Gleisi diz que Campos Neto “insuflou” onda no mercado e trabalha para sabotar governo

Antes do Copom decidir reduzir o ritmo de cortes na Selic, presidente do PT citava Luis Stuhlberger e atacava o presidente do BC

Equipe InfoMoney

A presidente nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (Foto: Paulo Sérgio/Câmara dos Deputados)

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A presidente nacional do Partido dos Trabalhadores, deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR), acusou, nesta quarta-feira (8), o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, de “insuflar” uma “gritaria” no mercado para mudar o ritmo da política monetária em curso.

A mensagem foi publicada na rede social X (antigo Twitter) no início da tarde − portanto, antes da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de diminuir o ritmo do ciclo de cortes na taxa básica de juros, ao anunciar um corte de 0,25 ponto percentual da Selic, para 10,50% ao ano. Mas já apontava para uma mudança no tom do BC.

Na postagem, Gleisi fez uma referência a Luis Stuhlberger, CEO e CIO da gestora Verde Asset Management, que ontem (7) vocalizou o ceticismo de agentes econômicos com movimentos recentes do governo no plano fiscal. Em evento promovido pela própria gestora, em São Paulo, o executivo disse que a mudança da meta fiscal de 2025, apresentada pelo governo no Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) em abril, para déficit zero − e não mais um superávit de 0,5% do PIB − foi um ‘game changer’ para as expectativas em relação à atual administração.

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“Toda a gritaria do mercado sobre necessária revisão da meta fiscal, engrossada pelo diretor de investimentos da Verde Asset, visa a criar clima para o Copom reverter o movimento de queda da taxa Selic na reunião de hoje”, escreveu.

“Nunca pareceu tão evidente a contradição entre as necessidades do país e os interesses dessa gente. E foi Campos Neto, o presidente [do] Banco Central, quem insuflou essa onda. Quer aproveitar seus últimos meses de mandato para concluir sua obra de sabotagem ao Brasil e ao governo Lula”, concluiu.

Roberto Campos Neto tem mandato no comando do Banco Central até 31 de dezembro de 2024, quando poderá assumir um nome indicado por Lula. No mercado financeiro e no meio político, as apostas majoritárias são de que Gabriel Galípolo, atual atual diretor de Política Monetária da autarquia, seja o escolhido.

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Em tom bastante crítico ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Stuhlberger dissera, no evento da Verde Asset, que o novo marco fiscal virou uma “peça de ficção” e que agora o que ele achava que era “ruído” passaria a ser “sinal”. “Voltamos ao risco do fiscal e a grande facilidade para alterar o arcabouço colocou em xeque a sua credibilidade”, afirmou o executivo na ocasião.

A decisão do Copom desta quarta-feira (8) marcou uma divisão da diretoria do Banco Central, com os quatro indicados por Lula (Ailton de Aquino Santos, Gabriel Muricca Galípolo, Paulo Picchetti e Rodrigo Alves Teixeira) saindo derrotados na defesa pela manutenção do ciclo de cortes de 0,5 ponto percentual.

Votaram por uma redução mais modesta, de 0,25 p.p. da Selic, o presidente Roberto Campos Neto e os diretores Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Otávio Ribeiro Damaso e Renato Dias de Brito Gomes − todos indicados para os cargos durante o governo de Jair Bolsonaro (PL).

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Após o anúncio pelo Banco Central, Gleisi voltou às redes sociais para chamar de “crime” a decisão do Copom. “Não há fundamento econômico para isso e houve divergência de 4 diretores nessa decisão. A inflação está sob controle e em queda, o ambiente de investimentos melhora, os empregos também”, argumentou.

“O nome disso é sabotagem. Contra o desenvolvimento, contra o Brasil. Esta é a consequência da ‘autonomia’ do BC, que permitiu o prolongamento do mandato de uma direção bolsonarista, que faz política e oposição ao governo eleito pelo povo”, continuou.