cometidos por seu correligionário na montagem de governo e algumas conduções, mas nada que o condene. “É preciso ter compreensão com o quadro no qual esse governo assumiu e paciência quanto aos resultados”.

Na conversa com o jornalista, o senador ressalta sua posição favorável ao parlamentarismo, em detrimento ao atual sistema de governo, que, segundo ele, “é carcomido, facilitador de fraudes, de crimes e desestabilizador”. Do mesmo modo, ele defende a necessidade de reformas estruturais que preservem as conquistas sociais. “São agendas indispensáveis para o Brasil. O Brasil que vivemos ou vivíamos não cabe mais no PIB”, disse. Para o peemedebista, o Estado precisa dar o exemplo e enxugar sua estrutura “para valer”. Entre outros projetos defendidos pelo parlamentar como necessários estão o Pacto Federativo, o ICMS e uma mudança do Super Simples.

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Renan voltou a negar qualquer disponibilidade em indicar cargos para o governo enquanto comandar o Senado Federal, bem como afirmou não votar sobre o impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff. “Não estou grilando funções alheias, mas tenho me comportado como um magistrado nesse processo”, declarou. Para o senador, os prazos para que o direito de defesa da petista devem ser respeitados, a despeito dos esforços por encurtar o processo. Ele defende que, se o desejo for diminuir o tempo, que seja feito no tempo destinado à acusação e nos prazos para procedimentos burocráticos. Renan é um dos poucos políticos que mantém diálogo tanto com Dilma como com Temer. “Acho muito bom que, em meio a essa histeria, tenha alguém que converse com todos”, sustenta.

Quando questionado sobre sua repulsa à recondução de Rodrigo Janot para a procuradoria-geral da República, o senador defendeu que “parlamentar é eleito para ter opinião”, mas que isso não afetou na condução como presidente da casa. Sobre a Operação Lava Jato, ele declarou apoio, “mesmo que todas [as investigações] sejam baseadas em ‘ouvi dizer’ e interpretações subjetivas”, e com críticas ao que chamou de “vazamento seletivo”. Renan defende que “os erros da delação falsa, das acusações sem provas, das conduções coercitivas de quem não se recusa a depor precisam ser corrigidos”. Na entrevista, o presidente do Senado voltou a defender regras para o mecanismo da delação premiada — o que já havia feito inclusive em áudio de conversa com Sérgio Machado.

Sobre os inquéritos que responde, o senador disse que se coloca sempre à disposição de, quantas vezes for necessário, “afirmar e reafirmar inocência”. Questionado sobre algum receio de ser afastado do cargo pelo Supremo, o senador respondeu negativamente, argumentando ser o maior interessado pelas investigações e que prestou informações solicitadas e abriu seus sigilos. O parlamentar entendeu seu pedido de prisão, embora diga não ter tido acesso aos fundamentos que o embasaram, como desarrazoada e desproporcional, uma vez que ele não teria agido para obstruir a justiça. O senador lembra ainda que, caso algum pedido seja aprovado pelo Supremo, será necessário aval do Senado também, assim como o que ocorreu com Delcídio. Neste momento, o peemedebista conta com apoio de senadores da situação e oposição.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.